Desde que se tornou um jogador sénior, Wilson Eduardo foi orientado por vários treinadores que, atualmente, ocupam a elite do futebol português, embora na altura ainda estivessem a dar os primeiros passos nas respetivas carreiras.
Os sucessivos empréstimos por parte do Sporting, sobretudo entre 2010 e 2012, levaram a que o avançado luso-angolano, atualmente nos turcos do Alanyaspor, conhecesse técnicos como Leonardo Jardim e Sérgio Conceição no Beira-Mar e no Olhanense, respetivamente.
Além desses dois, Wilson Eduardo destacou, ainda, as experiências com Paulo Fonseca, José Peseiro, Abel Ferreira e Rúben Amorim, ao longo dos cinco anos em que representou o Sporting de Braga.
Apesar dos elogios a todos os treinadores que referiu, o ex-jogador dos leões e bracarenses contou algumas histórias desconhecidas para grande parte do mundo de futebol, nomeadamente os 'choques' de feitios com Sérgio Conceição ou a curta relação com Rúben Amorim, uma vez que também se cruzaram em Braga apenas em 13 jogos. Já Abel Ferreira e Paulo Fonseca, receberam os melhores elogios.
Sérgio Conceição? No Olhanense tivemos alguns 'choques', não por problemas entre nós ou por contestar, mas pelo facto de ser um jogador que gosta de tentar perceber tudo aquilo que estamos a fazer e com que objetivo fazemos um determinado exercício.
"O [Sérgio] Conceição foi importante no meu percurso. Muitas pessoas dizem que temos feitios idênticos e acabámos por 'chocar' várias vezes, no Olhanense. Posso dizer que foi um treinador com quem tive uma relação boa. Depois, também terminou no comando da Académica, na época em que lá estive [2012/13], e, aí, foi tudo melhor, porque já nos conhecíamos. A relação já era diferente", começou por contar.
"Em Olhão, tivemos alguns 'choques', não por problemas entre nós ou por contestar, mas pelo facto de ser um jogador que gosta de tentar perceber tudo aquilo que estamos a fazer, para que serve e com que objetivo fazemos um determinado exercício. Quando é uma correção, ouço a correção. Se tiver um ponto de vista diferente, tento expor, de maneira respeitadora, como é óbvio. Há sempre aquela diferença entre treinador e jogador", acrescentou de seguida.
Wilson Eduardo confessou que todo esse cenário "não foi fácil de lidar" para o atual treinador do FC Porto, naquela que foi a primeira experiência como técnico principal, e o assunto passou mesmo para uma reunião de balneário.
"Lembro-me perfeitamente de um treino em que ele disse qualquer coisa e eu questionei no meio do treino por ser de uma forma e não de outra. Depois, terminou o treino, tivemos uma reunião no balneário e lembro-me de ele dizer que jogou com vários grandes jogadores na sua carreira, mas nunca viu ninguém questionar um treinador daquela maneira. Foram 'choques' de momento, mas, depois, a relação acabou por ser boa", contou.
"Foi um treinador que me ajudou nesse ponto de vista de tentar perceber que me posso controlar mais aqui ou ali, consoante o treinador que tenha. Num jogo amigável, no meu último ano em Braga, lembro-me perfeitamente de falar com ele e disse-me que ficava feliz por me ter tornado um jogador, até porque antes não era tão agressivo no processo defensivo. Relembrou-me que, antes, quando puxava por mim, não aceitava muito bem essa ideia. Gostei de trabalhar com ele, apesar de uma ou outra situação de atrito", recordou o futebolista do Alanyaspor.
A minha relação com o Rúben Amorim, não digo que seja má, mas também não é das melhores, o que não me impede de ver todo o trabalho que ele fez (...) Via-se que podia sair dali um grande treinador.
Sobre Rúben Amorim, Wilson Eduardo fez questão de reforçar que, apesar de não considerar que tenha tido "das melhores" relações, viu com agrado uma das ideias vincadas pelo atual treinador do Sporting, independentemente do adversário.
"A minha relação com o Rúben [Amorim], não digo que seja má, mas também não é das melhores, o que não me impede de ver todo o trabalho que ele tem feito. Esteve 13 ou 14 jogos em Braga e só perdemos na Liga Europa, frente ao Rangers. Jogámos com todos os 'grandes' nesse período, o que não é normal, ganhámos a todos e via-se que podia sair dali um grande treinador", começou por dizer.
"Tinha ideias fixas, e uma coisa que me agradou bastante na maneira de ver o jogo e trabalhar com a equipa é que, independentemente do jogo ser contra o último classificado ou com os 'grandes', a lógica era sempre a mesma. Sem receios de jogar só no contra-ataque, por exemplo. O método de trabalhar na forma como puxa pelos jogadores é bom", antes de falar do título de campeonato nacional conquistado em Alvalade, em 2020/21.
"Foi para o Sporting e pegou em meia dúzia de jogadores que muitas pessoas não davam nada por eles, acabando por ser campeão na primeira época [completa]. Há que 'tirar o chapéu' quando isso acontece", frisou.
Treinadores que foram jogadores conseguem perceber melhor o que se passa num balneário e na cabeça de um jogador, que não é muitas vezes opção, pelo que penso que o Abel tem essa sensibilidade, sempre com uma palavra de conforto.
Desafiado a destacar os treinadores mais marcantes durante as cinco épocas que jogou em Braga, Wilson Eduardo recordou a importância de José Peseiro e Paulo Fonseca, mas não teve receios em enaltecer... o nome de Abel Ferreira.
"O treinador com que me afirmei no [Sporting de] Braga foi o [José] Peseiro. Tinha uma excelente relação com ele. Com o Paulo Fonseca, no ano anterior, não foi tão fácil. É verdade que fiz vários jogos, mas nunca era uma aposta clara. Aprendi muito com ele, não posso negar. Considero-o muito inteligente no treino e na análise ao adversário. Além destes, o treinador que mais me marcou, digo-o sem dúvidas nenhumas, foi o Abel [Ferreira]", vincou.
"Ainda na semana passada o guarda-redes do Brasil, o Weverton, disse uma coisa que é verdade. Elogiou-o bastante por ser um treinador bastante estudioso e próximo dos jogadores, que sabe o que os jogadores estão a sentir. Treinadores que foram jogadores conseguem perceber melhor o que se passa num balneário e na cabeça de um jogador, que não é muitas vezes opção, pelo que penso que o Abel tem essa sensibilidade, sempre com uma palavra de conforto", acrescentou sobre o atual treinador do Palmeiras.
Além de sentir que Abel Ferreira poderia "chegar longe", o avançado de 32 anos fez, ainda, questão de pormenorizar o tipo de contacto que, juntamente com outros jogadores que passaram pelas mãos do técnico, continua a ter ao longo dos últimos anos.
"É uma pessoa que eu já sentia que podia chegar longe. Já venceu duas [Taças] Libertadores. Da maneira que ele se tenta relacionar, não só com o jogador, mas com todas as pessoas que estão à volta, via-se que ele tinha essa sensibilidade e gosta daquilo que faz. Quando assim é, se tiver um grupo que acolha bem a liderança dele, acaba por ter sucesso. Fico feliz por ele", afirmou.
"Tenho um grupo com ex-jogadores do [Sporting de] Braga, e mesmo com outros que ainda lá estão, juntamente com ele e os adjuntos e, muitas vezes, felicitamos pelas conquistas. Respondem-nos sempre. Não é pelo sucesso que está a ter que se esquece do percurso que teve", finalizou.
Wilson Eduardo jogou no Sporting de Braga entre 2015 e 2020 e cruzou-se com Abel Ferreira entre 2017 e 2019.© Getty Images
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