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"O Moreirense não é fácil de treinar, sobretudo durante muito tempo"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o treinador português, de 54 anos, explica o que correu mal nos espanhóis do Lugo, onde esteve apenas oito jogos, e recorda a passagem pelo Moreirense, onde se sagrou campeão na II Liga.

Notícia

© Getty Images

Rodrigo Querido
03/07/2024 08:02 ‧ 03/07/2024 por Rodrigo Querido

Desporto

Exclusivo

Paulo Alves é um dos treinadores mais experientes do futebol português, com passagens por vários clubes da I e II Liga. Mais recentemente, o técnico, de 54 anos, decidiu embarcar numa aventura no estrangeiro e vivenciou experiência que não correu como esperado nos espanhóis do Lugo, da terceira divisão do país vizinho.

Mas esta experiência negativa no Lugo não apaga o que foi o segundo título de Paulo Alves enquanto treinador. Foi ao serviço do Moreirense que o técnico foi campeão na II Liga em 2022/23. Antes tinha levado  o Gil Vicente de regresso à I Liga em 2010/11.

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, Paulo Alves explica o que correu mal nos espanhóis do Lugo, onde esteve apenas oito jogos, o processo de saída do Moreirense e também do que quer para o seu futuro enquanto treinador.

O Moreirense não é um clube fácil de treinar, sobretudo durante muito tempoDe campeão da II Liga à terceira divisão espanhola. Como é que surgiu o convite para rumar ao Lugo?

O convite do Lugo surgiu através de um amigo que conhece bem o futebol  na Galiza. Quando reuni com o presidente do Lugo aceitei a proposta porque me pareceu um projeto desafiante até por ser um clube que na sua historia recente esteve muitas vezes na segunda liga espanhola e ideia era fazer regressar o Lugo a esse patamar. É um clube histórico, com muitos adeptos.

As coisas não correram definitivamente bem porque só esteve lá oito jogos… O que acha que falhou por lá?

Quando cheguei as coisas não estavam fáceis porque a equipa tinha sido feita para subir, mas não estava a conseguir ganhar. Tivemos de desbloquear mentalmente os jogadores e a verdade é que a equipa começa a fazer bons resultados. Quando as coisas estavam a correr bem, decidiram trocar de treinador. Até agora ainda não percebi a minha saída. É um clube muito instável, o meu sucessor também foi substituído muito rapidamente. É um clube que não dá muito espaço aos treinadores.

Recuemos a julho do ano passado. Promoveu o Moreirense, mas depois não segue com o clube para a I Liga. Porque decidiu não continuar em Moreira de Cónegos?

O Moreirense não é um clube fácil de treinar, sobretudo durante muito tempo. Em função da época que fiz, fomos campeões com largo avanço, esperei que os responsáveis falassem comigo, mas como o não fizeram acabei por anunciar que iria sair no final da temporada. Cada uma das partes seguiu o seu caminho. Nas duas últimas épocas houve estabilidade, comigo e com o Rui Borges, mas para trás houve sempre mais instabilidade a este nível dos treinadores.

Como é o melhor treinador da II Liga em 22/23 acaba depois sem emprego. É uma ironia do destino?

Não diria que é ironia do destino, é o que é. Tive várias possibilidades para treinar, quer em Portugal como no estrangeiro, mas estabeleci para mim algumas fasquias, algumas metas. Queria continuar a lutar por títulos, treinar na I Liga ou na II Liga para subir de divisão, mas apesar de algumas abordagens, tal como aconteceu agora no inicio desta época, acabou por não surgir o desafio que eu procurava. Mas é uma característica do futebol português, treinadores que conseguem alguns títulos, mas depois não conseguem trabalhar e outros a quem, por vezes, a vida profissional não corre pelo melhor mas conseguem ter trabalho. É a realidade e não há muito mais a fazer. É esperar pelo projeto certo.

E teve falta de ofertas em Portugal desde que saiu do Moreirense para ter de rumar a Espanha? Não existiu alguma proposta aliciante?

Vão surgindo propostas, ainda há poucos dias estive quase a assinar por um clube estrangeiro, mas acabei por decidir que ainda não era o projeto certo. Estou tranquilo, acredito que rapidamente vou estar a trabalhar em algo que eu sinta que seja aliciante para mim.

Tem tido algumas ofertas de Portugal nas últimas semanas? Há vários clubes à procura de treinador...

Tenho tido contactos, há sempre muitas abordagens, umas mais aliciantes que outras, faz parte daquilo que é o mercado. O mercado de treinadores, atualmente, é muito complexo.

Sente que já merecia uma oportunidade mais consistente num clube da I Liga?

A meritocracia é algo que no futebol português não se aplica muito, não é por aí que se desenvolve o mercado de treinadores. Sinto-me preparado para qualquer desafio, tenho a noção do que é ser treinador de futebol, sei quais são as exigências, as formas de trabalhar, tenho experiência para abordar qualquer tipo de desafio. Não me sinto melhor do que ninguém, também não me sinto inferior a rigorosamente ninguém, como provavelmente outro treinador dirá o mesmo. Mal seria se neste momento da minha carreira não me sentisse preparado para treinar na I ou na II Ligas.

Presumo então que, na sua opinião, seja mais fácil treinar na I Liga do que na II Liga...

Considero que é muito mais fácil treinar na I Liga. Desde logo porque há mais qualidade técnica, é diferente. Na II Liga há sempre aquela perspetiva do jogador querer dar o 'salto'. É um campeonato intermédio, onde os jogadores estão à porta dos maiores clubes, mesmo a seguir aos tradicionais 'grandes', e há sempre muito mais luta, entrega e intensidade, o que torna a liga muito competitiva. Nas segundas partes os jogos acabam por se partir e fugir ao controlo dos treinadores. É uma liga que exige algumas capacidades de análise e experiência para que se consiga ter sucesso.

Leia Também: "Portugal? Se tivermos espírito de sacrifício, seremos fortes candidatos"

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