"É um futebol muito fechado neles próprios. Se calhar, também é por isso que não se vê tantos jogadores checos a saírem para os principais campeonatos europeus. Quando tal acontece, têm dificuldade de adaptação. Tivemos agora esta experiência de ver o David Jurásek a aparecer sem grande sucesso no Benfica", lembrou à agência Lusa o técnico.
Portugal e República Checa medem forças na terça-feira, a partir das 21:00 locais (20:00 em Lisboa), na Red Bull Arena, em Leipzig, na Alemanha, em duelo da primeira ronda do Grupo F da 17.ª edição do Campeonato da Europa, que integra ainda Turquia e Geórgia.
"Nunca fiz esse exercício, mas devem-se contar pelos dedos os treinadores estrangeiros que estão no país. Se o dono do meu clube fosse de cá, com toda a certeza que eu não estaria aqui a treinar, mas sim um checo. Esta é a realidade. Os outros países evoluíram, ao abrirem as portas a atletas e técnicos estrangeiros, mas não vemos isso por cá, o que leva a que o próprio futebol checo, e, neste caso, a seleção, sejam prejudicados", julgou.
Os checos, 'vices' em 1996, têm 16 representantes do respetivo escalão principal nos 26 convocados do selecionador Ivan Hasek, após uma época em que o Sparta de Praga foi bicampeão nacional e reforçou um recorde de 14 cetros, o dobro do rival citadino Slavia.
"Há clubes que tentam fugir um bocadinho a este protótipo de futebol. O Sparta tenta um futebol associativo, de posse e parecido com o que estamos acostumados nos principais campeonatos. O Slavia também procura fazê-lo um pouco, mas ainda se notam muito as características de um jogo mais direto. O Viktoria Plzen começou a aproximar-se desses dois clubes nos últimos anos e acabou por ultrapassar até o Baník Ostrava, que, durante muitos anos, andou também no topo do futebol da República Checa", referiu Rui Amorim.
Longe desse espetro competitivo e identitário progride o Znojmo, quarto classificado do terceiro escalão, que passou a ser orientado em outubro de 2023 pelo técnico portuense, de 47 anos, em substituição do compatriota Luís Silva, e que reúne 26 futebolistas de 15 países diferentes, num plantel encimado por nove portugueses, contra apenas um checo.
"O dono do clube é árabe, gosta das características do jogador português e queria cortar com os paradigmas que já existem neste país e que são grandes, ao trazer uma filosofia completamente diferente. Penso que não há nenhum clube da III Liga que seja falado na imprensa como o nosso, que é chamado de seleção estrangeira. Esta é uma das formas que o dono encontrou para dar mais visibilidade ao projeto. Até ao momento, tem surtido efeito, porque temos muitos olheiros nos jogos e isso é bastante interessante", partilhou.
Definindo o inglês como idioma proeminente no balneário, Rui Amorim ajudou o Znojmo, detentor de uma única participação no escalão principal, em 2013/14, a progredir do 10.º lugar até às proximidades do pódio e a tornar-se um clube "mais estruturado", havendo o objetivo de "continuar a abrir portas neste mercado a jogadores e técnicos portugueses".
"Hoje temos muito mais adeptos a vir ao estádio e eles olham para o jogo de uma forma completamente distinta daquela a que estamos habituados. Gostam de desfrutar do que veem e, se puderem vencer, perfeito. Se isso não suceder, mas o espetáculo for bom, já estão contentes. No geral, somos respeitados pelo nosso trabalho. Não sendo um povo afetivo ou de muitas falas, vou-me apercebendo de que essa é um pouco a realidade na Europa Central. É uma experiência diferente e com a qual temos de conviver", finalizou.