Sexta-feira é dia de novo Clássico no futebol português. FC Porto e Sporting confrontam-se na Cidade Invicta, num jogo que pode ditar muita coisa sobre a corrida ao título de campeão nacional 2020/21.
No canto dos da casa, está um dragão a todo o gás, que não perde há meses no seu ninho e que vai procurar vencer o terceiro jogo grande da época. No canto oposto do ringue, está um leão que vai ganhando ferocidade com o passar das jornadas, mas que não leva a pedalada do adversário, estando a seis pontos de o apanhar.
O Desporto ao Minuto falou com dois antigos jogadores que entraram em campo para jogarem este Clássico do futebol português. Do lado do FC Porto, Domingos Paciência, que vestiu as cores azuis e brancas de 1987 a 1997 e de 1999 a 2001, e do lado do Sporting, Litos, que representou os leões entre 1984 e 1992. O antigo avançado dos dragões confessou que são jogos destes que fazem os jogadores quererem ir para campo e fazer história.
"É dos momentos altos que um jogador pode ter, porque são jogos que ficam para a história do futebol, e um jogador gosta de ficar ligado à história desses jogos. Por isso é que hoje, quando esses jogos acontecem, procura-se sempre recordar este confronto junto daqueles que foram influentes", começou por dizer Domingos Paciência.
[Domingos Paciência venceu 14 dos 26 jogos que disputou frente ao Sporting]© FC Porto
Por sua vez, Litos recordou o grande duelo da década de 80, dentro e fora das quatro linhas, entre os dois emblemas.
"Nos anos 80, existiu de facto um Sporting que, com a presidência do falecido João Rocha, andava sempre muito próximo de conquistar títulos, pelo que havia a rivalidade, não só com o Benfica, mas também muita com o FC Porto, já que tinha existido um 'raptar' de jogadores de um clube para o outro. Havia sempre essa animosidade por parte das duas equipas. Mas eram sempre clássicos extremamente difíceis, num Estádio das Antas com ambientes muito agressivos em relação àquilo que era a equipa do Sporting. Eram jogos sempre jogos muito importantes, muito pelo que representavam na luta pelo primeiro lugar do campeonato. O FC Porto, nessa década, passou a ter a hegemonia do futebol português, começou a ter grandes equipas, por isso, eram sempre jogos difíceis", disse o antigo jogador do Sporting.
A chuva de pedras nas Antas em 1987
Ao olhar para o passado, Litos trouxe para cima da mesa as memórias do Clássico que ainda tem bem presentes.
"Por ter sido a minha estreia no futebol profissional, ainda com 17 anos, o empate a zeros em 1984/85, num fim de tarde e princípio de noite extremamente chuvoso, com campo completamente enlameado, fica marcado. Mas a meia-final da Taça de Portugal de 1986/87, quando o treinador era Burkinshaw, fica para a história. Conseguimos ganhar com um golo do Mário Marques no Estádio das Antas e, depois do jogo, foi difícil sair do estádio com o autocarro completamente partido, com os jogadores a tentarem proteger-se. Foi, de facto, um ambiente muito difícil para nós depois de termos chegado à final da prova", contou.
Voltando ao presente, Domingos Paciência vê a tarefa de preparar o jogo mais fácil para o lado dos dragões, mas acredita que o Sporting também terá algo a dizer dentro do campo.
"É evidente que há sempre um aspeto psicológico num jogo destes em função daquilo que têm sido os últimos tempos das duas equipas e também a posição na classificação. Por muito que se não queira, isso tem sempre influência. Portanto, é tentar, no fundo, gerir bem essa situação. É natural que, neste momento, o FC Porto esteja a gerir melhor pela margem que tem, mas são duas equipas que, neste momento, praticam o melhor futebol em Portugal. Por isso, é natural que haja confiança de parte a parte", acredita o ex-jogador dos dragões.
Por outro lado, Litos reconhece que a preparação de um jogo destes não é igual à que se fazia antigamente
"Hoje, a preparação dos jogos é diferente. Há maior informação sobre os adversários, por aquilo que é o scouting e o departamento de análise das equipas, que trabalham muito esses aspetos. Depois, prepara-se de outra forma pela importância deste jogo, pela diferença pontual".
[Litos chegou a usar a braçadeira de capitão do Sporting na época 1991/92]© Facebook Litos
A expectativa para este Clássico indica que haverá grande equilíbrio entre as duas equipas. Domingos Paciência prevê um ligeiro favoritismo para o FC Porto, mas recorda que, em Clássicos, tudo pode mudar.
"Em função daquilo que têm feito, prevê-se um jogo muito equilibrado. Contudo, o Sporting tem mostrado, em determinados momentos, algumas dificuldades em conseguir impor o seu jogo. Mas isso é tudo relativo porque, no fundo, trata-se de um jogo no qual tudo pode ser diferente, e os treinadores vão procurar jogar com a melhor estratégia e também com o momento", acredita.
Do outro lado, Litos também deu conta do 'favoritismo' dos dragões, atribuiu grande importância ao jogo para as contas do campeonato, mas relembrou que o objetivo singelo de chegar à Liga dos Campeões e ter retorno financeiro, não havendo o comprometimento de uma renovação do título, poderá retirar pressão aos jogadores na hora de entrar em campo.
"Acredito perfeitamente que, por aquilo que é o poder do FC Porto, em caso de vitória, os nove pontos que ganha de diferença serão difíceis de recuperar pelo Sporting para ser de novo campeão. Agora, por aquilo que é o projeto e pelo que Rúben Amorim tem falado, faz parte da ideia também chegar a esse segundo lugar e entrar na Liga dos Campeões. Eu, como sportinguista, gostava de ver o Sporting bicampeão, mas, se não conseguir, que alcance pelo menos esse segundo lugar. Isso seria importante para o tal projeto do Sporting, que passa por entrar na Liga dos Campeões e, com o dinheiro que pode encaixar, segurar a maior parte dos jogadores para uma nova época, reforçando a equipa para esses objetivos de campeão serem mais possíveis".
Clássico decisivo?
Domingos Paciência também reconheceu que ganhar poderá deixar uma das equipas mais próxima do grande objetivo, mas acredita que ainda há muito em jogo para se poder dar a matemática da classificação como fechada.
"É evidente que quem ganhar ficará com uns melhores níveis de confiança. O FC Porto tem consciência de que, se ganhar, são nove pontos a mais. Já o Sporting, sabe que este jogo passa muito pelo encurtamento de distâncias e é natural que o resultado mais desagradável para o Sporting seria a derrota, mas são jogos difíceis de prever em função do momento que as duas equipas atravessam", disse o ex-dragão.
Já Litos, confessou que acredita que existem hipótese para os leões recuperarem, mesmo que o Clássico caia para o lado dos azuis e brancos. Contudo, a corrida ao título fica mais complicada para os de Alvalade.
"Nesta altura, o FC Porto é a equipa mais próxima do título, muito pela vantagem pontual. Agora, se o Sporting reduzir a desvantagem para três pontos, terá todas as condições para chegar ao título. Mesmo perdendo, esses nove pontos ainda podem ser possíveis de alcançar pelo Sporting, mas, neste momento, por aquilo que tem sido a época do FC Porto, uma equipa mais regular, que tem perdido menos pontos, é o principal candidato a vencer o campeonato", afirmou.
Com muita ou pouca decisão, prevê-se um Clássico animado. O FC Porto-Sporting da 22.ª jornada joga-se nesta sexta-feira a partir das 20h15 (hora de Portugal Continental).
Leia Também: Melhor momento de Sarabia 'obriga' Edwards a dar ao pedal