O livro "A Senhora Clap e o mundo na palma das mãos" (editado pela Planeta), "sobre a arte de bater palmas em situações alegres ou tristes", vai ganhar nova vida em "O tratado da Senhora Clap", pelas mãos de um coletivo brasileiro.
A peça tem estreia no dia 03 de setembro, no Teatro Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, e, após a temporada de um mês, serão feitas mais representações dentro da megacidade brasileira e também noutros teatros do país, explicou à Lusa, por telefone, Cadu Cinelli, o diretor artístico do projeto, com dramaturgia de Francisco Abreu e a participação da pianista Elenise Bandeira de Mello, da atriz Clara Serejo e da cantora Livia Izar (que formam As Penélopes Cantadoras de Histórias).
Marta Duque Vaz vai estar presente na estreia. "Eu ainda não acredito muito bem no que está a acontecer. Fiquei incrédula com o convite", confessou, ao telefone com a Lusa, confirmando que a peça vai passar, pelo menos, por São Paulo e Curitiba.
Tudo começou quando a pianista Elenise Bandeira de Mello contactou a autora portuguesa através da página da Senhora Clap na rede social Facebook. Leu a história e "apaixonou-se completamente", vindo depois a Portugal com a intenção de avaliar a hipótese de a adaptar ao teatro, contou a escritora portuguesa.
"A narrativa, em si, da Senhora Clap não é uma história fechada. Deixei, de certa forma propositadamente, uma narrativa aberta, mas, mesmo assim, não dá para voltares atrás e dizer 'olhe, tive agora aqui uma ideia, vamos colocar isso'. No teatro não, o teatro é outra linguagem e é por isso que é extraordinário", disse.
No livro, a Senhora Clap vai ao teatro, porque Marta Duque Vaz quis homenagear essa arte. "Gosto muito de teatro, sempre gostei. Portanto, ver isto vertido para uma linguagem teatral, é uma satisfação imensa. Foi uma coisa boa que me aconteceu na vida, inesperada, absolutamente inesperada", descreveu.
O coletivo artístico brasileiro achou que a Senhora Clap merecia "um tratado" e atribuiu-lhe vários "discípulos" em matéria de aplausologia.
Os ensaios estão a correr "rápido e intenso", descreveu Cadu Cinelli. "Quando a Senhora Clap chega, de alguma forma, às nossas vidas, ela nos coloca numa urgência", descreveu.
"O livro tem uma delicadeza incrível", resumiu o diretor da peça, referindo que Marta Duque Vaz conseguiu "trazer à tona algo que está por trás das intenções desse hábito, que é o de aplaudir".
O diretor encontra uma metáfora para os dias de hoje. "A gente está vivendo um mundo tão controverso, de uma onda tão conservadora, que pode apagar, de certa forma, os reais motivos que a gente deveria aplaudir", observou.
"Acho que é mais do que fundamental repensar as nossas comoções pelo aplauso", acrescentou.
"São tempos estranhos que a gente vive", reconheceu, falando num "golpe da nova democracia" no Brasil e assumindo que o espetáculo "O tratado da Senhora Clap" é, de certa forma, uma reação ao "estado de política tão sombrio e temeroso" que hoje se vive no Brasil.
"Acho que a gente precisa se repensar enquanto artista, enquanto cidadão, enquanto ator político, e ver qual o nosso papel", sustentou.