"Aposta em Roberto Martínez é uma marcada de posição de Fernando Gomes"

A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) quis "marcar posição" ao designar Roberto Martínez para orientar a seleção nacional, assume o ex-avançado Orlando Sá, com carreira feita na Bélgica, onde o treinador espanhol evoluiu.

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Lusa
16/01/2023 09:05 ‧ 16/01/2023 por Lusa

Desporto

Orlando Sá

"Por toda a história de José Mourinho ao longo dos últimos anos e pelo respeito que os portugueses devem ter pela sua carreira, acho que era um selecionador que não ia gerar qualquer tipo de contestação. A aposta em Roberto Martínez é uma marcada de posição do presidente [da FPF] Fernando Gomes, que queria ir buscar uma pessoa com nome, que fosse neutra às encruzilhadas do futebol português e pudesse ter um olhar diferente perante o futebol e o jogador português", disse à agência Lusa o ex-internacional luso, que fez 31 golos em 88 partidas pelo Standard de Liège (2016-2018 e 2018-2020).

Roberto Martínez foi apresentado há uma semana como sucessor de Fernando Santos para os próximos quatro anos, tornando-se o terceiro estrangeiro a comandar a formação das 'quinas', depois dos brasileiros Otto Glória (1983) e Luiz Felipe Scolari (2002-2008).

"Dizer que há um perfil ideal é impossível. As pessoas que têm o poder para tomar essa decisão sabem melhor do que ninguém o que se passa no seio da seleção e aquilo que é preciso. De fora, como português, tenho é de apoiar estas decisões e desejar que corra tudo bem a Roberto Martínez, que é um técnico com caráter forte, como demonstrou em relação a alguns temas e questões controversas ao longo dos anos na Bélgica", avaliou.

O técnico espanhol, de 49 anos, abandonou a Bélgica a seguir ao empate com a Croácia (0-0), em 01 de dezembro de 2022, que assinalou a eliminação precoce do Grupo F do Mundial2022, disputado no Qatar, findando um percurso arrancado em agosto de 2016.

"À imagem daquilo que Fernando Santos fez com a seleção nacional, Roberto Martínez marcou uma década na Bélgica, face à mudança de mentalidade e à coragem que teve para apostar em muitos atletas. O resultado de um jogo que muitas vezes é a eliminar e tem pequenos detalhes a fazer a diferença não pode apagar tudo o que de bom foi feito", advertiu Orlando Sá, que representou Sporting de Braga, FC Porto e Nacional na I Liga.

O desaire de Portugal com Marrocos (0-1) nos quartos de final do maior torneio mundial de seleções precipitou igualmente a saída de Fernando Santos, que esteve oito anos no cargo, até 15 de dezembro, concedendo os únicos dois troféus internacionais no patamar sénior à equipa das 'quinas, com os êxitos no Euro2016 e na Liga das Nações de 2019.

"Se calhar, o sentimento da maior parte dos belgas ao ver o Roberto Martínez a sair da seleção foi aquele que muitos portugueses tiveram aquando da despedida do Fernando Santos de Portugal. Se virmos o que um e outro fizeram de formas diferentes em cada seleção e na evolução das respetivas federações, têm histórias parecidas", considerou.

Sob orientação do ex-treinador dos galeses do Swansea City (2007-2009) e dos ingleses do Wigan (2009-2013) e do Everton (2013-2016), a Bélgica teve a melhor prestação nas 14 participações em Mundiais, ao conquistar a medalha de bronze em 2018, na Rússia.

Roberto Martínez passou, desde então, a acumular as funções de diretor técnico da Real Federação Belga de Futebol (KBVB), refletindo o seu papel transversal na forma como convenceu o organismo a edificar uma cidade desportiva em Tubize, a sul de Bruxelas.

"Também tivemos uma Cidade do Futebol [inaugurada em março de 2016, em Oeiras] e tenho a certeza de que o 'mister' Fernando Santos e as pessoas que o acompanharam nestes anos tiveram uma palavra a dizer e ajudaram na planificação e no crescimento da FPF. Roberto Martínez fez o mesmo na Bélgica. Acredito que esta aposta nele não foi tomada em cima do joelho e pode ser uma agradável surpresa", enquadrou Orlando Sá.

O recordista de triunfos no comando dos 'diabos vermelhos' vai estrear-se pelo conjunto das 'quinas' em março, na abertura do Grupo J da fase de qualificação para o Euro2024, encarando a singularidade de o capitão Cristiano Ronaldo ter sido oficializado no final de 2022 como reforço dos sauditas do Al Nassr, volvidas duas décadas no futebol europeu.

"Isto é muito claro: se ele não quisesse ir à seleção, já teria abdicado e dito publicamente que fechava o ciclo. Agora, a partir do momento em que esteja disponível e se estiver em bom nível, porque não ser convocado? A decisão é sempre de Roberto Martínez, que foi contratado para tomar decisões difíceis. Agora, não é pelo facto de o nosso melhor atleta de todos os tempos está a jogar na Arábia Saudita que não pode ser convocado", frisou.

O espanhol enfrentou críticas na Bélgica por ter apostado em alguns nomes consagrados em queda de rendimento, mas Orlando Sá, de 34 anos, nota que "o treinador é o maior prejudicado por chamar atletas que não o possam ajudar nem estejam na melhor forma".

Leia Também: "Roberto Martínez deverá estar a sentir-se num mar de rosas"

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