João Janeiro já conta com experiências em países como Espanha, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos da América e, mais recentemente, virou-se para o 'mercado' da Europa de Leste. Na Roménia, o treinador português viveu um dos piores episódios da carreira, no início desta temporada. Aquilo que ele descreve como um "pesadelo".
Os responsáveis do FC Universitatea 1948, clube da cidade de Craoiva, terão tentado enganar João Janeiro, introduzindo alterações no contrato à última hora.
"Quando vou para assinar o contrato, um quarto de hora antes da apresentação - estavam lá os media, com a sala completamente cheia - dei pelo problema. Liguei para advogados e tudo, que me aconselharam a não assinar, porque o documento não tinha validade. Obviamente que as coisas mudaram logo", explicou João, ao Desporto ao Minuto.
O problema residia numa adenda feita ao acordo inicial com o treinador luso, que na prática reduzia os poderes de João Janeiro. "Enganaram-me bem, porque, das três vezes em que estive reunido com a direção, as coisas estavam todas alinhavadas. Desde abril que já estava tudo acordado. Eles mudaram totalmente a partir do momento em que começamos a pré-época, passam a ter comportamentos muito estranhos. Coisas gravosas e danosas. A nível pessoal, o que me afetou mesmo foi uma mudança no contrato. Uma adenda acrescentada por eles, em que basicamente eu não seria o treinador, não decidiria nada, basicamente, retiravam-me o poder todo, o poder normal de um treinador. Nunca vi nada semelhante. Fiquei atónito com aquilo que vivi, com as pressões que tentaram incutir e pensei que era tudo um pesadelo", confessa Janeiro.
Ao aperceber-se dessa reviravolta e também da falta de planeamento da pré-época, o técnico 'bateu com a porta', mantendo-se apenas 18 dias no cargo. A direção do Universitatea disse a Janeiro que seria um preparador físico (ex-guarda prisional) a assumir o cargo de treinador interino.
Depois do sucedido, o treinador diz ter percebido que esta é uma prática corrente em alguns clubes romenos, se bem que "não confunde o país com o clube". O Universitatea já teve nove treinadores nos últimos dois anos. João Janeiro não pretende avançar com uma ação judicial contra os romenos. Recebeu o salário equivalente ao período trabalhado e quer apenas "apagar este episódio".
Triunfos na Hungria e ensinamentos de Cruyff
Na memória do treinador ficam outras experiências positivas na Europa de Leste, nomeadamente, na Hungria e na Eslováquia. No primeiro país, treinou o Szeged 2011, Debreceni e Kisvarda, que levou a uma ida inédita às competições europeias. "Gostei de estar na Hungria, é um país muito bonito. Vários jogadores portugueses têm passado pelo campeonato da Hungria. É muito interessante, há bons jogadores. Joga-se bem futebol ali. Pecam por serem demasiado fechados ao exterior, mas têm estádios cheios. Tenho uma história muito bonita naquela zona, porque subo de divisão com o Szeged 2011. Um clube que estava na terceira divisão e subimos à segunda com o estádio por inaugurar. Sou, depois, contratado pelo Kisvarda, onde alcançamos pela primeira vez as competições europeias depois de termos sido vice-campeões.", explica.
No início da carreira, Janeiro já tinha tendência para as experiências lá fora. Passou pela Academia Beckham, em Inglaterra, e pelo Instituto Cruyff, em Amesterdão, com o próprio Johan Cruyff, quando tinha apenas 22 anos. "Foi o meu mentor durante um ano. Lembro-me de ele dizer várias vezes: 'João, nunca tenhas medo, é sempre para a frente. É bom teres medo, mas tens de correr riscos'. Já com o Marcelo Bielsa, enviei-lhe diretamente uma série de análises, e o adjunto dele respondeu-me passado uns dias a dizer que tinha gostado muito e que queria colaborar comigo. Obviamente que foi uma experiência excecional. Abri muito muito a mente e trabalhei muito", confessou.
"Gosto de Portugal, mas há um lóbi gigante"
Agora, Janeiro procura clube. "Há sempre mudanças de treinadores.. Com 42 anos tenho dois títulos, quatro idas à Europa, duas delas inéditas, um vice-campeonato na Hungria, quatro subidas de divisão. E já fiz quase 100 milhões de euros em vendas. Ainda quero acreditar que, na sociedade, há algum mérito, mas é difícil", afirma.
Treinar em Portugal é uma hipótese mas não basta querer. Janeiro integrou equipas técnicas em quase todas as divisões nacionais mas critica o "círculo fechado" das Ligas profissionais de futebol, no que toca a treinadores principais. "Eu gosto muito de Portugal, mas também sei que há um lóbi gigante, muito difícil de penetrar. Se os clubes olharem para o meu currículo, mais a parte financeira, se calhar já devia ter tido a oportunidade. Mas não me ponho acima de ninguém. Eu dia posso estar lá dentro e não ter moralidade para falar. A oportunidade virá", atira o treinador de 42 anos.
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