"A forma de jogar de Portugal mudou bastante da 'era' Fernando Santos para cá. Há uma dinâmica completamente distinta, com os laterais a jogarem muito por dentro, em vez do típico '4-3-3' posicional. Às vezes, vemos o João Cancelo a entrar naquela linha do meio-campo. Quando alinham com três defesas, o Nuno Mendes é central, mas, depois, com a bola, desenvolve-se como lateral ofensivo [pela esquerda]. Isso pode ser uma vantagem, porque a França estava habituada a outro estilo quando defrontava Portugal", analisou à agência Lusa o defesa central, que saiu recentemente do Estrela da Amadora, da I Liga.
Portugal e França lutam pelo acesso às meias-finais da 17.ª edição do Europeu na sexta-feira, a partir das 21:00 locais (20:00 em Lisboa), no Volksparkstadion, em Hamburgo, na Alemanha, oito anos depois do triunfo luso sobre os 'bleus' (1-0, após prolongamento) na decisão de 2016, no Stade de France, em Saint-Denis, graças ao tento do suplente Éder.
"O ponto forte da França é que trabalha com o selecionador Didier Deschamps há muitos anos. Desde o Euro2016, a base da equipa é a mesma. Havia jogadores que, apesar de não serem titulares indiscutíveis na altura, já frequentavam as convocatórias com alguma regularidade. Como outros já se retiraram, ficaram de pedra e cal. Eles têm uma geração de que vamos ouvir falar durante alguns anos", assumiu Pedro Mendes, de 33 anos, que competiu no escalão principal gaulês por Rennes (2015-2017) e Montpellier (2017-2023).
Portugal precisou do desempate por grandes penalidades (3-0, após empate 0-0 nos 120 minutos) para suplantar a Eslovénia nos 'oitavos', enquanto a atual vice-campeã mundial França bateu a Bélgica (1-0) com um autogolo de Jan Vertonghen, ex-central do Benfica.
"Acho que está aos olhos de toda a gente que Portugal pode fazer e dar mais, mas isso é muito relativo e quando estamos de fora somos todos treinadores de bancada. A verdade é que, se tivessem vencido por 1-0 ou 2-0, ninguém falaria da tática. Começamos sempre a questionar quando o resultado não corresponde à exibição e é normal que haja críticas, mas não vou falar de táticas ou de escolhas, até porque não me compete. Simplesmente, quero vibrar com este Europeu e ver Portugal a ir o mais longe possível. Penso que todos os portugueses vibram da mesma maneira quando chegam estas competições", pontuou.
Com formação concluída no Sporting, Pedro Mendes antecipa um duelo "de 50/50 e com maior grau de exigência" frente à França, campeã europeia em 1984 e 2000, que encara Portugal pela quinta vez em partidas a eliminar nas fases finais de grandes competições.
"Em 2016, humildemente e caladinhos, fomos lá chegando etapa a etapa. Se calhar, não tínhamos o conjunto de atletas mais forte e ninguém dava nada por nós, mas ganhámos. Agora, fala-se no contrário e dizem que estes são os jogadores mais fortes que temos. O importante é chegar o mais longe possível. Isto será jogo a jogo e pode ser resolvido por um monte de fatores. Na final do Euro2016, o facto de Cristiano Ronaldo ter saído [cedo, devido a lesão] terá funcionado para a França do género: 'o melhor jogador do mundo já saiu, então vamos acabar com eles. Isto vai ser fácil". Na volta, pendeu para nós", notou.
Os 'fantasmas' desse Europeu perdido em casa "ainda perduram" na aura dos franceses, que "estão mortinhos" para se desforrarem da final de 2016 e "não perdem uma ocasião para mandarem uma boquinha em jeito de brincadeira" à extensa comunidade emigrante portuguesa naquele país, mostrando um "moral elevado" pela conquista do Mundial2018.
"Sendo um pouco irónico, até é bom que os franceses, os portugueses e o mundo inteiro desconfiem do Cristiano Ronaldo. Quanto mais 'haters' tem, mais vida lhe dão e mais ele se sobressai. Quem nos diz que não poderá aproveitar esta última prestação menos bem conseguida para unir esforços e tornar-se o herói do próximo jogo, tal como foi em outras alturas? Até é bom que exista essa desconfiança, porque pode ser que, de um momento para o outro, abra a lata e festeje o primeiro golo neste Europeu", indicou Pedro Mendes.
Leia Também: E agora, Martínez? Teste de fogo chega ao 20.º jogo e 'vale uma vida'