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Pinto da Costa 'abre livro'. Do FC Porto àqueles que não quer no funeral

Ex-presidente do FC Porto explicou, ainda, os motivos que o levaram a recandidatar-se à presidência do clube, apesar de saber que lutava contra um cancro.

Pinto da Costa 'abre livro'. Do FC Porto àqueles que não quer no funeral
Notícias ao Minuto

21:33 - 25/08/24 por Notícias ao Minuto

ao minuto Ao Minuto Desporto FC Porto

A TVI emitiu, ao início da noite deste domingo, a primeira de duas partes de uma extensa entrevista concedida por Jorge Nuno Pinto da Costa, na qual este abordou diversos temas, não só no plano desportivo, como também no pessoal.

 

O antigo presidente do FC Porto tornou públicos, pela primeira vez, os motivos que o levaram a candidatar-se às eleições para a presidência do FC Porto (das quais saiu derrotado por André Villas-Boas, no passado mês de abril), assim como o que esteve por trás das renovações dos contratos de Sérgio Conceição e de Pepe (que não chegou a ser oficializada).

Além disso, o ex-líder máximo do conjunto azul e branco revelou que recusou realizar quimioterapia e que até já pagou o próprio funeral... ao qual nem todos irão poder assistir, visto que o próprio elaborou uma lista com nomes 'proibidos'.

Irá lançar um livro em outubro

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

'Azul até ao fim'. A capa vai ter um grande impacto, mas não posso, por acordo com o editor, dizer. Mas foi escolhida por mim.

Traições entre portistas

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Só podem trair os que estão ao lado de nós, porque os outros são adversários. Os que traem são os que estão cá dentro.

O que quer que digam de si

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Os que não me gramam, vão dizer que eu era isto e aquilo. Os meus amigos vão dizer bem. Há uma coisa que ninguém pode dizer, é que, em vida, tenha prejudicado alguém intencionalmente, ou que tenha feito algo de ilícito. Tenho a certeza de que isso ninguém irá dizer. Agora, é óbvio que a minha família ver entrar, com ar solene, uma pessoa com uma coroa de flores, sabendo que este gajo foi um traidor, um sacana para o meu pai... Isso, não quero, não por mim, mas por eles.

O funeral

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Já paguei o funeral. Dizem que nunca tinha acontecido, que as pessoas só pagam depois da Missa do Sétimo Dia. Eu disse 'Não, pago já, que é para não empurrarem uns para os outros e ninguém ter a preocupação de pagar o funeral'. Vai ser como eu quero. Quero que o meu corpo vá para a Igreja das Antas, que eu frequento semanalmente. Não quero ninguém de preto. Quero tudo de azul. Depois, há pessoas que não quero lá. Não vou revelar, mas estão no livro, que sairá em outubro (...). São todos os que me traíram durante a vida. São algumas pessoas... Mas, depois, vê-se. Eu quero que o meu funeral não seja, como em muitos, em que vejo meia dúzia de pessoas à volta de um caixão, com sentimentos de lamento profundo, e outros cá fora a contar anedotas. Não quero que, naquele momento, a minha família e amigos sintam que estão rodeados de hipócritas. Quero saber que eles sentem que todos estão com o mesmo sentimento, de amizade, saudade, de acreditar que vou para um mundo melhor e que, um dia, irão ter comigo.

Limitações de saúde

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Faço a minha vida na mesma. Fiz sempre. Tudo o que quis fazer, fiz. A vida proporcionou-me amigos que, hoje, estão comigo como se fosse presidente do FC Porto ou da República. Isso, para mim, não tem preço. Ao mesmo tempo, também faço isto para que os meus amigos estejam preparados, porque, um dia, isso vai acabar.

Com quem partilhou o segredo de que estava doente

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Não partilhei com ninguém. Partilhei com a minha mulher, ela fingindo que não sabia, mas sabia. De resto, não disse a ninguém. Não disse aos meus filhos. Tinha de ir ao IPO, e disse à minha filha 'Olha, vou ao IPO porque tenho uma coisa que não sabem o que é'. Ela ficou preocupada e disse que vinha comigo. Ela e a minha mulher vieram comigo, e aí é que ficaram a par da situação. Foi já este ano (...). Estão a reagir bem, talvez pela maneira como eu encaro. Não alterei absolutamente nada na minha vida. Só faço medicação. Fui ao hospital há um mês, e, agora, se calhar, vou em setembro. Fisicamente, andei com uma dor, mas, desde que fiz o último tratamento, desapareceu. Acho que elas também encaram assim. A única coisa que mudou na minha vida é que só estou com quem gosto. Sou incapaz de dizer que tenho de ir aqui ou acolá. Isso acabou para mim. Não tenho. Já não tenho obrigações no FC Porto, por isso, não tenho obrigações de estar com quem não quero.

Em quem pensou quando sabia que ia morrer

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Pensei 'É uma chatice, tenho coisas para resolver, mas, finalmente, vou estar com a minha mãe'. Acredito que há uma outra vida. Foi a pessoa mais importante da minha vida. Nós éramos seis. Não éramos seis santinhos (...). Foi a minha avó que me fez sócio do FC Porto, aos 16 anos, porque, em minha casa, não se podia falar de futebol. O meu pai nunca viu um jogo de futebol na vida. Achavam que o futebol era para não estudarmos, por isso, eu ia ao futebol às escondidas com o meu tio. Ia-me buscar a casa para almoçar e eu ia ao futebol. Chegava a casa, a minha mãe perguntava onde fomos e eu dizia 'Fomos à Póvoa, lanchar'. Era uma mentira que não fazia mal a ninguém. Ela criou-nos... Desde pequeno que nos ensinou que a seriedade era fundamental. Nós íamos ao barbeiro e ela dava-nos dez escudos. Cortar o cabelo custava nove escudos, e nós tínhamos de entregar o escudo. Ela dizia 'Meninos, tão ladrão é o que rouba um escudo como o que rouba mil contos'. Ensinou-nos os princípios de rigor, de lealdade, de confraternização... Nunca nos zangámos. Se algum tinha alguma coisa, dizia 'Dois não brigam se um não quiser' (...). Acho que ela estará orgulhosa, porque, quando eu estava na dúvida se me candidatava ou não, em 1982, virou-se para mim e disse 'Oh Nuno, sempre vais para presidente do FC Porto?'. Eu perguntei 'O que é que a mãe sabe disso?'. Ela disse 'Ouvi na Bola Branca. Eles querem que tu vás'. Eu perguntei o que é que a minha mãe achava, e, quando eu esperava que me dissesse que não fosse maluco e não me metesse nisso, disse 'Acho que tens de ir, é o teu destino. Se gostas de ti e tu, desde pequenino, gostas do FC Porto, acho que é o teu destino, tens de ir'. Essa simples frase marcou-me e foi uma das razões pelas quais avancei. Teve uma grande influência na minha vida e na dos meus irmãos.

Duplo sonho que faltava ao leme do FC Porto

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Hesitei muito em candidatar-me. Só me candidatei depois de ver o rumo que as coisas levavam e as pessoas que estavam envolvidas na equipa do André Villas-Boas, mas consciente de que estava tudo montado para que houvesse uma tendência clara para o outro lado. Não me intimidou. Preocupava-me mais dizer 'Abandonei, não fui à luta para defender o que queria para o FC Porto' do que dizer 'Não fiz porque perdi as eleições'. Em democracia, ganha-se e perde-se. O que espero é que ele faça o melhor que puder pelo FC Porto.

Pepe terminou a carreira

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Tenho uma cópia [da renovação contratual], e o Pepe o duplicado. Tenho fotografias dele a assinar. Ele disse 'Eu assino. Se o presidente ganhar as eleições, mete o contrato e eu jogo. Se não ganhar, acabo a minha carreira'.

Recandidatou-se ao FC Porto sabendo do cancro

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Na altura, não sabia tudo o que sei hoje sobre a minha saúde, mas sabia o meu estado. Quando me candidatei, a minha intenção era fazer um ano e, no final, provocar eleições. Não era como diziam, indicar alguém como sucessor. Sempre fui contra isso e disse que o FC Porto não era uma monarquia (...). Havia duas coisas que queria muito e que considerava prioritárias, no FC Porto. A primeira era fazer uma academia, e tinha isso em mãos com a Câmara da Maia. É público, um projeto fantástico, com pavilhões, campos... Queria fazer e estava praticamente feito. Depois, como não ganhei as eleições, puseram isso de lado. Quanto a mim, mal, mas, agora, são eles que governam. Achava que era fundamental para a vida do FC Porto. Em segundo, tinha um sonho, que era voltar a ver o FC Porto campeão europeu, e achava que, para isso, era fundamental manter o Sérgio Conceição. Por isso é que, antes das eleições, contratei o Sérgio Conceição, tal como o Pepe. Tenho um contrato assinado pelo Sérgio Conceição e pelo Pepe para jogarem mais este ano.

À-vontade com a morte

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

É aquilo que temos de certo quando nascer. Assinava já um contrato ou não para a sua filha durar até aos 86 anos? Do que me posso queixar? Vivi 86 anos, pelo menos. Ainda vou fazer os 87, não tenho dúvidas. Vivi uma vida fazendo praticamente o que fiz. O meu irmão dizia, antes de morrer 'Jorge, nós fizemos o que quisemos da vida. Tu achas uma estupidez eu ter dedicado a vida aos mortos, e eu acho uma estupidez tu teres dedicado a vida ao FC Porto'. Mas foi o que quisemos. Sempre estive onde quis estar, com quem queria, até querer estar. Não me posso queixar da vida. Até aos 86, 87 ou 88 anos, só tenho a agradecer a Deus a vida que me deu, com tantos amigos como os que sinto que tenho.

Vai festejar 87 anos em dezembro

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Espero que sim, e vou convidá-la.

Tratamento ao cancro

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Recusei-me a fazer quimioterapia. Quando soube dos sintomas, disse que preferia viver menos, mas viver, do que durar mais e não viver. Fiz radioterapia, que penso que teve resultados positivos, porque tinha uma dor que desapareceu. Tenho uma consulta, em setembro, para ver se necessito de fazer outra vez, mas tenho a máxima confiança na equipa médica que me está a acompanhar. O Dr. Nuno Sousa, do IPO, tem sido uma pessoa excecional, não só como médico, mas como amigo. Estou tranquilo. Digo sempre que temos de nos preocupar com as coisas que podemos alterar. Agora, com as que não podemos alterar... Temos de confiar em quem pode ajudar, que são os médicos.

O cancro

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Quão doente estou? Acho que estou doente desde o dia em que nasci. Infelizmente, no dia em que nascemos, temos uma certeza, a de que vamos morrer (...). Não tenho a certeza de quando vou morrer. Não é iminente, se não, não estava aqui, estava a vestir o fatinho para ir para o caixão. Sei, desde o dia 8 de setembro de 2021, que tenho um cancro. Num livro que escrevi e sairá em outubro, digo que combinei com os médicos que esse segredo ficava comigo. Não queria que ninguém que ninguém à minha volta estivessem preocupados ou a sofrer com o facto de saberem que estava doente. Não alterei nada da minha vida. Encarei como uma coisa natural. Naturalmente, quando alguém diz 'Ai, que tenho cancro'. Era bom que já ninguém morresse, mas não é assim. Há muita gente que se salve e dura muito tempo. Eu espero durar mais algum, mas sei que tenho um cutelo na cabeça.

Vida pós-FC Porto

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Sinto-me Jorge Nuno Pinto da Costa. Não apago o meu passado. Não me esqueço que fui dirigente durante 60 anos e presidente durante 42, mas, hoje, sou um homem sem essas preocupações e responsabilidades, com muito orgulho do que fiz no FC Porto, mas gosto de ser um cidadão normal.

A morte

Carlos Pereira Fernandes | há 2 semanas

Vou sempre estar aqui. Mesmo depois de partir, vou estar sempre aqui, no Dragão, com os meus amigos. Quando chegar, irei consolado por conviver com amigos e família. Não me preocupa. É inevitável. Se tiver medo, o que ganho com isso? Nada. A única coisa que temos certa é que, um dia, vamos morrer. Tomara eu que os meus filhos e netos durassem, pelo menos, até aos 86 anos. É natural. É o final de uma vida, e espero que o meu não seja já. Ainda quero ver muitas coisas, os meus netos crescer, o FC Porto ganhar, conviver com os meus amigos...

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