O FC Porto-Arouca, da 4.ª jornada da I Liga, vai para a galeria dos jogos mais turbulentos da presente época no futebol nacional. Um encontro que terminou com um empate, 1-1, num duelo que se prolongou por mais de 112 minutos.
E, a partir do minuto 90, estalou o verniz, no Estádio do Dragão. O árbitro, Miguel Nogueira, assinalou um penálti a favor dos dragões, lance que mereceu a avaliação contrária por parte do sistema de vídeo-arbitragem. Porém, o juiz do encontro ficou impossibilitado de ter acesso às imagens procedentes da Cidade do Futebol, por avaria técnica do dispositivo, e teve de recorrer ao sistema walkie-talkie.
Muito se escreveu e o vice-campeão nacional chegou, inclusive, no final da partida, a emitir um comunicado a pedir a repetição do jogo “por violação das regras”. Em conversa com o Desporto ao Minuto, o antigo árbitro, Pedro Henriques, considerou que “não ocorreu nenhuma adulteração do protocolo. Este procedimento foi correto e a mesma situação já tinha sucedido há 15 dias”. E o antigo juiz é claro: “Não pode haver repetição do jogo”.
“As imagens que o VAR tinha na sua posse eram tremendamente esclarecedoras e o VAR sabia de forma clara e inequívoca que o penálti tinha sido mal assinalado. Eles não conseguiram foi transmitir a informação, através de imagens, devido à avaria técnica. E tiveram, por isso, de recorrer ao sistema walkie-talkie, algo que já tinha sucedido há duas semanas, no encontro entre o Torreense e o Nacional da Madeira”, começou por explicar Pedro Henriques, falando de uma situação que já estava prevista.
“Se houvesse ilegalidade no sistema walkie-talkie, então, essa situação já tinha sido colocada em cima da mesa, há duas semanas, pela Comissão de Arbitragem. Mais, aquele telemóvel que estava ali [no Dragão] não era, nem do árbitro, nem de alguém que lhe emprestou aquele dispositivo. Falamos de um sistema que já está incluído para cobrir eventuais falhas de comunicação entre a Cidade do Futebol e o estádio. Este sistema existe e a situação estava prevista”. Mais. O antigo árbitro dá conta que só numa situação em que se comete um erro de direito se pode abrir lugar a uma repetição de jogo.
“A repetição do jogo não vai acontecer, porque estas situações estão contempladas em protocolo. Quero relembrar que, para haver protesto e surgir a repetição de um jogo, tem de haver um erro de direito e não um erro de facto. E um erro de direito é um erro que põe em causa o espírito das leis e o desconhecimento das mesmas. Por exemplo, se do lançamento de linha lateral suceder um golo, isso é considerado um erro de direito, porque tal não pode suceder, já que se incorreu na violação das regras, e, daí, pode ser constituído um erro de direito”, acrescentou.
“A situação anormal é não ter sido transmitida a imagem, mas, para o VAR, a situação era óbvia em não assinalar a grande penalidade a favor do FC Porto. Por norma, o árbitro tem de ir ver a imagem para confirmar aquilo que o vídeoárbitro lhe está a dizer, mas, neste caso o árbitro confiou cegamente na informação que lhe estava a ser transmitida. Já que estamos perante uma situação especial, de avaria técnica”. Pedro Henriques estabeleceu, também, o paralelismo do que sucedeu ao minuto 90 com o que ocorreu depois, e que terminou com um penálti a favor dos azuis e brancos.
“Minutos depois, o árbitro assinalou uma grande penalidade, ao minuto 109, por alegada falta sobre Taremi, e que para mim não existe, mas, nessa situação, já requer interpretação, e como há um contacto na perna sobre o avançado, esse caso já obriga a uma visualização da imagem. O VAR até pode considerar que não há grande penalidade, mas, como há contacto, podemos aceitar que é um lance de interpretação e aceitar a decisão do árbitro principal. Os dois lances são de interpretação, mas o segundo obriga à visualização da imagem, já o primeiro é claro e inequívoco e as imagens revelam, sem qualquer dúvida, que não existe motivo para a marcação do castigo máximo. O erro grave seria validar este penálti”.
Os protestos existiram por parte do FC Porto, mas também no Benfica os alarmes soaram. As águias foram severas e, em comunicado, insurgiram-se contra os 22 minutos de compensação no Estádio do Dragão. “A placa de descontos só foi levantada ao minuto 96, por isso os 17 minutos de aditamento são sobre o minuto 90 e não 96’. Além dos seis minutos de jogo que não tivemos nesse período, ainda houve dois possíveis lances de penálti, os festejos do golo do FC Porto e o uso do VAR nesse lance. A que se deve acrescentar uma substituição do lado do Arouca. Logo, os 17 minutos tinham obrigatoriamente de ser prolongados. As pessoas depois foram pegar nos descontos que o FC Porto teve diante do Farense e do Rio Ave, jogos em que os dragões marcaram nos descontos, e a partir daí criou-se aqui uma teoria de conspiração. Mas, ao revés, iria suceder o mesmo. Os clubes queixaram-se durante tanto tempo de antijogo e, agora, depois de reformuladas as regras a nível internacional, queixam-se por excesso de tempo de jogo”, rematou.
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