A guerra na Ucrânia continua a marcar a atualidade em todo o mundo, isto depois de duas semanas de intensos conflitos armados. Os relatos que têm chegado ao mundo vêm, na sua maioria, de lado ucraniano, todos reveladores de grande instabilidade, sobretudo emocional, do povo da Ucrânia. Do lado russo, apesar de poucos depoimentos, os que se tornam públicos revelam tranquilidade e naturalidade no país que decidiu iniciar uma guerra.
Em conversa com o Desporto ao Minuto, Miguel Cardoso, jogador português que joga hoje no Kayserispor da Turquia, contou aquilo que viu no período em que viveu na Rússia entre 2018 e 2020. O atleta de 27 anos confessou que nada fazia prever este desfecho nas relações entre os dois países.
"Enquanto estive na Rússia, não se fala nada sobre isto. Tanto na Rússia como na Ucrânia, as famílias são muito misturadas, as famílias russas têm muitos ucranianos e vice-versa. São povos praticamente irmãos e nunca pensei que isto fosse acontecer desta forma. Pensei que as coisas se fossem resolver, mas não desta maneira, com guerra. Eles são muito amigos e de certeza absoluta que o povo em si, tanto o russo como o ucraniano, não queria que as coisas chegassem a este ponto, mas há coisas que não se controlam como, por exemplo, o presidente russo [Vladimir Putin]", começou por dizer.
Apesar de ter saído da Rússia no verão de 2021, Miguel Cardoso mantém contacto com antigos colegas. Em conversa com os mesmos, o jogador português percebe que é complicado arrancar, em certos casos, uma opinião sensata sobre a guerra.
"Como não estou lá, não sei ao certo a informação que estão a passar na Rússia sobre tudo isto, mas a verdade é que, quando falo com alguém sobre isto, eles tendem a resguardar-se muito. Já falei com alguns estrangeiros que estão a jogar no Dinamo Moscovo, alguns com quem trabalhei, perguntei como está a situação por lá e eles dizem-me que na Rússia está tudo normal, que fazem a vida normal e que nada se passa, mas, obviamente, é uma situação que ninguém queria e não se sabe o que vai acontecer daqui para a frente", disse.
Já são conhecidos vários casos de jogadores e treinadores que pediram para deixar os clubes russos nos quais prestavam serviços. Miguel Cardoso admitiu que nenhum dos antigos colegas com quem fala lhe deu a entender que pretende sair, mas relembrou que o fim da temporada poderá ser uma oportunidade para deixarem a Rússia.
"Daqueles com quem falei, ninguém está a pensar sair para já. Também estão a dois meses de acabar a época, não sei se, depois de acabarem a temporada, têm esse objetivo [de sair]. O que é certo é que eles continuam por lá e as coisas parecem normais para todos os aspetos", concluiu.
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