Só nesta temporada, os clubes da principal Liga da Arábia Saudita gastaram 976 milhões de euros em transferências, já depois de Cristiano Ronaldo se ter mudado do Manchester United para o Al Nassr, em dezembro de 2022. Nunca tinha sido tão grande o investimento e o mediatismo do futebol saudita, que tem vários portugueses em distintas funções.
Ainda antes deste novo fenómeno, já muitos portugueses tinham atuado na principal Liga do país produtor de petróleo, sendo um deles Gabriel Silva. O atual treinador-adjunto do Trofense, que tem Nuno Manta Santos como técnico principal, esteve com Jorge Simão no Al Fahya, em 2019/20.
"O campeonato, naquele momento, era muito competitivo. Tínhamos alguns jogadores estrangeiros, a chegar de campeonatos bons da Europa. Já havia qualidade, quer em jogadores, quer em fisioterapeutas, elementos da equipa técnica em geral. E, no que toca, ao Al Fayha, era um clube recém promovido mas sabia bem o que queria para criar alicerces para que isto pudesse acontecer", começa por dizer, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto.
Questionado sobre o poderio financeiro do país, comparado a Portugal, Gabriel afirma: "Quando estive lá não havia comparação, como é obvio é um fator que atraía jogadores e treinadores. Mas não era só isso. O próprio jogador saudita é um jogador que tem qualidade, e com o conhecimento dos treinadores estrangeiros, assiste-se a este crescimento na Liga."
Nessa temporada, o Al Fayha acabou por ser despromovido à II Liga. Gabriel Silva relata as diferenças de adaptação àquele campeonato. "Inicialmente, não é fácil adaptarmo-nos aos horários de treino, por exemplo. Lá treina-se ao final do dia, por causa do calor. O próprio jogador saudita é diferente. Enquanto aqui o jogador sabe claramente as fases que tem de passar para chegar a um patamar diferente, ali é preciso um bocadinho de convicção. Adaptarmo-nos à cultura deles, ir aos poucos impondo a forma como nós vemos o jogo, a parte tática, estratégica, não entrar repentinamente e querer mudar logo tudo. É precisa alguma mestria", admite o antigo preparador físico de Jorge Simão.
A ansiada subida do Torreense e a competitividade da Liga 3
Depois de algum tempo ao lado de Jorge Simão, Gabriel Silva passou a integrar a equipa técnica de Nuno Manta Santos, antigo treinador do Feirense, Marítimo ou Aves. Com ele, teve a oportunidade de passar a treinador-adjunto e fazer aquilo que mais gosta: "O planeamento do treino. A parte tática, sobretudo."
Ao lado do treinador, foi campeão da Liga 3, em 2021/22. "Foi um momento marcante, para o clube, para nós. O Torreense é um clube muito especial. Tem uma massa adepta fantástica. A direção procurou dar todas as condições para alcançarmos esse feito. Felizmente conseguimos fazê-lo. O grupo de trabalho foi fantástico. Demos alegria às gentes do Oeste. Foi marcante para as nossas carreiras", recorda.
"Nós tivemos alguns problemas de saúde ao longo da época que culminaram no momento em que fomos campeões. Neste caso, contra o Guimarães B, ganhámos 3-0, em casa, com o estádio cheio. Foi um dia especial para nós ao nível pessoal", segundo Gabriel Silva. Hoje em dia, continua na terceira divisão portuguesa, no Trofense, que disputa a fase de manutenção da Série 1.
"Numa primeira fase, tivemos de fazer uma reformulação quer do plantel, quer do reforço e profissionalização da estrutura. Nós reforçámo-nos com jogadores provenientes de clubes de I Liga, mas por empréstimos. Os mais experientes [Diogo Viana ou Kukula] são jogadores que aportam isso mesmo. Impõem os valores que pretendemos aos mais jovens", avalia.
Liga 3 dá visibilidade a treinadores e jogadores jovens
A dois jogos do final do campeonato, e com a manutenção assegurada, Gabriel Silva faz um elogio à competitividade da Liga 3. "Tem maior exposição do que a II Liga. São Ligas organizadas de forma diferente, a Liga 3 é da FPF e a II Liga é da Liga Portugal. No ano em que fomos campeões pelo Torreense, pelas estatísticas, em termos de nivelamento de resultados, foi a Liga mais competitiva. Tem a ver com isso. A visibilidade que dá a treinadores e jogadores jovens de se promoverem e de se lançarem", diz.
No futuro, o cargo de treinador principal é o grande objetivo do jovem de 31 anos. "Estou grato pela possibilidade de trabalhar naquilo que gosto. Mas procuro algo mais. Ambiciono chegar a patamares superiores como a I Liga ou mesmo no estrangeiro. Estou focado nos dois jogos que faltam mas tenho essa ambição. Todos os passos que tenho dado na carreira tem sido nesse sentido. Sinto-me cada vez mais preparado", garante.
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