"Sporting? Passou a correr. O objetivo era ficar o maior tempo possível"
Depois de representar o Benfica na formação, João Virgínia vestiu a camisola do Sporting enquanto sénior. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, admitiu que queria seguir em Alvalade, mas confessou estar feliz nos Países Baixos, onde representa o Cambuur. A aventura por uma realidade diferente tem ajudado no crescimento do jogador de 22 anos, que, individualmente, leva uma época impressionante.
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Desporto Exclusivo
A baliza do Sporting sofreu alterações no último verão. A continuidade de Adán era importante para a estabilidade da equipa, mas a permanência de João Virgínia acabou por ser impossível.
Depois de uma temporada cedido pelo Everton, o jovem guardião teve de deixar Alvalade para rumar a outras paragens. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, João Virgínia analisou esse ano no qual se estreou na tão desejada Liga dos Campeões.
A experiência de entrar no balneário do Sporting enquanto sénior, anos depois de ter deixado a formação do rival Benfica, revelou-se enriquecedora, mas não pôde ser repetida nesta época. Por questões que, garante, nada têm a ver com o próprio, deixou os leões e mudou-se para o Cambuur, nos Países Baixos.
No atual 14.º colocado da Eredivisie, é, pela primeira vez na carreira, totalista na época, com nove jogos completados. Soma ainda três jogos sem sofrer golos, um deles na primeira vitória de sempre do Cambuur frente ao PSV. A exibição de João Virgínia valeu-lhe o prémio de melhor em campo, além de três nomeações para o melhor jogador da equipa e a presença no onze da jornada da Liga.
Não podia estar a dizer que não ao Sporting, ao campeão nacionalChegando ao Sporting, o João entrou num plantel que tinha acabado de ser campeão nacional e numa realidade competitiva que exigia muito mais aos jogadores. Sentia-se preparado para dar esse salto para o Sporting e ter a exigência de dar mais do que já tinha dado?
No pico da pandemia de Covid-19, tive a oportunidade de me estrear na equipa principal do Everton. Fiz bons jogos, principalmente um contra o Manchester City na Taça da Liga Inglesa. Quando a época acabou, senti que podia ter tido mais oportunidades, há sempre esse sentimento no jogador, quer é jogar. Estava à procura de um empréstimo, o clube também queria que eu ganhasse experiência, e sem dúvida que o melhor clube que apareceu foi o Sporting. Não podia estar a dizer que não ao Sporting, ao campeão nacional, com a oportunidade de trabalhar com o mister [Jorge] Vital, de quem já tinha ouvido falar muito bem. Ir para um grande clube e lutar pela titularidade foi o passo certo.
O regressar a casa, a Portugal, foi importante para essa decisão?
Eu estava nas seleções jovens, mas sentia que as pessoas não me conheciam tão bem. Então, foi bom ir para um grande clube. Um dos meus objetivos é chegar à seleção e ir para o Sporting foi o passo certo nessa direção.
João Virgínia jogou em oito jogos do Sporting na época 2021/22© Getty Images
Passando pela formação do Benfica, dar um salto para o rival não lhe causou qualquer dúvida?
Não, não tive dúvidas. Foi, sinceramente, a decisão certa a tomar. Senti que correu muito bem e que foi o passo certo.
Que plantel encontrou quando chegou ao Sporting?
Senti uma grande energia positiva da equipa técnica e dos jogadores, um ambiente de trabalho dos melhores que já encontrei, vários jogadores jovens, uma equipa que gosta muito de jogar futebol, um treinador que tem boas ideias. Foi um ano que passou muito rápido e a luta pelo título foi importante para mim. Toda a gente que passou pelo Sporting nos últimos dois anos diz o mesmo.
Para um jovem como o João, é mais fácil integrar um plantel da mesma geração ou um plantel com maior experiência?
Para um jogador jovem, entrar num plantel jovem é mais fácil. Mas, pessoalmente, defendo que os planteís devem ter um 'mix' entre juventude e experiência. Assim, a experiência e a energia estão sempre ao mais alto nível.
Apesar do resultado final, que sentimento lhe causou o primeiro jogo na Liga dos Campeões, num Ajax-Sporting?
Foi um orgulho enorme. Jogar na Liga dos Campeões é o objetivo de qualquer jogador do mundo. Chegar a essa prova é chegar ao patamar mais alto do futebol e foi espetacular. Foi pena o estádio não estar cheio, é um grande estádio, joguei lá há uns dias e os adeptos do Ajax enchem as bancadas. No fundo, foi um bom jogo, foi pena o resultado [derrota do Sporting por 4-2].
Derrotas na Liga dos Campeões contra o Ajax? Não nos abalaram
Mesmo com a qualificação, foi uma fase de grupos complicada. Sentiu que, em qualquer momento, os resultados, especialmente os dois obtidos contra o Ajax, abalaram a equipa?
Não, não achei que tenhamos ficado abalados. Sabíamos do nosso trajeto, sabíamos da qualidade do Ajax, eram uma das equipas da Europa a praticar melhor futebol e nós estávamos a jogar bem na I Liga, estávamos bem e não fomos abaixo.
Por que é que o ano no Sporting "passou a correr"? A passagem pelo clube devia ter durado mais tempo?
Eu fui para o Sporting emprestado por uma época. O ano passou rápido porque eu estava feliz. Claro que queria ter jogado mais, mas sei que tinha um guarda-redes experiente à frente e tinha de esperar pela oportunidade. Nos jogos que fiz, estive sempre à altura, joguei na Taça de Portugal, Taça da Liga, Liga dos Campeões, I Liga. Foi rápido, mas estive sempre a 100% até ao final.
Falou-se no verão que o João podia continuar no Sporting. Queria isso ou percebeu que a aventura era de uma temporada e tinha de partir para outra aventura?
O meu objetivo era estar no Sporting o maior tempo possível, coisa que não aconteceu no final da época por negociações que não têm nada a ver comigo. Mas senti que tinha de embarcar num caminho novo para mim, estar uma inteira como titular e acabou por aparecer a vaga no Cambuur. Foi outro passo certo. Não continuei no Sporting nesta fase, mas, no futuro, mesmo uma passagem por Portugal. Quem sabe...
Abriria essa porta sem qualquer hesitação?
Sim, eu saí do Sporting, como de qualquer outro clube, de portas abertas.
No Cambuur, saí da minha zona de conforto para uma realidade diferente e estou a crescer com isso
O Cambuur é uma nova realidade. É o terceiro país onde vive e joga. No entanto, houve mais alguma oportunidade que tenha feito pensar?
No verão, tive de pensar bem no que queria. Tive várias oportunidades, tanto em Portugal como em Inglaterra. Depois de pensar, decidi que os Países Baixos seriam o melhor para mim, por causa do futebol, da equipa, do tipo de jogo, do ambiente, do treinador. Depois de ter passado uma época a treinar muito bem num dos maiores clubes portugueses, achei que seria o momento ideal para entrar no ritmo de jogo que a minha idade já está a pedir.
O que espera até ao final da Eredivisie ao serviço do Cambuur?
Prever a época é muito complicado. O Cambuur é um clube modesto, mais pequeno na Liga, o objetivo passa pela manutenção. Depois queremos olhar para o nono lugar e pensar em ficar mais acima. Mas temos de olhar jogo a jogo, é um de cada vez, tal como aprendi no ano passado no Sporting. Claramente que, com a quantidade de jogos que vou jogando, vou continuar a evoluir.
Aos 22 anos, João Virgínia joga no Cambuur, dos Países Baixos © Cambuur
Como tem sido a adaptação ao clube?
Tem sido boa, estou a adaptar-me à equipa, aos colegas, é um grupo jovem que ajuda mais na integração. Aqui, toda a gente fala inglês, eu já estou a aprender neerlandês, tenho aulas todas as semanas, e é engraçado porque eles andam de bicicleta para todo o lado. Eu e a minha namorada, que também está aqui comigo, também temos aqui umas bicicletas, vivemos perto do centro da cidade, há restaurantes, há esplanadas, coisas que não veem tanto em Inglaterra. Estou a gostar de cá estar.
O mergulhar na cultura neerlandesa era importante para se sentir à vontade nesse novo espaço?
São fatores que ajudam, certamente. No dia-a-dia, dentro do clube, também é importante olharem para mim e verem a minha experiência, que já estive em grande clubes, o que é bom para integrarem-me. Saí da minha zona de conforto para uma realidade diferente e estou a crescer com isso.
Claramente, a seleção A é um dos meus maiores objetivos
Está a atravessar a primeira sequência como titular enquanto sénior. É importante depois de tanta época e tanto clube representado.
Vir para a Eredivisie, que é uma muito boa Liga, e vir para jogar a titular e ter uma boa sequência de jogos era aquilo que precisava e está a correr tudo bem.
O que significa para o Cambuur vencer o PSV logo por 3-0?
Só para se ver em números, o Cambuur nunca tinha ganho ao PSV. Foi a primeira vez na história do clube que isso aconteceu. Foi uma festa enorme no estádio e acho que nos deu confiança para o resto do campeonato. Vínhamos de uma sequência de derrota e vencer ao primeiro colocado foi incrível. Vai ser um dos jogos que nunca vou esquecer pela dificuldade e pela surpresa, porque ninguém estava à espera.
Depois dessa vitória, o Cambuur será capaz de se bater contra outros grandes da Eredivisie?
Sinto que a minha equipa joga muito bom futebol, troca bem a bola. O próprio futebol neerlandês é muito aberto, o resultado pode cair para qualquer lado. Se a equipa mantiver o mesmo jogo, a mesma concentração, vamos conseguir mais resultados positivos contra grandes equipas.
O que ainda falta à carreira do João para chegar à seleção nacional?
Claramente, a seleção A é um dos meus maiores objetivos. Passei por todas as camadas jovens da seleção e agora já não posso ir, só mesmo à seleção principal, agora é diferente. Só tenho de continuar a fazer o que tenho feito, continuar a jogar, a evoluir, a ter a experiência. Sei que Portugal tem muito bons guarda-redes e, mais tarde ou mais cedo, dependendo de como a minha carreira vai desenvolver-se, posso chegar lá.
João Virgínia está na terceira temporada enquanto sénior© Getty Images
Esses guarda-redes da seleção também são uma inspiração?
O Rui Patrício já joga há muitos anos na seleção e já o apanhei várias vezes. Quando eu ia para a seleção sub-21 e ele para a principal, apanhava-o no avião e falávamos um bocado. De certa forma, deu-me umas palavrinhas, tenho olhado sempre para os guarda-redes mais experientes.
Mais recentemente, Diogo Costa tem entrado na seleção principal com maior regularidade. É um exemplo para o João?
Eu conheço muito bem o Diogo, estivemos sempre juntos na seleção. Sei que, se ele está lá, é porque está a ter uma carreira muito boa e tenho confiança de que tanto eu como o Luís Maximiano, por exemplo, temos qualidade para chegar lá.
Vou precisar do futebol para o resto da minha vidaA carreira ainda vai quase no início. Contudo, alguma vez ponderou aquilo que vai fazer quando a carreira de jogador terminar?
É muito precoce. Tenho de aproveitar o momento, os guarda-redes conseguem jogar mais anos, mas vir a ser treinador, quem sabe... Esse futuro ainda está longe.
Vale perguntar porque há jogadores que dizem que a carreira de jogador rouba muito tempo da vida pessoal, preferindo largar o futebol quando deixam de jogar. Sente essa necessidade.
Neste momento, não sinto essa necessidade. O futebol é a minha vida, é o que gosto de fazer e o que faço todos os dias. Trabalho muito para conseguir fazer o que faço e sinto que, se calhar, vou precisar do futebol para o resto da minha vida. Tenho essa paixão e, um dia, quando acabar a carreira, vou ter saudades e querer continuar no futebol. Mas isso é o que penso neste momento. Ainda falta tanto tempo. É mesmo aproveitar...
Por curiosidade, se não jogasse futebol, o que faria?
Os meus pais são empresários, têm negócios próprios, um na produção de citrinos e outro na produção de vinho. Estaria a trabalhar no vinho ou nos citrinos.
João Virgínia é um dos mais experientes do plantel do Camburr, tendo passado pela Premier League© Getty Images
Aos 22 anos, era esta a carreira que esperava ter?
Ainda é uma idade jovem para um guarda-redes. Neste momento, estou a ter várias oportunidades, estive à altura em todas e, por isso, não vale a pena queixar-me por falta de vagas, mas é preciso ter-se sorte na carreira de futebolista. Eu construou a minha própria sorte e é por isso que tenho andado pela Europa a jogar, o mais importante é estar a divertir-me e tenho de estar orgulhoso e grato pela carreira que tenho tido. Depois desta época, eu e o Everton vamos fazer uma análise, tenho contrato até à próxima época, vou querer continuar a jogar, seja no Everton, seja nos Países Baixos. Se já joguei em tanto sítio, consigo jogar em qualquer lugar.
É frustrante para um jogador não saber o que o futuro lhe espera e, por isso, não poder fazer planos a longo prazo?
É uma realidade para mim como para outros jogadores. Tinha a possibilidade de ficar no Sporting como de ir para outro clube qualquer, mas dei o passo, fui para uma Liga diferente, para um clube de dimensão inferior, tudo para ser mais regular. Pode ser frustrante, mas a decisão final vai ser sempre do Everton. Se quiserem que eu fique, eu fico, se quiserem que eu jogue, eu jogo. Mas a vida do jogador de futebol é assim, estou mais que habituado. Apesar disto, eu sou dono e senhor da minha carreira e posso definir, nesta fase importante da carreira, aquilo que quero fazer. Não será diferente na próxima época. Vou continuar a fazer o que faço.
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