"Entendo e concordo que é fundamental que seja feita uma auditoria às contas do Boavista para que, de uma vez por todas, se acabem com os mitos. Os atuais administradores devem fazer tudo para proteger os interesses da Boavista SAD. Esta será a terceira ou quarta auditoria que é feita e, com toda a certeza, mais uma não fará mal nenhum. Podem aproveitar esta auditoria para explicar aos sócios onde se encontram os cinco milhões de euros que o [acionista maioritário] Gérard Lopez enviou neste defeso e porque é que não pegaram nesse dinheiro e levantaram os impedimentos ou pagaram o acordo a que se obrigaram junto da Administração Tributária", apontou o dirigente, em comunicado enviado à agência Lusa.
A SAD do Boavista vai avançar com uma auditoria forense à gestão de Vítor Murta, anunciou na terça-feira o administrador executivo espanhol Carmelo Fraile, que integra os novos corpos sociais da sociedade 'axadrezada' por indicação do investidor hispano-luxemburguês Gérard Lopez, após ter renunciado ao anterior cargo não-executivo em divergência com o então presidente, responsabilizando-o por "danos significativos" entre 2020 e 2024.
"O administrador Carmelo disse que desconhecia os atos praticados pela [antiga] administração. Isso é mais uma das muitas mentiras, pois ele tem um reversão movida pela Administração Tributária em virtude de ter sido comprovadamente administrador de facto da SAD do Boavista e, dessa forma, ter tomado decisões e conhecer tudo o que se passava no dia a dia da SAD", notou Vítor Murta.
Impedido pela FIFA de inscrever novos jogadores há quatro janelas de transferências seguidas, devido a dívidas, o Boavista, nono classificado da I Liga, com três pontos, em duas jornadas, passou a ser liderado em maio pelo ex-avançado senegalês Fary Faye, que era administrador com atuação exclusiva na área do futebol e encabeçou a única lista aos órgãos sociais formalizada pela Jogo Bonito, sociedade controlada por Gérard Lopez e detentora de uma posição maioritária no capital 'axadrezado'.
"Quero salientar a minha estranheza por também não ser acusado da gestão do Bordéus e do Mouscron [nos quais Gérard Lopez também investiu]. Esta administração devia deixar de perder tempo em comunicados e de colocar notícias nos jornais e dedicar-se a resolver os problemas da SAD. Relembro que a minha administração resolveu inúmeros impedimentos e vários pedidos de insolvência. A diferença é que estávamos mais preocupados com o clube e a SAD do que a andar a denegrir a imagem das instituições", atirou Vítor Murta, que não foi convidado por Gérard Lopez para fazer mais um mandato na SAD e atualmente preside ao clube.
À procura de saldar dívidas para inscrever em tempo útil o médio defensivo nigeriano Ibrahim Alhassan (ex-Beerschot) e o extremo brasileiro Bruninho (emprestado pelo Atlético Mineiro), ambos oficializados em julho, o Boavista vendeu o lateral direito Pedro Malheiro aos turcos do Trabzonspor, embolsando dois milhões de euros fixos, mais 500 mil euros por objetivos, e o defesa central nigeriano Chidozie aos norte-americanos do Cincinnati, por 700.000 euros, 500.00 dos quais fixos.
"Toda a gente se lembra dos anúncios que foram feitos no final do campeonato pelo atual conselho de administração de que tudo ia ser resolvido. Sucede que até agora nada foi feito e estamos numa situação bem pior do que há três meses. Contratámos e dispensámos sem cuidar de levantar os impedimentos. Fizeram-no porque são incompetentes. Neste momento, a SAD está a competir com um grande número de atletas da formação que foram potenciados pela anterior administração e que são mais-valias para poderem gerar no futuro elevadas receitas, sendo que também fizemos contratações que vão trazer mais-valias financeiras", lembrou.
Ressalvando que Carmelo Fraile "não tentou desmentir uma verdade inatacável sobre os salários em dia e os 400.000 euros deixados na conta" pela antiga gestão, Vítor Murta lamentou ter sido mencionado pelo administrador espanhol quanto à sua condenação por assédio sexual a uma funcionária da SAD do Boavista, que foi recentemente proferida pelo Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
"Essa alusão mostra, acima de tudo, o caráter de quem a profere, mas eu relembro que fui condenado por discriminação e não por assédio, numa decisão que se encontra em recurso no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD). Acresce que o processo teve início numa denúncia anónima e tem um duplo objetivo: por um lado, distrair os sócios para que estes não percebam a incompetência de quem está neste momento à frente da SAD; por outro, mancharem o meu nome de forma a afastarem-me da presidência do clube e assim dominarem também esta instituição", concluiu.
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