"Os belgas ficaram com a ideia de que ele era um treinador com bom caráter, ideias bem definidas e não tinha problemas em apostar em jovens atletas. Tenho a certeza de que ajudou muito ao crescimento do futebol belga, pois conheço vários antigos colegas meus que passaram na seleção e beneficiaram com isso, possibilitando transferências que os clubes não estavam habituados há 10 anos", analisou à agência Lusa o ex-internacional luso, que fez 31 golos em 88 partidas pelo Standard de Liège (2016-2018 e 2018-2020).
Roberto Martínez foi apresentado há uma semana como sucessor de Fernando Santos para os próximos quatro anos, tornando-se o terceiro estrangeiro a comandar a formação das 'quinas', depois dos brasileiros Otto Glória (1983) e Luiz Felipe Scolari (2002-2008).
"A seleção e a própria Liga belga foram bastante valorizadas pelas convocatórias e pela coragem que Roberto Martínez teve ao apostar em miúdos desconhecidos aos olhos de muita gente. Acho que isso será benéfico para nós, porque há sempre a conspiração de que existem selecionadores que têm preferência por A, B ou C. Roberto Martínez é um treinador neutro, que vai ter a oportunidade de avaliar e confirmar a qualidade do jogador português e, depois, tomar as suas decisões", expôs o antigo avançado, que representou Sporting de Braga, FC Porto e Nacional na I Liga e ainda competiu em mais sete países.
Sob orientação do ex-treinador dos galeses do Swansea City (2007-2009) e dos ingleses do Wigan (2009-2013) e do Everton (2013-2016), a Bélgica teve a melhor prestação nas 14 participações em Mundiais, ao conquistar a medalha de bronze em 2018, na Rússia.
"Poderá ser uma boa surpresa ele passar a acompanhar o campeonato português. Não acredito que tenha muito conhecimento da prova, mas, se calhar, vai perceber que pode haver mais atletas como Ricardo Horta, Matheus Nunes ou João Palhinha e vários outros que competem ali e têm potencial para surgirem na seleção nacional a um bom nível e ajudarem no crescimento do próprio futebol português", indicou Orlando Sá, de 34 anos.
Os 'diabos vermelhos' chegaram ainda aos quartos de final do Euro2020, disputado em 2021, devido à pandemia de covid-19, perdendo com a futura campeã Itália, já depois de terem eliminado na ronda anterior Portugal, que defendia o título conquistado em 2016.
"Neste momento, Roberto Martínez deverá estar a sentir-se num mar de rosas ao ver a quantidade e qualidade de jogadores portugueses disponíveis para convocar e a fazer o rascunho da terceira convocatória. Somos um país pequenino, tal como a Bélgica, mas temos mais e melhores opções. Se ele fez o que fez na Bélgica, colocando-a a praticar bom futebol e de ataque, agora tem de fazer igual ou melhor, no mínimo", reconheceu.
Líder do ranking da FIFA de outubro de 2018 a fevereiro de 2022, a Bélgica teve ainda duas 'quedas' na fase de grupos das edições 2018/19 e 2022/23 da Liga A da Liga das Nações, intercaladas pela quarta posição alcançada na 'final four' de 2020/21, em Itália.
"Ou seja, convinha-lhe jogar com três defesas centrais, já que, se calhar, era a tática que melhor potencializava os jogadores de maior relevância que ele tinha nas convocatórias. Neste momento, olhando para a qualidade dos jogadores de Portugal, Roberto Martínez pode e deve apostar na tática que acredita que nos fará estar mais perto do sucesso", sugeriu Orlando Sá, cuja despedida dos relvados se consumou há cerca de ano e meio.
O técnico espanhol, de 49 anos, abandonou a Bélgica a seguir ao empate com a Croácia (0-0), em 01 de dezembro de 2022, que assinalou a eliminação precoce do Grupo F do Mundial2022, disputado no Qatar, findando um percurso arrancado em agosto de 2016.
Os 'diabos vermelhos' somavam uma média etária de 27,8 anos entre os 26 convocados, dos quais 11 registavam idade igual ou superior às 30 primaveras, incluindo figuras como Thibaut Courtois e Eden Hazard (ambos do Real Madrid), Kevin De Bruyne (Manchester City) e os ex-benfiquistas Jan Vertonghen (Anderlecht) e Axel Witsel (Atlético de Madrid).
Dos seis nomes que ainda não completaram 23 anos, Charles De Ketelaere (AC Milan) e Jérémy Doku (Rennes) encaminharam as duas maiores verbas de sempre recebidas em transferências por clubes belgas, ao renderem 32 e 26 milhões de euros (ME) aos cofres do tricampeão em título Club Brugge e do Anderlecht, em 2022 e 2020, respetivamente.
No top-10 de negócios protagonizados entre a Pro League e os restantes campeonatos estão outros internacionais em atividade, como Youri Tielemans (Mónaco, por 25 ME, em 2017), Romelu Lukaku (Chelsea, 15 ME, 2011) e Leander Dendoncker (Wolverhampton, 13,8 ME, 2019), todos lançados no Anderlecht, além de Leandro Trossard (Brighton, 15,6 ME, 2019), que ficou à porta do pódio das vendas mais avultadas realizadas pelo Genk.
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