Em entrevista à agência Lusa, Delmino Pereira reconheceu não poder aceitar ter autorização da Direção-Geral da Saúde (DGS) para a prova rainha do calendário velocipédico nacional, agora agendada entre 27 de setembro e 05 de outubro, e esta não acontecer, argumentando, contudo, que só será possível organizar a Volta a Portugal se houver um equilíbrio entre o desejo de salvaguardar o futuro profissional do pelotão e o de proteger a saúde dos ciclistas e da população em geral.
"Vejo que, efetivamente, não temos risco reduzido a zero, mas temos o risco bastante controlado. E a Volta a Portugal nesta altura do ano será um evento controlado, até porque vamos ter a experiência de outras provas que, entretanto, recomeçaram e, portanto, com certeza, teremos o processo mais aperfeiçoado, e será uma boa operação para os municípios, para as regiões", sustentou.
Notando que "todos nós, no nosso dia-a-dia", estamos a correr o risco de ser infetados pelo novo coronavírus, seja nos empregos ou na vida quotidiana, o presidente da FPC defendeu o direito ao trabalho dos corredores, que demonstram "uma coragem e uma disponibilidade" para regressar à estrada.
"A crueldade desta doença é esta: de um momento para o outro, tudo pode mudar. É preciso perceber isto. Todos nós temos de ter humildade: temos de fazer tudo ao nosso alcance para que corra bem, mas a verdade é que de um momento para o outro tudo pode correr mal", ressalvou, ao admitir que o pelotão ficou abalado pelo adiamento do Troféu Joaquim Agostinho, apenas quatro dias antes do arranque, devido a um caso positivo de covid-19 entre a organização da prova.
Embora confesse temer "tudo", inclusive um cenário semelhante ao vivido na Volta aos Emirados Árabes Unidos, cancelada a duas etapas do final, devido a casos de covid-19, Delmino Pereira acredita que, dado o plano desenhado pela FPC e 'carimbado' pela DGS, essa eventualidade está "minimamente salvaguardada".
"Estão a ser tomadas medidas para que uma situação a essa dimensão não aconteça", completou, esclarecendo que, caso haja um caso de infeção entre os ciclistas participantes na Volta a Portugal, dificilmente a corrida será suspensa.
"Tem muita a ver com a convivência onde os atletas estão incluídos, principalmente nas equipas. Isto será sempre também uma decisão de entidade local de saúde e da DGS, mas, à partida, todo este rasto de contágio fica muito direcionado no próprio grupo e na própria equipa. À partida, a situação está a seguir um protocolo que não é de propagação no pelotão, mas dentro do próprio grupo", indicou.
De acordo com o plano de contingência para a realização da Volta a Portugal, os ciclistas terão de ser monitorizados pelas equipas médicas, com distanciamento físico assegurado e a não existência de concentrações superiores a 20 pessoas, além de outras medidas, como o estabelecimento de coortes [bolhas, de forma a estarem separadas] para cada equipa, sendo que o pelotão não deverá partilhar hotéis.
"As equipas são as primeiras a ter um comportamento irrepreensível, ao nível de evitar os contágios, e, portanto, esta questão, neste momento, é um risco que vamos ter de correr, sendo que será, claramente, um risco controlado", reiterou o dirigente federativo.
A 82.ª Volta a Portugal em bicicleta, que estava prevista entre 29 de julho e 09 de agosto, foi adiada em 25 de junho, depois de várias autarquias terem manifestado não estarem disponíveis para acolher a passagem da caravana em plena pandemia de covid-19.
Perante as dificuldades do organizador, a Podium, em realizar a corrida, a FPC "assumiu a responsabilidade de colocar o evento na estrada" e anunciou estar "a trabalhar para que a Volta a Portugal possa realizar-se entre 27 de setembro e 05 de outubro".