O Benfica consolidou, esta sexta-feira, a liderança isolada do campeonato nacional, ao vencer o Sporting, naquele que foi o primeiro dérbi do ano civil de 2020, por 2-0, uma vitória conseguida graças a um 'bis' de Rafa Silva, jogador lançado por Bruno Lage no decorrer da partida.
O resultado permitiu aos campeões nacionais em título dilatar para sete pontos a vantagem sobre o segundo classificado, o FC Porto, que, horas antes, perdeu na receção ao Sporting de Braga, por 1-2.
O treinador português Rui Almeida foi espectador atento do jogo 'cabeça de cartaz' da 17.ª jornada da I Liga e aceitou o desafio lançado pelo Desporto ao Minuto, analisando, ao detalhe, o que fez a diferença entre as duas equipas que se enfrentaram no estádio de Alvalade.
Opções iniciais
Sporting com duas alterações 'forçadas' (Camacho e Ilori) relativamente ao jogo com o FC Porto.
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Benfica com duas alterações estratégicas (André Almeida e Gabriel) em relação ao jogo com o Rio Ave, mantendo Weigl como 6.
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Com bola, os posicionamentos foram semelhantes. Foi nas dinâmicas e na forma como se deu primazia à chegada ao último terço que as diferenças se acentuaram: 2 médios, 2 extremos/médios em espaços interiores, um médio ofensivo com liberdade para movimentos verticais ou para criar superioridade nos corredores em combinações com o lateral e o extremo. Laterais projetados em organização ofensiva, dando largura e profundidade (laterais esquerdos de ambas as equipas com mais criatividade e capacidade para se envolverem também em espaços interiores).
Um jogo sem o brilhantismo de outros dérbis, com poucas oportunidades de golo para ambas as equipas, e com algumas dessas chances a chegarem de bolas paradas.
Posicionamento base do Sporting© Reprodução Sport TV
O Sporting com Camacho e Bolasie (a jogar mais por fora do que Pizzi e Cervi), Luiz Phellype e Bruno Fernandes (com liberdade para se movimentar como 3.º homem). Liberdade de Bruno Fernandes (imagem 8) no posicionamento inicial.
Posicionamento base do Benfica© Reprodução Sport TV
O Benfica com a presença interior de Chiquinho, Vinicius, Cervi e Pizzi nas costas dos médios adversários e ainda os laterais projetados em largura e profundidade (na imagem, a versatilidade normal da equipa do Benfica, no momento que Cervi está em posição mais baixa, Gabriel ocupa a sua posição).
Primeiros minutos mais fortes do Benfica, porquê?
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Bloco do Sporting mais baixo e compacto (extremos e Bruno em zonas que dificultam serem verticais), para impedirem jogo interior do Benfica, e quando a bola entrava no espaço exterior, os extremos e médios a fazer equilíbrios.
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Benfica com transição defensiva forte, a pressionar linhas de passe de referência para transição, e a obrigar o Sporting a arriscar jogar curto (algumas perdas nesse momento) ou longo para Luiz Phellype em 1x2 com o central do Benfica.
Sporting em organização a criar desequilíbrios nos corredores e chegar a cruzamento
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Dinâmica interessante com combinações extremo+lateral+Bruno Fernandes, este a criar o 3.º homem, e criar desequilíbrios e situações de 1x1 extremo/lateral adversário.
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Momentos em que o Sporting arrastou um dos centrais para o corredor e não houve equilíbrio de Weigl (se é essa a rotina?), havendo situação de 3x2 em zona de finalização (com a chegada de Luiz Phellype+Extremo +Bruno, este a chegar em 2º momento), sem eficácia por parte do Sporting.
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Bruno Fernandes a colocar-se numa posição longe do campo visual dos médios do Benfica, para mais tarde entrar em espaços interiores, fazendo como 3.º homem no meio campo: decidindo momento com bola ou fazendo movimentos verticais de 2.ª linha sem bola ou ainda chegando como 3.º homem também a situações de cruzamento (imagem 7).
À capacidade de aproveitar a profundidade, os maiores desequilíbrios em organização ofensiva surgiram pelos corredores e pela capacidade imaginativa de Bruno Fernandes, onde o Sporting apresentou uma dinâmica interessante com combinações extremo e lateral, e a criar desequilíbrios e situações de 1x1 extremo/lateral adversário. A equipa de Silas foi chegando a zonas de cruzamento e aí, a ganhar por vezes vantagem em zonas de finalização.
Benfica pressiona 1.ª fase do Sporting e tem dificuldades na gestão de profundidade
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© Reprodução Sport TVBenfica a pressionar (e bem) com muitos jogadores a 1.ª fase do Sporting, a ficar 2x2 na última linha com dificuldades a gerir a profundidade.
Benfica em organização a atrair aos corredores e chegar a espaços interiores
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Benfica a atrair ao corredor o Lateral+Extremo+Médio e jogar na diagonal interior de um dos médios ou do extremo.
Criação de triângulo Lateral–Extremo–Extremo (p.e., André – Pizzi – Chiquinho) a atrair o Sporting para o corredor, para depois penetrar em passe ou em drible na área, em espaço entre central e lateral do Sporting, estando por vezes longe a cobertura do médio.
Bolas paradas com mais eficácia poderiam ter sido a chave do dérbi
Canto - Cabeceamento de Gabriel© Reprodução Sport TV
Livre lateral - André Almeida© Reprodução Sport TV
Livre lateral - André Almeida© Reprodução Sport TV
Livre lateral - Tiago Ilori© Reprodução Sport TV
Weigl
Competente em todas as situações, compreende o espaço e timings defensivos (versatilidade dada pela maturidade em jogar em duas posições diferentes, central e médio-defensivo): pela ocupação do espaço, capacidade de recuperação passes adversários, mas sobretudo pela qualidade do passe. Forte na construção, capacidade de decidir com poucos toques e verticalizar o passe (imagem 17), mesmo perante estruturas organizadas.
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Substituições - Rafa, inevitavelmente, a chave do jogo e do dérbi
Dois remates, duas finalizações. Elevou claramente a capacidade de finalização da equipa. Fui seu treinador em Braga, e cedo demonstrava qualidades de topo que exponenciou: “criar algo de nada”, p.e., receber e sair de espaços pequenos sob pressão e acelerar; desequilibrar/driblar em progressão; capacidade de finalização e versatilidade tática: extremo ou médio em 4-3-3 ou 4-4-2, 2.º avançado em 4-4-2 (e outros dada a sua versatilidade).
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Rafa em zonas de difícil marcação (espaços nas costas dos médios e longe da marcação dos defesas)© Reprodução Sport TV
Apontamentos
- Sendo a força do Benfica a sua capacidade de construção a partir de trás, era esperado um Sporting pressionante sobre a construção do Benfica, conseguindo, nomeadamente, até aos 60 minutos, obrigando por vezes a ligar direto com Vinícius. O Benfica forçou menos do que o habitual, não perdendo bolas na sua 1ª fase (algo que podia ter sido fatal para o Sporting, com perdas na sua 1ª fase – imagem 21).
Grimaldo a saltar a pressão de sete jogadores do Sporting e alongar no movimento vertical de Vinícius© Reprodução Sport TV
Ilori opta por entrar em progressão face à pressão de seis jogadores do Benfica. Cervi a pressionar de fora para dentro e a 'convidar' Ilori a progredir com bola© Reprodução Sport TV
- Em Ataque Posicional, igual a si mesmo, o Benfica procurou construir desde trás e ligar com a qualidade e posicionamentos habituais perante um Sporting pressionante.
- Ambas as equipas, a variar a construção em 3+1 ou 2+2, com alternância na saída de bola por jogo exterior ou interior. Ambas com a preocupação de controlar bem a entrada da bola nas costas da 1.ª linha de pressão.
- Personalidade, competência e realismo qb, demonstrada pela equipa de Lage, avançando para números fantásticos (17J /16V /1D e 42/6 em golos!).
[Notícia atualizada às 10h30]