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"A Suíça compete com qualquer adversário. Vai criar problemas a Portugal"

Portugal joga a cartada com vista aos 'quartos', esta terça-feira, diante da Suíça. Em conversa com o Desporto ao Minuto, João Carlos Pereira, treinador com duas passagens pelo futebol suíço, alertou para os cuidados a ter com o adversário da seleção nacional e confessou já ter defrontado (e vencido) Murat Yakin, atual selecionador dos helvéticos.

"A Suíça compete com qualquer adversário. Vai criar problemas a Portugal"
Notícias ao Minuto

08:01 - 05/12/22 por Miguel Simões

Desporto Exclusivo

Após uma fase de grupos com duas vitórias (frente a Gana e Uruguai) e uma derrota (diante da Coreia do Sul), Portugal prepara-se para defrontar a Suíça nos 'oitavos' do Mundial, com o objetivo de encontrar Marrocos ou Espanha nos 'quartos' da prova. Porém, a missão não se adivinha fácil e só uma boa resposta da seleção à altura do desafio poderá colocar milhões de portugueses a sorrir.

Em conversa com o Desporto ao Minuto, João Carlos Pereira, ex-treinador de equipas suíças como Grasshoppers e Servette dissecou sobre o estado do futebol suíço, alertou para as principais referências do adversário e ainda confessou já ter defrontado (e vencido) Murat Yakin, o atual selecionador da Suíça. 

"Acho que a Suíça está a fazer uma campanha, do meu ponto de vista, expectável. Eles têm uma geração de jogadores muito boa e um bom treinador. Os resultados [da fase de grupos] não me surpreendem. É uma equipa que, neste momento, compete com qualquer adversário deste Mundial", começou por dizer.

"Não vai ser um jogo fácil para Portugal, mas vai ser um duelo interessante e disputado. Espero que o resultado caia para o nosso lado, obviamente. Provavelmente, será o adversário mais forte de Portugal no Mundial, até ao momento", confessou de seguida o treinador de 57 anos.

As individualidades, o coletivo e a chave

Desafiado a apontar as principais referências individuais da Suíça, João Carlos Pereira não hesitou em destacar alguns nomes entre os 26 eleitos por Murat Yakin e realçou a importância do setor intermédio como uma "chave" da eliminatória.

"O [Granit] Xhaka é um jogador importante, assim como o [Manuel] Akanji. O [Yan] Sommer é muito bom entre os postes. O Ricardo Rodríguez na esquerda tem muita maturidade, assim como o Ruben Vargas. Já o [Breel] Embolo pode ser uma ameaça, por ser possante e forte fisicamente. No fundo, trata-se de uma equipa com bastante qualidade", referiu.

"Apesar de eles terem bons jogadores no meio-campo, acho que Portugal tem um setor intermédio com mais qualidade e o jogo pode decidir-se aí. Conseguir o domínio territorial  no centro do terreno pode ser um fator de sucesso para este jogo. Creio que, aí, Portugal tem muita qualidade e pode criar mais problemas. Pode ser a chave", explicou.

 "O Cristiano Ronaldo é um caso único. É um jogador que tem uma capacidade tremenda de finalização (...) Pode perfeitamente resolver um jogo"

A seleção das quinas não ficou esquecida na conversa e, nesse caso, o ex-treinador da Académica (por onde passou por quatro ocasiões diferentes) individualizou entre os jogadores com rendimento mais positivo e os atletas que ainda podem melhor.

"O Bernardo Silva está bem. O Bruno Fernandes tem apresentado um rendimento muito alto. O Rúben Neves tem sido regular, mas ainda não está no seu melhor. O João Félix já teve momentos muito interessantes nos jogos em que participou", começou por enumerar.

"Contudo, o João Cancelo, por exemplo, não tem estado ao nível desejado. Os centrais também podem vir a estar melhores. O Diogo Costa tem um potencial tremendo, mas está a sentir demasiada responsabilidade. Não está solto, está demasiado tenso e tem de desfrutar mais dos jogos, aproveitar a oportunidade para se divertir, mantendo o foco no rendimento, naturalmente.", explicou, antes de falar de... Cristiano Ronaldo.

"O Cristiano Ronaldo é um caso único. É um jogador que tem uma capacidade tremenda de finalização. Não esteve muito bem desde o início da época por problemas externos. Isto para um jogador com a robustez mental de topo, como ele, afeta naturalmente", relembrando o 'divórcio' com o Manchester United, antes de acrescentar que, a qualquer momento, pode resolver um jogo. "Tem tido um bom rendimento. Não tem feito os golos que as pessoas esperavam ou desejavam. No primeiro jogo, teve oportunidades claras que, em condições normais, não falhava. Mas é um jogador que pode perfeitamente resolver um jogo e, apesar de tudo, tem feito um bom trabalho".

Dissecação tática do adversário... que já defrontou

João Carlos Pereira considerou que "tal como Portugal, a Suíça também tem jogadores de qualidade superior a atuar nas melhores equipas e ligas da Europa", pelo que irão a jogo peças habituadas "a competir a um nível elevado", admitindo determinadas "similaridades" entre as duas nações, antes de abordar algumas diferenças.

"Do ponto de vista individual, acredito que Portugal tem mais potencial. Do ponto de vista coletivo, vejo a Suíça como uma equipa muito sólida, com linhas curtas a defender e uma noção clara daquilo que são as suas dinâmicas. É uma equipa que funciona como uma unidade funcional. Nesse aspeto, Portugal nem sempre tem sido uma equipa sólida, mas espero que neste jogo não se cometam erros infantis como os que têm acontecido neste Mundial", relembrou.

Notícias ao Minuto Suíça arrancou o Mundial com um triunfo frente aos Camarões, seguiu-se uma derrota com o Brasil e, na derradeira jornada, a vitória diante da Sérvia carimbou o segundo lugar do grupo G.© Getty Images  

"A Suíça tem jogadores com bastante qualidade no banco, alguns deles eu até conheço. O Seferovic todos conhecem e não é titular. O Shaqiri não é um titularíssimo, mas no fundo são jogadores que podem valorizar a sua equipa se jogarem ou entrarem no decorrer do jogo", recordou alguns nomes mais sonantes.

O experiente treinador português salientou o "futebol mais físico" como uma das características mais vincadas na matriz de jogo do futebol suíço que, apesar de receber a influência de treinadores e jogadores que por lá passam, mantém "um estilo de jogo mais direto" por comparação ao exemplo de Portugal.

"Há muitos duelos e são equipas com grande intensidade do ponto de vista físico e mental. No que toca à seleção, a presença de jogadores a atuar nas melhores ligas tem acrescentado algo à equipa, descaracterizando um pouco até aquilo que era a Suíça anteriormente. Agora há mais futebol criativo, em alguns momentos com mais pausa, em que circulam a bola com mais critério. Quando perdem a bola, estão mais próximos para pressionar e recuperar", explicou.

João Carlos Pereira não hesitou em confessar que conhece bem Murat Yakin, selecionador suíço, após vários duelos durante as duas passagens pela Suíça. "Só na temporada passada defrontei-o quatro vezes [contra o Schaffhausen] e ainda fizemos alguns jogos-treino. Quando estava no Servette, também o defrontei, contra o Basileia. Nessa altura não ganhei, eles tinham uma equipa muito forte e eram crónicos campeões".

Notícias ao Minuto João Carlos Pereira esteve no Servette em 2011/12 e, mais tarde, no Grasshoppers, em 2020/21.© Global Imagens  

"Ele antes jogava com uma estrutura diferente, num 4-4-2 losango, com um jogo mais direto para os dois pontas de lança muito eficazes. Creio que isso está muito relacionado com as características dos jogadores ao dispor. Em diversos momentos, encontrei características e dinâmicas diferente nas suas equipas. Por isso é que eu acho que ele é um belíssimo treinador", reconheceu antes de analisar a evolução tática do próximo adversário de Portugal ao longo dos últimos anos. "Esta seleção da Suíça, historicamente, já joga com três atacantes há um tempo, às vezes a defender numa linha de cinco, com três centrais. Neste momento, eles estão a jogar mais com 4-3-3 e 4-2-3-1. É uma equipa com muita segurança a defender e, com bola, tem bastante critério e sabe jogar. Aí é determinante a influência do Xhaka, com hábitos de jogar um futebol ligado [no Arsenal], de pé para pé, a construir a partir de trás".

'Águas passadas'... com vista para o presente

Portugal e Suíça defrontaram-se no passado mês de junho, na Liga das Nações, por duas ocasiões. No primeiro duelo, Fernando Santos saiu a sorrir com uma goleada por 4-0, porém, na deslocação ao território suíço, a equipas das quinas saiu derrotada por 1-0. Apesar de tudo, o treinador de 57 anos rejeitou qualquer benefício em tirar ilações desses jogos.

"São contextos diferentes. Isto é um Mundial. No futebol, as coisas mudam com muita facilidade. Acredito que este jogo vai ser diferente de todos os últimos. Num dia em que a seleção esteja bastante inspirada, Portugal pode derrotar a Suíça, não diria com alguma facilidade, mas alguma naturalidade. Mas também já percebemos que esta Suíça compete com qualquer adversário e vai criar-nos problemas. Penso que o momento dita tudo, não interessa olhar muito para a história. Eles estão num bom momento, apesar da derrota com o Brasil, que considero normal", vincou. 

"Tem havido erros infantis de alguns jogadores. Há momentos em que a equipa perde o controlo (...) Em jogos a eliminar, este tipo de deslizes pode ditar um afastamento"

"Por tudo isto, creio que a Suíça é uma equipa sólida, consistente e bem organizada, com muita maturidade também", acrescentou antes de realçar o peso dos "erros infantis" de Portugal nesta altura da prova. "Temos assistido a momentos de rendimento da nossa seleção em que tem havido erros infantis de alguns jogadores. Há momentos em que a equipa perde o controlo das partidas. Numa altura em que os jogos são a eliminar, este tipo de deslizes podem ditar um afastamento".

"Num bom dia, já se percebeu que uma equipa pode ganhar a qualquer outra. Há alguma imprevisibilidade a nível de resultados, não há aquela história de 'estes vão ganhar de certeza' e isto implica que Portugal tenha de encarar todos os jogos de forma bastante séria, respeitando os seus adversários, mas com a confiança de que, estando bem, podemos ganhar a todos", acrescentou.

Questionado sobre as possibilidades de Portugal chegar à final agendada para o dia 18 de dezembro e sair a sorrir, João Carlos Pereira frisou ter essa crença, mas não deixou de sublinhar que há coisas a "melhorar".

"Acredito que Portugal pode e tem condições para vencer este Mundial. Contudo, tem de melhorar o rendimento, ser mais eficaz e não pode ter momentos de desconcentração. Alguns jogadores têm de melhorar os seus desempenhos porque ainda não estão no seu melhor. Já percebemos que, neste Mundial, há equipas que não conseguem ganhar os jogos todos", vincou.

"Para já temos este Portugal-Suíça, que vai ser um bom jogo de seguir para os apaixonados por futebol. Prevejo um jogo equilibrado e aberto. São duas equipas a jogar para ganhar. Espero que Portugal esteja no seu melhor", rematou.

Recorde-se que Portugal defronta a Suíça, esta terça-feira, a partir das 19 horas (horário de Portugal Continental), num jogo que decidirá a continuidade da seleção nacional no Mundial do Qatar.

Notícias ao Minuto Portugal soma dois triunfos e uma derrota no Mundial do Qatar e, para seguir para os 'quartos', terá de sair a sorrir frente à Suíça.© Getty Images  

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