O próximo jogo de Portugal no Euro'2020 é frente à seleção número um do ranking FIFA, a Bélgica. Depois da fase de grupos, agora quem perder é eliminado e, por isso, todos os cuidados agora são máximos para poder seguir em frente e sonhar, no nosso caso, com a revalidação do título conquistado em 2016.
O Desporto ao Minuto quis perspetivar este verdadeiro grande duelo dos oitavos-de-final do Europeu e procurou ajuda de alguém que viveu e respirou o futebol belga nos últimos anos: Orlando Sá.
O antigo avançado do Standard Liège, que marcou 31 golos em 88 jogos realizados na Liga belga, ajudou-nos a traçar o perfil da seleção da Bélgica e analisou os pontos mais fortes da equipa orientada por Roberto Martínez. No entanto, Orlando Sá, que classifica Lukaku como o maior perigo dos belgas, não tem dúvidas: a nossa maior arma tem de ser acreditar no nosso valor.
Olhando à época e ao momento de forma, o Palhinha e o Renato Sanches seriam, sem dúvida, duas das minhas escolhas para este jogoPara começar, quais são os maiores perigos desta seleção belga?
No cômputo geral é uma seleção forte, que nos últimos anos evoluiu muito em termos de formação. Os jogadores vão muito cedo para alguns dos melhores clubes da Europa e penso que neste momento os belgas podem orgulhar-se por dizer que têm quatro ou cinco jogadores no top20 do mundo. Estamos a falar de um dos melhores guarda-redes do mundo, o Courtois, um médio que deve estar no top3 do mundo, o De Bruyne, o Lukaku, que também é dos melhores do mundo… O Hazard é muito inconstante, mas pode seguir um jogo a qualquer momento. Principalmente no ataque, a Bélgica é uma seleção que se estiver num dia sim poderá marcar golos e combater contra qualquer equipa que tenha pela frente. A parte menos boa da seleção belga é a defesa, que apesar de não ter debilidades notórias, tem ali algumas falhas.
A Bélgica é uma das seleções mais poderosas no que aos jogadores de ataque diz respeito. O que deve fazer Portugal para neutralizar nomes como Lukaku, De Bruyne ou Hazard?
Primeiro de tudo, temos que nos assumir como campeões da Europa. Temos de perceber as nossas qualidades e defeitos, e perceber que a Bélgica tem armas que podem decidir um jogo. Mas se tivermos bola, como aconteceu na 2.ª parte com a França, acho que vamos estar mais perto de passar esta eliminatória.
Com jogadores muito velozes, a Bélgica opta muito pela exploração da profundidade. É um dos principais cuidados que Portugal deve ter em termos defensivos?
O Lukaku, tal como o Mbappé, são jogadores que procuram muito a profundidade. Penso que nesse aspeto tivemos muito bem com a França. A Bélgica também tem o Carrasco e o Mertens, que são jogadores que procuram a profundidade e os momentos de rutura. O Eden Hazard já não explora tanto isso, porque gosta mais da bola no pé, de transitar com a bola, mas acho que nesse aspeto a nossa seleção tem dois centrais que estão muito habituados a este tipo de jogadores. Se passarmos esta eliminatória dificilmente apanharemos um avançado que coloque tantas dificuldades como o Lukaku pode colocar no domingo.
Roberto Martínez utiliza normalmente um esquema tático com três centrais. Um 3x4x3 utilizado também pela Alemanha, um jogo onde Portugal não se deu bem. Achas que esta deve também ser uma preocupação especial para Fernando Santos?
Sou apologista que desde o momento em que sabemos o que queremos e acreditamos na nossa qualidade, nos devemos preocupar, sim, em preparar a nossa equipa consoante a disponibilidade física e mental dos nossos jogadores. Mas temos de preparar a equipa em função das nossas ideias, do nosso plano de jogo, e nunca preparamos uma tática a pensar no adversário. Sempre tive esta opinião. É preciso assumirmos que somos Portugal, campeões da Europa, independentemente do adversário.
Muito se tem falado no onze inicial de Portugal, em especial nos elementos do meio-campo. A teu ver quem seria os jogadores que deveriam começar de início neste encontro dos oitavos de final?
Apenas posso dizer quem é que eu gostaria que começasse, porque melhor do que ninguém o selecionador é que saberá quem são os melhores jogadores para nos ajudarem a passar esta eliminatória. Olhando à época e ao momento de forma, o Palhinha e o Renato Sanches seriam, sem dúvida, duas das minhas escolhas.
Orlando Sá jogou na Bélgica durante três anos e meio, sempre ao serviço do Standard Liège, onde marcou 31 golos num total de 88 jogos© Getty Images
Apenas dois dos 26 eleitos por Roberto Martínez jogam na Liga belga. Isto é um sinal de que o campeonato da Bélgica também não consegue reter o seu talento, à imagem do que acontece em Portugal?
Conheço bem as academias que existem na Bélgica. Estão muito bem preparadas, com ótimos profissionais, com as condições ótimas para os jogadores crescerem. Há uma grande diferença comparando com há 10 ou 8 anos atrás. Para as pessoas que não sabem, a Bélgica tem academias iguais ou até melhores do que as nossas. Daí ter a possibilidade de formar a competir, e ter a possibilidade desde muito cedo ter jogadores num nível alto e que grandes clubes europeus veham à Bélgica contratar jogadores.
Olhando para os últimos jogos desta seleção belga, quem acreditas que pode ser o grande desequilibrador frente a Portugal?
O Lukaku, sem dúvida! Pelas épocas que tem feito, pela confiança que está a demonstrar este Europeu, pela forma como encara os jogos. Está a marcar golos atrás de golos e é um jogador que se nota que está com ‘fome’, como se costuma dizer.
E na nossa perspetiva, quem acreditas que pode fazer a diferença?
Nós temos vários jogadores que podem fazer a diferença… Temos o melhor do mundo, o Ronaldo, excelente finalizador e reconhecido em todo o mundo, mas gostava que fosse o Pepe a decidir este ou outro jogo. Quero é ganhar o jogo, nem que seja no último minuto com um golo com a mão. Mas seria uma cereja no topo de uma carreira como a do Pepe que, com 38 anos, continua a este nível. Ficaria contente por ver o Pepe a marcar o golo da vitória. No entanto, repito, quero é ganhar o jogo.