"Um jogador tem de ter condições técnicas, físicas e táticas, mas, depois, há um detalhe essencial: o controlo psicológico e a capacidade mental de conseguir suportar e gerir as emoções no treino e no jogo. Com aquela idade [24 anos], ele tem manifestado grandes qualidades neste patamar competitivo, que são determinantes para poder ser um guarda-redes de elite, tal como é há muito tempo", avaliou à agência Lusa o técnico, de 64 anos.
Na segunda-feira, Diogo Costa tornou-se o primeiro a defender três grandes penalidades consecutivas num desempate da marca dos 11 metros em Europeus e ajudou Portugal a suplantar a Eslovénia (3-0, após empate 0-0 no final do prolongamento), nos oitavos de final da edição de 2024, para se cruzar com a vice-campeã mundial França nos 'quartos'.
"O que não é normal é um jovem não cometer erros, sobretudo em posições específicas. Por exemplo, quando vemos um guarda-redes, não olhamos à idade e achamos que ele tem de fazer tudo perfeito. Não há perfeição em qualquer posição. Agora, aquilo que nos surpreende é ele errar tão poucas vezes em função da sua idade", admitiu José Peseiro.
O guarda-redes do FC Porto é o único totalista português na competição, ao totalizar 390 minutos, e está a disputar a segunda fase final de uma grande competição internacional, após também ter relegado para o banco de suplentes Rui Patrício - titular indiscutível da baliza nacional entre 2011 e 2021 e vencedor do Euro2016 - e José Sá no Mundial2022.
Na partida dos quartos de final perante Marrocos (0-1), Diogo Costa saiu dos postes para tentar afastar um cruzamento de Yahia Allah na esquerda, mas deixou-se antecipar pelo golpe de cabeça de Youssef En-Nesyri, que foi suficiente para afastar Portugal no Qatar.
"Normalmente, os guarda-redes mais jovens mostram dificuldades no jogo aéreo, porque não é fácil avaliar onde é que estão os adversários e os colegas de equipa para poderem atacar a bola no sítio e momento certos. Errar num Mundial, e em representação de uma das melhores seleções do planeta, tem o seu impacto, mas não chegou a perder o lugar por causa disso. Isso é sinal de que os treinadores sabem bem do seu potencial", referiu.
Na semana passada, numa conferência de imprensa em pleno Europeu, que decorre na Alemanha, Diogo Costa salientou que não teve a sua melhor prestação no Mundial2022, mas José Peseiro julga que "não se deveu só a ele" a 'queda' de Portugal com Marrocos.
"Não é fácil para qualquer atleta suportar a pressão, o stress e a crítica diária e cada vez mais mordaz, negativa e demolidora que existe ao segundo nas redes sociais. Agora, ele tem demonstrado que, quando falhou naquele Mundial ou em certos jogos pelo FC Porto, isso não afetou a sua autoestima e a capacidade de estar tranquilo, algo que é essencial para um 'guardião' de uma equipa grande, que tem pouco trabalho no jogo. O erro passa por ele sem deixar muita mossa e só consegue fazer isso quem é muito forte", observou.
O técnico concorda que nada separa Diogo Costa dos principais campeonatos europeus, numa altura em que o atleta 'preso' com uma cláusula de rescisão de 75 milhões de euros a um vínculo por mais três anos ao FC Porto, cuja equipa principal começou a representar em 2019/20, quatro épocas depois dos aprontos iniciais.
"Isso deveu-se principalmente ao Daniel Correia, que veio da equipa B do FC Porto para me coadjuvar no treino de guarda-redes e disse-me que o miúdo era muito bom. O Diogo Costa tinha 16 anos, alinhava nas equipas de sub-17 e sub-19 e achámos por bem que, dado o potencial mostrado nessa idade, seria bom para ele treinar com o Iker Casillas, o Helton e o José Sá, numa perspetiva de ser melhor avaliado e evoluir com companheiros deste nível", indicou José Peseiro, treinador 'azul e branco' entre janeiro e maio de 2016.
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