Pedro Nuno conseguiu escapar ao drama vivido na Turquia. O médio português mudou-se para o Adanaspor no último verão, mas uns dias de folga levaram a que regressasse a Portugal, estando fora de solo truco quando o sismo abalou grande parte do país. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Pedro Nuno admite que a sorte esteve do seu lado, sendo que agora tem a carreira em suspenso, uma vez que o emblema turco desistiu de competir mais na presente temporada.
"Felizmente não passei pela aflição que a maior parte dos meus colegas passou. Tínhamos jogado a uma sexta-feira, e o treinador deu-nos duas folgas porque tínhamos ganho. Eu pedi mais um dia, para poder vir a Portugal. O sismo aconteceu na madrugada de segunda-feira, portanto ainda estava em Portugal", começa por contar Pedro Nuno ao Desporto ao Minuto, prosseguindo.
"Tinha adormecido no sofá e quando acordei, durante a madrugada, o nosso grupo de WhatsApp estava cheio de mensagens, o que achei estranho. Estavam a falar de um sismo, mas só dei conta da dimensão do mesmo no dia seguinte, quando vi as notícias e os prédios a cair. Foi aí que tive real noção do terror que se passou. Os meus colegas foram para as instalações do clube durante a madrugada e felizmente ficaram bem. O que me contam é que aquilo se sentiu bastante e que há muita destruição na cidade", explica o jogador de 28 anos.
Futuro incerto
Pedro Nuno admite que procura agora uma solução para o futuro imediato, uma vez que não quer "estar parado" até final da temporada. Pelo meio, o ex-Tondela também revela que o sismo não afetou de forma mais drástica a casa onde morava na Turquia, mas ainda não sabe quando poderá voltar.
"O clube só nos avisou que ia desistir do campeonato com uma mensagem para o nosso grupo. Disseram que depois diziam mais alguma coisa, mas estou aqui em Portugal e estou a aguardar uma solução. A minha casa? Falei com uma pessoa próxima, que me ajuda no meu dia-a-dia, que me disse que o meu prédio não sofreu grande destruição. Tenho que voltar à Turquia, porque tenho lá as minhas coisas. É tudo uma incógnita. Não sei quando poderei ir lá, mas espero que isto se resolva rapidamente", frisa, esperando que a FIFA abra uma janela especial para os jogadores que ficaram com as carreiras afetadas devido ao sismo.
"O meu objetivo não é ficar parado. Não sei se a FIFA vai abrir uma exceção para os jogadores que estão nesta situação. Só me resta esperar a treinar todos os dias. Tem sido esse o meu dia-a-dia. Ultimamente tinha vindo a jogar mais no Adanaspor e estava a adaptar-me. Não estava a ser fácil porque já íamos no quarto treinador. Ou seja, as ideias estavam sempre a mudar. Mas estava a sentir-me bem. Infelizmente aconteceu tudo isto. Estou grato por ter vindo a Portugal e não me ter acontecido nada", reconhece.
Ver essa foto no Instagram
Viagem a Portugal estava programada para março
Pedro Nuno não esconde o alívio por ter regressado a Portugal mais cedo do que aquilo que tinha previsto, não tendo qualquer problema em afirmar que foi o "destino" que o fez sair da Turquia antes da tragédia.
"Claro que penso no que me podia ter acontecido, até porque a ideia era só vir a Portugal em março, na paragem para as seleções. Nem tinha pensado nesta possibilidade de vir em fevereiro, mas as coisas aconteceram. Foi mesmo o destino. Não passei por toda aquela aflição e a minha família não passou pelo susto. Se estivesse lá, seria muito pior para a minha família. Tive muita sorte", salienta.
Apesar da distância, Pedro Nuno confessa estar muito triste por ver destruído o país que o acolheu no último verão, ao mesmo tempo que lamenta as inúmeras mortes, nomeadamente de atletas das mais diversas modalidades.
"Vivi lá alguns meses e depois acontecer aquela desgraça não é fácil. Ficamos sentidos. Morreram milhares de pessoas, colegas de profissão e isso mexe conosco. Podia ter acontecido a qualquer um. Ninguém está à espera. Só tenho que ser grato porque vim a Portugal e felizmente não me aconteceu nada. Isso é o mais importante", vinca.
Ninguém o alertou
Questionado se já tinha sido alertado para a possibilidade da ocorrência de um sismo na Turquia, Pedro Nuno garante que o assunto nunca foi tema de conversa, mas admite que os jogadores nem sempre pensam nisso quando assinam por um novo clube.
"Nunca me disseram nada, mas a verdade é que nós vamos para os clubes e não pensamos muito que estas coisas podem, de facto, acontecer. Felizmente conseguir 'fugir' de lá antes de aquilo acontecer", afirma, desejando "resolver a minha vida o quanto antes e voltar a jogar".
Pedro Nuno completou um total de 16 jogos com a camisola do Adanaspor, tendo marcado um golo. © Adanaspor A.Ş
Leia Também: Jogadores do Galatasaray abdicam de salários para ajudar vítimas do sismo