Já ouviu falar do biatlo? O nome até pode parecer algo familiar, mas a verdade é que a modalidade em si tem tanto de 'louco', como de estranho, não estivéssemos nós a falar de algo que combina esquis e armas, "presos à sorte", como caracteriza Michael Rösch, nome sonante na história do biatlo, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto.
Depois das provas de Kontiolahti (Finlândia), Hochfilzen (Áustria), Annecy-Le Grand Bornard (França), Pokljuka (Eslovénia), Ruhpolding (Alemanha) e Antholz-Anterselva (Itália) a contar para a Taça do Mundo, está aí à porta o Campeonato do Mundo, de regresso a território alemão, entre os próximos dias 8 e 19 de fevereiro, em Oberhof. Curiosamente, trata-se de uma região onde o ex-biatleta já foi muito feliz com três medalhas (duas de ouro e uma de prata) e rejeitou apontar os favoritos, falando mesmo de "10 a 20 candidatos" aos pódios.
Além disso, Michael Rösch não só tratou de analisar a evolução da modalidade ao longo dos últimos anos, como ainda foi desafiado a descrever a forma como convenceria um amigo português a praticar a modalidade, tendo confessado que as suas viagens ao nosso país servem apenas para... "férias".
É preciso talento, claro, tal como uma boa precisão, uma boa pontaria (...) Apesar de tudo isso, também é fulcral ter muita sorte. O sol, a neve, o terreno... são indicadores disso mesmo.
Tendo por comparação os tempos em que praticou biatlo (até 2019) e os últimos anos, de que forma evoluiu a vertente técnica?
Nas últimas décadas, as coisas têm evoluído muito rápido. Ao início, lembro-me que os tempos para as provas eram mais largos e já ficávamos 'wow, isto é de malucos'. Agora, o tempo para disparar parece ainda mais curto. Nunca tinha visto as coisas assim. Tanto no desporto masculino como no feminino, está tudo a crescer. Olhando para o top20, percebemos pelos tempos percorridos que isso se aplica tanto ao esqui, como aos tiros. Os materiais são melhores, os países têm mais apoios, com mais dinheiro. Os treinadores também têm sido importantes, desde os da Suíça aos da Alemanha. É cada vez mais difícil entrar no top10 com todo este contexto. Desta vez, já não estou nessa corrida 'louca' (risos). Ainda assim, estão todos perto. Mesmo quem está no 16.º do ranking, tem condições para sonhar. A fasquia está elevada.
O que é preciso para se ser um craque no biatlo?
Muito simples. Boas armas e esquis rápidos (risos). Na verdade, depende de muitos contextos. A modalidade em si é complexa. É preciso talento, claro, tal como uma boa precisão, uma boa pontaria. É importante também perceber a dinâmica da equipa onde estamos a treinar, pela rapidez e pelo treino. Estar todos os dias com essas pessoas é uma ajuda. Posso dizer, por experiência própria, que, quem não tem bons esquis, não está capacitado para ganhar, nem para estar nos principais tops. Lembro-me de alguns problemas na minha altura, em que tinha dez segundos de atraso, com um orçamento baixo. É mesmo importante ter um bom material. Creio que, apesar de tudo isso, também é fulcral ter muita sorte. O sol, a neve, o terreno... são indicadores disso mesmo.
Michael Rösch despediu-se oficialmente da modalidade, no início de 2019, precisamente em Oberhof, na Alemanha. © Getty Images
Quais foram as suas principais inspirações enquanto construía uma carreira nesta modalidade?
O meu pai. Ele foi incrível nesta modalidade. Ganhou campeonatos e arrecadou medalhas olímpicas. É o meu ídolo, claro. Conquistei o meu primeiro Mundial, em 1980, e isso foi bestial para mim, com a presença dele, como um negócio de família. Cresci num meio pequeno, na Alemanha, com muitos profissionais do biatlo a surgir a partir de lá e a brilhar neste desporto.
Portugal? Só para férias...Alguma vez praticou a modalidade em território português?
Eu já estive em Portugal, mas só para férias (risos).
Se tivesse um amigo português, de que forma o convenceria a praticar biatlo para que o país ficasse referenciado no mapa das principais provas da modalidade?
Se eu tivesse de convencer um amigo português, primeiro, diria para vermos o desporto em si pela televisão, algo como 'vamos lá sentar-nos e apreciar isto'. Depois, trataríamos da parte do disparo. É preciso treino e, claro, muita persistência. Veremos logo que é muito difícil. A verdade é que vale a pena tentar aprender, é divertido. Seria, certamente, uma boa experiência. Se um país não tiver neve, é tudo mais difícil. Imaginemos o caso do Brasil, da Austrália... (risos) Mas nada nos impede de tentar, de falar. É algo que eu faria.
Quem são, na sua opinião, os favoritos à próxima prova em Oberhof, na Alemanha?
Na realidade, há muitos favoritos entre todos os escalões, desde os mais jovens aos 'masters', passando ainda pelas classes individuais. Seja como for, considero que podem haver muitas surpresas. Já em 2008, lembro-me que estávamos focados no top e nem sempre o conseguíamos, mesmo com experiência. Mais ainda agora... As pessoas que reúnem boas condições para a prática podem causar surpresa. Os franceses podem estar no topo para assumir o trono. Diria que há entre 10 a 20 candidatos ao pódio, só por aí se vê a competitividade. No lado feminino, há outras tantas candidatas, cada vez mais fortes. É a tal questão. As equipas, os materiais e o talento permitem tudo isso.
Nome sonante do biatlo mundial vai comentar a próxima edição do Campeonato do Mundo, na Eurosport.© Eurosport
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