Os dois investigadores afirmam que este livro pretende "desmentir o mito", segundo o qual "Fernando Pessoa é muitas vezes concebido como um ser fantasmagórico, que se isolava de todos para criar um universo interior em detrimento da vida exterior".
"As 'primeiras lições' deste livro são apenas isso: uma introdução a um universo em expansão, que tem o poder de renovar a nossa perceção", advertem os dois investigadores, para realçarem que o poeta foi "um criador de paradoxos, sendo difícil de encontrar uma página escrita por Pessoa sem alguma contradição".
Os autores acrescentam: "A quem quer que encontre este livro e deseje conhecer ou reconhecer Fernando Pessoa, avisamos: ele ainda pode mudar a sua vida!".
O autor de "Mensagem" (1934) é "múltiplo, não só por causa dos seus heterónimos, mas também pelos seus milhares de papéis", atestando Pitella e Pizarro que há "centenas de documentos do seu espólio [que] continuam inéditos", dando como exemplo a obra escrita em língua inglesa.
Todavia, Pessoa, que "reinventou a sua própria identidade", "é o mais famoso escritor português, ao mesmo tempo muito conhecido e muito desconhecido".
Entre outros assuntos nesta obra, com a chancela da Tinta-da-China, Fátima é um dos temas que o poeta aborda, num texto em que critica o turismo religioso e compara o fenómeno ao de Lourdes, nos Pirenéus franceses.
Pessoa refere-se a Nossa Senhora "como um dos brinquedos infinitos, que não se parte na corda".
"Seja como for, o facto é que há em Portugal um lugar que pode concorrer vantajosamente com Lourdes. Há curas maravilhosas a preços mais em conta; há peregrinações que dispensam o comboio", afirma Fernando Pessoa.
"O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja Fátima", prossegue o escritor, "tem tomado grande incremento, com manifesto êxtase místico da parte dos hotéis, estalagens e outro comércio desse jeito -- o que aliás, está plenamente de acordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo".