André Martins recorda passagem pelo Sporting: "Estive perto de desistir"

Atualmente sem clube, André Martins cumpriu grande parte da carreira no Sporting e procura agora um novo desafio, aos 33 anos. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o internacional português recordou os bons e os maus momentos nos leões, abordou o crescimento nas sete épocas consecutivas no estrangeiro e valorizou a importância da família durante todo o percurso.

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Miguel Simões
25/07/2023 07:44 ‧ 25/07/2023 por Miguel Simões

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Formado no Sporting, André Martins fechou o seu ciclo ao serviço do emblema de Alvalade nos tempos de Jorge Jesus, em 2016, altura em que partiu de forma inédita para o estrangeiro e acabou por passar por três países diferentes nos últimos sete anos, encontrando-se atualmente sem clube.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o médio de 33 anos não hesitou em recordar, ao detalhe, os tempos que passou ao serviço daquele que considera ser "o clube do coração", com passagens pela seleção nacional pelo meio, antes de deixar o futebol português.

Nas últimas sete temporadas, André Martins enriqueceu o seu palmarés com diferentes conquistas em três países ao passar por Olympiacos (Grécia), Legia Varsóvia (Polónia) e Hapoel Beer Sheva (Israel), tendo valorizado o contributo da sua família para que todas as aventuras estrangeiras fossem possíveis.

As coisas mudaram e há mais equipas a equivalerem-se na formação, mas naquela altura [2002] o Sporting tinha, de longe, a melhor formação do país (...) Não aguentava as saudades dos meus pais, era difícil treinar e alimentar-me, além de que andava sem motivação.

O André Martins nasceu em Santa Maria da Feira, começou a jogar no Argoncilhe, depois no Feirense e, aos 12 anos, já estava no Sporting. Como tudo isto aconteceu?

Desde muito cedo que tive esta paixão pelo futebol. O meu pai sempre me disse que nada me foi incutido. Foi algo que nasceu comigo. Daí ter começado a jogar no clube da terra, no Argoncilhe, com amigos de escola que, ao final do dia, se juntavam para jogar. As coisas correram bem e desde muito cedo comecei a despertar interesse noutros clubes. Na altura em que vou para o Feirense, a cerca de 15 ou 20 minutos de casa dos meus pais, houve também o interesse do Boavista e de outros clubes da zona do norte. Acontece que eu ainda era muito miúdo e passava pouco tempo fora de casa dos meus pais. Passar a ter de dormir fora algumas noites, para mim, não fazia muito sentido. Preferi ir para o Feirense, onde estive dois anos nos infantis.

Depois, joguei no torneio de Espinho, com equipas como o Sporting, o FC Porto, o Benfica, e o Boavista. Chegámos às 'meias' e eu fui eleito o melhor jogador da prova. O interesse do Sporting surgiu. O meu pai falou-me disso e eu fiquei um pouco reticente porque teria de ir para longe e não sabia se estava preparado. Agora, as coisas mudaram e há mais equipas a equivalerem-se na formação, mas naquela altura [2002] o Sporting tinha, de longe, a melhor formação do país. Os primeiros seis meses foram muito complicados e estive muito perto de desistir. Não aguentava as saudades dos meus pais, era difícil treinar e alimentar-me, além de que andava sem motivação. Foi aí que apareceu o senhor Aurélio Pereira que, com a experiência que tinha, conseguiu convencer-me [a ficar]. Já lhe tinha acontecido com mais jogadores e disse-me que se não conseguisse poderia voltar a casa, podendo regressar mais tarde, uma vez que o Sporting manteria as portas abertas. Acabei por me adaptar, fiz grandes amigos e as coisas correram com naturalidade. Acabei por fazer toda a restante formação no Sporting.

Foi subindo degraus na formação do Sporting e, depois de chegar aos juniores, foi emprestado ao Real Massamá, juntamente com outros colegas. Essa experiência no futebol sénior foi crucial para a adaptação a um novo contexto ou já estava pronto para dar o salto para a equipa principal aos 19 anos?

Assumo com toda a naturalidade que, para mim, foi completamente crucial. Sei que a outros colegas não correu tão bem. Na altura não havia sub-23 e equipas bês. Para nós, que saíamos de juniores, era um passo importante para nos habituarmos ao futebol sénior, que é totalmente diferente das formações, mais ainda quando jogamos em clubes grandes. Foi uma experiência que deu o estofo de que precisava, junto de jogadores mais experientes do que eu, num clube que não era profissional e deu para conhecer a realidade das coisas. Treinávamos todos os dias à noite, a partir das 18h30. O nosso capitão, o Miguel Rodrigues, trabalhava [numa empresa], chegava ao balneário e era um dos melhores nos treinos e nos jogos. O Sporting ajudou-nos nesse sentido, com um protocolo com o Real Massamá, que fez com que fossem sete ou oito jogadores emprestados, mantendo o contrato. No fundo, deu-me a bagagem de que precisava e sabia que era preciso muito trabalho para chegar onde eu queria.

Depois, em 2010/11, segue-se o Belenenses (II Liga) e o Pinhalnovense. Chegou a fazer a pré-época no Sporting?

Fiz a pré-época com o Sporting. Fui apresentado aos sócios no jogo de apresentação e, na altura, o mister Paulo Sérgio até me disse que o melhor era que eu fosse emprestado, dado que havia muitos médios e eu ainda era muito novo [20 anos]. Não podia ficar parado. O Rui Gregório, do Belenenses, ligou-me e eu fui para lá a título de empréstimo. As coisas até estavam a correr bem, mas o treinador foi despedido e substituído por José Mota. Em janeiro, já não estava a jogar muito e surgiu o convite do mister Paulo Fonseca, que estava no Pinhalnovense. O que eu queria mesmo era jogar. As coisas correram lindamente. Joguei sempre ou quase sempre. A equipa fez uma boa prestação no campeonato, e na Taça de Portugal só fomos eliminados pelo FC Porto, no Dragão. No ano a seguir, sim, faço a pré-época [no Sporting] e fico no plantel principal.

Notícias ao Minuto André Martins começou a ser chamado aos diferentes escalões da seleção nacional desde 2009.© Getty Images

As crescentes convocatórias para as várias camadas da seleção nacional, já por essa altura, levaram-no a acreditar num futuro risonho?

É importante. As coisas começam aí. Apesar de agora existirem jogadores que não são chamados a seleções jovens e tornam-se titulares na principal, existiam outros que só eram titulares na seleção e não singravam nos seus plantéis. Seja como for, partilhamos experiências e cruzamo-nos com jogadores de outros países que passam outra realidade. Sinto que não era aquele jogador que era titular indiscutível na seleção. Às vezes, era chamado e ia para o banco. Nos sub-21, o mister Rui Jorge tinha mais conhecimento do meu futebol, sabia aquilo que eu podia dar e acabei por me tornar titular indiscutível nos sub-21, o que foi muito importante para quem já estava no futebol profissional.

Em 2011/12, aos 21 anos, consegue a desejada estreia pela equipa principal, pela mão de Domingos Paciência e mais tarde às ordens de Ricardo Sá Pinto. Foram dois treinadores essenciais para o seu crescimento?

Sim, sem dúvida. O mister Domingos Paciência vai ficar sempre marcado. Lembro-me perfeitamente do estágio que fizemos nos Países Baixos, em que ele me chamou ao quarto e foi honesto ao dizer-me que estava a adorar o meu trabalho e que ia ter muita concorrência, num plantel com a experiência de médios como Maniche e André Santos. Ele disse-me que gostava muito que eu ficasse no plantel para ter a tal experiência e que não ia prometer-me jogar sempre, mas que seria importante ficar, continuando a fazer o mesmo trabalho da pré-temporada com vista a oportunidades.

Para mim, foi um momento de muita felicidade. Já tinha alguns amigos, que ainda mantenho, como é o caso do João Pereira, que me ajudou nessa adaptação ao plantel principal. Nessa época, acabo por ser mais utilizado na Liga Europa do que no campeonato. Até brincavam comigo ao dizerem-me que eu era jogador para palcos diferentes e não para o campeonato português. Com a entrada do mister Ricardo Sá Pinto, passei a ter uma utilização mais regular. É um treinador que me conhece bem e até me treinou mais tarde no Legia [Varsóvia]. Foram dois treinadores cruciais para o meu crescimento e desenvolvimento como profissional.

Nessa época, apesar do 4.º lugar no campeonato e da derrota da Taça de Portugal, o André ajudou o Sporting a chegar até às 'meias' da Liga Europa. Fechou a época com sentimento de missão cumprida?

Creio que sim. A eliminação [nas 'meias'] ficou atravessada. No conjunto das duas mãos [na Liga Europa], o Athletic Bilbao não foi melhor do que nós. Acredito até que somos eliminados por um golo mesmo à beira do intervalo, depois de termos conseguido o mais difícil ao marcar um golo [fora de casa]. Aquilo caiu-nos mal, 'abanou' um bocadinho a equipa e os jogadores que já jogaram no Estádio San Mamés sabem que o ambiente é incrível. Além da classificação no campeonato, também nos custou perder a Taça de Portugal [frente à Académica], um bocadinho por culpa própria. Chegámos ao Jamor após as 'meias' da Liga Europa e achávamos que as coisas iam ser mais simples. O futebol é mesmo assim. A nível pessoal, foi uma época bem conseguida.

Deixei boas memórias [no Sporting]. Quando me abordam na rua recebo mensagens positivas e isso deixa-me muito feliz. É o clube do meu coração, onde cresci e onde me formei como atleta e homem. 

O que se sente ao estar num clube como o Sporting e acabar por fazer parte da pior época da história do clube (por força do 7.º lugar no campeonato), com a pressão dos adeptos?

É muito emotivo. Eu cresci naquele clube, foi a minha casa durante muitos anos e acabamos por nos deixar afetar muitos mais do que outros jogadores que vinham de fora, embora também pudessem sentir algo. Para mim e para os jogadores da casa, foi diferente. Vivíamos aquilo todos os dias. Na verdade, sempre tive uma relação ótima com os adeptos. Ainda hoje o sinto. Deixei boas memórias. Quando me abordam na rua recebo mensagens positivas e isso deixa-me muito feliz. É o clube do meu coração, onde cresci e onde me formei como atleta e homem. Fico feliz por ver que as pessoas têm boas recordações minhas. Custa-me ainda entender que certos adeptos, mesmo que sejam fanáticos pelo clube, não percebam que não há ninguém que queira ganhar mais do que os jogadores. Sei que somos bem pagos e que as pessoas acham que temos uma vida muito boa, mas queremos ter sucesso. Nenhum jogador de futebol está nisto para perder e não se importar. Às vezes, custava-me ver certos comentários ou atitudes de alguns adeptos, mas tratava-se de uma minoria. No geral, acho que o Sporting tem de estar muito feliz com os adeptos. Mesmo após muitos anos sem ganhar o campeonato, o estádio continuava cheio e sentíamos muito apoio quando jogávamos fora. Nem todos os clubes se podem dar ao luxo de ter adeptos assim.

Apesar de tudo, mereceu uma chamada de Paulo Bento para a estreia na seleção nacional. Sentiu um misto de emoções nessa altura?

O sonho de qualquer jogador que chegue ao futebol profissional é representar o seu país, mas sim [foi um misto de emoções]. O Sporting não vinha de uma época boa e, para mim, a nível pessoal, as coisas estavam a sair bem e eu era falado. A chamada à seleção nacional aconteceu e foi um sonho tornado realidade. Como profissional, há que saber mudar o chip porque [na seleção nacional] são jogadores completamente diferentes, com outro treinador e outras ideias de jogo. É outro nível. Para mim, foi um impacto muito forte chegar, treinar e jogar com jogadores que são considerados dos melhores, pelo menos um [Cristiano Ronaldo] é considerado um dos melhores da história, se não mesmo o melhor.

Notícias ao Minuto Médio português estreou-se na Liga dos Campeões em 2014 num "momento de enorme felicidade".
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Em 2013/14, o André Martins protagonizou a sua melhor época no Sporting em termos de números, com cinco golos em 29 jogos, numa altura de maior estabilidade (Leonardo Jardim no comando técnico durante o mandato de Bruno de Carvalho) e sem competições europeias. Foi essa a chave para o Sporting ficar no 2.º lugar e conseguir reerguer-se?

Tenho de dizer que sim porque é diferente jogar de três em três dias, com estágios, viagens e lesões. Preparávamos um jogo por semana basicamente e tínhamos essa vantagem, com um treinador que conhecia bem o campeonato e os jogadores que tinha. Conseguiu tirar o máximo proveito de cada um de nós, de mim, do Adrien [Silva], do William [Carvalho], como sendo jogadores sem um aproveitamento muito grande, tendo conseguido 'espremer-nos'. É verdade que não tínhamos competições europeias, mas é bom relembrar que boa parte dos jogadores desse plantel vinham da formação. No onze inicial éramos uns cinco ou seis. Eu, o Cédric [Soares], o William [Carvalho], o Adrien [Silva], o Wilson [Eduardo]. Com a vontade de mostrar que queríamos e conseguíamos mais, fizemos uma época muito boa com o segundo lugar no campeonato [a sete pontos do Benfica]. Foi, sem dúvida, a minha melhor época como jogador do Sporting.

Seguiu-se uma época com Marco Silva, que marcou a sua estreia na Liga dos Campeões. Como descreve esse momento?

Já começámos a sentir isso na época anterior quando fomos apurados diretamente para a Liga dos Campeões por via do segundo lugar. Foi um momento de enorme felicidade. É inexplicável quando nos perfilamos e ouvimos aquele hino [da Liga dos Campeões]. É comovente e arrepia. Para muitos de nós era a primeira vez [naquele contexto] e foi um sentimento incrível. Tínhamos o Chelsea no nosso grupo e acabámos por ir a Stamford Bridge numa experiência única. É inesquecível, no fundo.

Essa época ficou marcada pela conquista da Taça de Portugal, frente ao Sporting de Braga, numa final verdadeiramente 'de loucos' no Jamor. Foi o dia mais especial da sua carreira?

Foi um dos dia mais especiais na minha carreira até porque já tive a felicidade de ganhar outros títulos. Como jogador do Sporting, foi sem dúvida o dia mais feliz, em que ganhei o meu primeiro título. Foi um jogo 'de loucos'. Lembro-me que tínhamos perdido na final anterior e até já dava por mim a pensar que não queria voltar ao Jamor, porque seria mais uma Taça perdida e custava-me. Até hoje, não consigo explicar o que se passou naquele jogo e onde é que os jogadores foram buscar forças. Estávamos com menos um desde muito cedo e o jogo estava praticamente resolvido, com o [Sporting de] Braga a controlar a vantagem [2-0]. A verdade é que conseguimos ganhar [nas grandes penalidades] e foi o meu momento mais feliz como jogador do Sporting.

Poucas oportunidades com Jorge Jesus? Eu segui outro caminho, mas foi um treinador que me ensinou muito, sobretudo taticamente. Foi um dos melhores com quem já trabalhei (...) Temos uma relação muito boa e já chegámos a trocar algumas mensagens também.

A época 2015/16 ficou marcada pela ida de Jorge Jesus para o Sporting e também pelo fim da ligação ao clube ao fim de 16 anos. O André foi aposta em todas as competições, mas somou poucos minutos nos sete jogos que disputou, de tal forma que na segunda metade da temporada até chegou a jogar pela equipa B. Não se entendeu com Jorge Jesus?

A mensagem que ele [Jorge Jesus] me passava é que gostava muito das minhas qualidades e elogiava-me nos treinos. Foi sempre muito direto comigo e disse-me que foi buscar um jogador direto para a minha posição, o Teo Gutiérrez, pelo qual fez muita força para contratar e que seria a primeira opção. Essa época coincidiu com o meu último ano de contrato e até veio ter comigo para desejar-me sorte, dizendo ainda que, caso não encontrasse uma boa proposta, podia ficar no Sporting, sem me dizer se jogaria mais ou jogaria menos do que naquela altura. Não sabendo como seria o plantel, não me poderia garantir o que quer que fosse. Depois eu segui outro caminho, mas foi um treinador que me ensinou muito, sobretudo taticamente. Foi um dos melhores com quem já trabalhei, até porque leva a exigência ao limite a nível tático.

Não houve, por isso, nenhum desentendimento?

Não. Depois disso até já cheguei a estar com ele algumas vezes. Lembro-me de uma vez ter ido ver um jogo do Sporting ao estádio do Feirense, na I Liga, e estivemos a falar. Temos uma relação muito boa e já chegámos a trocar algumas mensagens também.

Houve frustração por não ter tido oportunidades para dar mais de si numa época crucial?

Claro que sinto. É o meu clube de coração. Gostava muito de ter continuado e de dar mais a um clube que a mim me deu tanto, mas também tenho de fazer um bocadinho de 'mea culpa'. Quando as coisas me estavam a correr bem deveria ter sido mais ambicioso. Se calhar, acomodei-me um pouco. Era a minha cadeira de sonho e achava que já tinha conseguido tudo. Quando estamos nestas equipas temos de ir sempre até ao nosso limite e outros jogadores foram ganhando o seu espaço. Depois, correr atrás é muito mais complicado. Não estou arrependido porque as coisas foram correndo bem noutros sítios, com a conquista de títulos.

Notícias ao Minuto André Martins disputou apenas sete jogos às ordens de Jorge Jesus, naquela que foi a última época ao serviço do Sporting para o médio português.
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Curiosamente, no período em que mais vezes jogou, o Sporting ia na frente, mas depois, quando deixou de ser opção, houve uma reviravolta no topo da I Liga. Sente que o Sporting - que fez 86 pontos e ficou a dois do título - podia ter sido campeão se tivesse somado mais minutos?

Não, seria injusto. Creio que bastava aquela bola do Bryan Ruiz [na derrota frente ao Benfica, 0-1] ter entrado e o Sporting teria sido campeão. Estivemos sempre na luta e íamos à frente, mas foram meros detalhes. Claro que o Benfica fez um enorme trabalho de recuperação porque pareciam uma equipa acabada a meio da época e ninguém dava nada por eles, mas não foi por eu jogar menor que isso [reviravolta na classificação] aconteceu. Tive pena, achei que íamos ser campeões, tínhamos 'a faca e o queijo na mão' e acabámos por não ganhar o campeonato.

De saída para o Olympiacos, o André Martins foi chamado pelo Rui Jorge para jogar por Portugal nos Jogos Olímpicos de 2016. Foi a última experiência com a camisola da seleção nacional. Sente saudades?

Sim, muitas. É um espaço diferente ao que estamos habituados nos clubes. O ambiente é diferente, como os estágios. Tive a felicidade de participar nos Jogos Olímpicos e é um mundo completamente à parte de todos os troféus que já disputei. O grupo não era aquele que o mister Rui Jorge queria levar, mas muitos clubes não disponibilizaram os jogadores. Acabámos por ter uma boa prestação e, para mim, foi um momento de muito orgulho, que me ajudou a preparar para o desafio seguinte, no Olympiacos.

A presença dos portugueses de Diogo Figueiras e Gonçalo Paciência no Olympiacos, em 2016/17, foi o mote para que o André Martins continuasse depois no estrangeiro?

Claro que sim. Está relacionado. Se a minha primeira aventura no estrangeiro tivesse corrido mal, provavelmente não iria voltar a querer estar fora de Portugal. A verdade é que as coisas correram lindamente. Além dos portugueses, tínhamos também o Sebá, que tinha estado no Estoril, além do Pardo, ex-Braga. Foram pessoas que me ajudaram na minha adaptação. O [Diogo] Figueiras era meu vizinho e passámos muito tempo juntos. O [Gonçalo] Paciência chegou depois de mim e aí também já tentei ajudá-lo. Estávamos no maior clube da Grécia, com adeptos incríveis, numa cidade [Pireu] boa para viver. Foi uma experiência muito positiva.

Notícias ao Minuto André Martins festejou um campeonato na Grécia, ainda antes do 'reinado' de Pedro Martins no Olympiacos.© Getty Images  

Depois de duas épocas (e um campeonato conquistado) no Olympiacos, seguiram-se três épocas no Legia Varsovia. Chegou à Polónia, cruzou-se com vários portugueses (Cafú, Salvador Agra, Iuri Medeiros, Luís Rocha, Yuri Ribeiro...) e conquistou dois campeonatos. Considera que foi a fase mais regular da sua carreira ou sentia falta de algo?

Se analisar a minha carreira até ao momento atual, foi sem dúvida a fase mais regular e estável. Foram dois campeonatos seguidos, era utilizado com muita regularidade num campeonato muito físico, com temperaturas baixas no inverno. Saí da Grécia, que era um país quente, para ir para um país totalmente diferente. Eu era muito acarinhado pelos adeptos. Por isso, sim, foi a fase mais estável.

O que o levou a atuar pelo Hapoel Beer Sheva, em Israel, a meio da época 2021/22?

Nessa época, o Legia estava apurado para a Liga Europa, onde as coisas correram mais ou menos, mas no campeonato estava a ser desastroso. O treinador com quem tínhamos sido campeões no anterior [Czeslaw Michniewicz] acabou por ser despedido e, por coincidência, regressa o treinador [Aleksandar Vukovic] com quem eu tinha sido campeão no meu primeiro ano. Sempre joguei com ele [na primeira temporada] e, se não estou em erro, até era o mais utilizado. Fez três jogos no regresso e, depois das férias de Natal, ele chamou-me e disse-me que eu não fazia parte da ideia que ele queria para a equipa, pelo que o melhor seria eu encontrar uma solução. Para mim foi um pouco estranho e raro, mas estas coisas no futebol acontecem cada vez mais. O Hapoel [Beer Sheva] já me tinha contactado algumas vezes. Não era um interesse recente. Foi uma decisão fácil.

A minha namorada estava grávida e tínhamos tudo planeado para que a nossa filha nascesse em Varsóvia. Quando fui para Israel ainda havia a situação da [pandemia da] Covid-19. Não somos casados e tinha dificuldades em entrar no país. Essa foi uma das cláusulas que coloquei ao clube [Hapoel].Saiu com algum tipo de sabor amargo?

Tanto eu, como a minha namorada, a Matilde, estávamos muito bem em Varsóvia. Eu era acarinhado pelos adeptos. Gostava do clube e gostávamos da vida que tínhamos. Ela estava grávida de seis ou sete meses, creio, pelo que já tínhamos tudo planeado para que a nossa filha nascesse lá. Claro que tudo aquilo me apanhou um pouco de surpresa, ainda para mais vindo de uma pessoa que me conhecia bastante bem. A nossa vida também é isto. Tenho sempre de dar uma palavra de apreço à Matilde. Sem ela, as coisas seriam muito mais difíceis ou até mesmo impossíveis. Ela é que estava grávida e manteve-se calma, muito pragmática, sempre a ajudar-me a tomar as melhores decisões para nós, como casal. Ajudou-me sempre a lutar e a ir em busca daquilo que eu queria, mesmo tendo de abdicar um bocadinho da vida dela. Quando temos uma pessoa assim ao nosso lado as coisas tornam-se muito mais fáceis.

Partiram para Israel ao mesmo tempo?

Não partimos. Quando fui para Israel, ainda havia a situação da [pandemia da] Covid-19. Não somos casados e, logo por aí, tinha mais dificuldades em entrar no país. Essa foi uma das cláusulas que eu coloquei ao clube. Só assinaria se me garantissem que a Matilde ia para Israel o mais rápido possível. A gravidez já ia longa e não podíamos perder muito mais tempo, caso contrário depois não podia viajar. Cumpriram [com a palavra], ela viajou e a menina nasceu lá [em Israel]. Em relação a isso, estamos muito satisfeitos.

O André conseguiu jogar mais na segunda metade da época 2021/22 (16 jogos) do que em toda a última temporada (13 jogos), tudo por causa da grave lesão que o obrigou a parar vários meses. Isso foi determinante para não continuar em Israel?

Diria até que já vem um pouco antes disso. Cheguei em janeiro [de 2021], as coisas correram lindamente e até ganhamos uma Taça. Lesionei-me, passei o verão todo a tratar da lesão, voltei, vencemos a Supertaça frente ao Maccabi Haifa e eu volto a lesionar-me no adutor. Sofri pressão da presidência e dos diretores. Queriam que eu jogasse. Eles só podiam ter seis estrangeiros inscritos e eu era um deles. Mas a verdade é que eu estava lesionado e senti que me estavam a afastar aos poucos. Já não me sentia confortável. Não queria estar num sítio onde sentia que não me queriam. Estávamos de acordo para uma possível saída no passado mês de janeiro, mas com a lesão no ombro precisei de uma cirurgia. A saída acabou por ficar para este verão. Estou sem contrato e vou procurar outro clube. Ainda assim, consegui regressar e fazer três jogos antes de acabar a época.

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