Rácio entre orçamento e pontos afeta saídas dos treinadores, diz estudo

O rácio entre orçamento da temporada desportiva e número de pontos da respetiva equipa num campeonato nacional de futebol é o fator que mais influencia a permanência ou saída do treinador, defende um estudo da Universidade do Minho.

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© Getty Images

Lusa
07/09/2024 08:54 ‧ 07/09/2024 por Lusa

Desporto

Universidade do Minho

Os investigadores Paulo Reis Mourão e Paulo Araújo concluem que a saída de um treinador se torna mais provável quanto maior for o custo médio por ponto, num artigo publicado na revista especializada "Applied Economics", que analisa 598 treinadores e 1.074 mudanças no cargo entre as épocas 2009/10 e 2019/20, nas principais ligas de Alemanha, Espanha, França, Inglaterra, Itália e Portugal.

 

"A pressão financeira, nomeadamente a do orçamento, condiciona muito a vida do treinador. Isso significa que um treinador que chegue a uma equipa com exigência financeira grande é um treinador que, desde as primeiras jornadas, tem de mostrar vitórias consecutivas", adianta Paulo Reis Mourão em declarações à Lusa.

Numa alusão à época em curso, o docente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (UM) realça que o Benfica, sétimo classificado da I Liga, com sete pontos, apresenta um custo por ponto "muito mais alto" do que os de Santa Clara ou Famalicão, ambos com nove, e já efetuou uma troca de treinador, com Bruno Lage a suceder a Roger Schmidt.

O estudo em causa indica, por exemplo, que, num determinado período de 10 jornadas, os clubes com orçamentos iguais ou superiores a 10 milhões de euros por ponto 'seguram', em média, 50% dos treinadores, enquanto as formações com orçamento inferior a 10 milhões exibem uma percentagem de 93%.

"Um treinador com orçamento mediano ou mais baixo terá um estímulo muito maior para a sua 'sobrevivência' por cada vitória ou empate. Nas derrotas, terá uma paciência maior por parte da direção", acrescenta, vincando que "a pressão para despedir" está sobretudo associada aos campeonatos, as provas que mais esforço exigem e mais influenciam o ambiente no seio do plantel.

A dupla de investigadores indica ainda que o risco de saída é mais elevado nas primeiras 12 a 14 jornadas, antes de diminuir progressivamente, e identifica as pressões oriundas da direção ou do rendimento de equipas vizinhas ou rivais como demais fatores com peso na continuidade ou não de um treinador.

No período analisado, a I Liga portuguesa é a prova "mais exposta" às saídas de treinadores, num fenómeno mais 'alimentado' pelas equipas de orçamento "mediano ou baixo", por vezes com mais do que um despedimento por época, do que os designados três 'grandes', Benfica, FC Porto e Sporting.

Paulo Reis Mourão salienta ainda que os clubes portugueses tendem a trocar mais vezes de treinador no início dos mandatos das respetivas direções, demonstrando o peso da "leitura de ciclo eleitoral" em decisões desportivas, a principal especificidade lusa no estudo.

Entre 2009/10 e 2019/20, os treinadores da I Liga inglesa corriam maior risco de serem despedidos no princípio ou no fim da competição do que na fase intermédia, os de França e da Alemanha viam a probabilidade de sair aumentar mediante a idade e os de Espanha tinham mais hipóteses de continuar quão maiores fossem as receitas do mercado de transferências.

Em Itália, o rendimento dos emblemas rivais na tabela classificativa, independentemente de serem ou não vizinhos geográficos, influenciou a permanência ou o despedimento de treinadores, realça o autor de vários artigos sobre economia e desporto e do livro "The Economics of Motorsports: The Case of Formula One", publicado em 2017.

Apesar de o estudo indicar que bons desempenhos nas provas paralelas aos campeonatos atenuam o risco de despedimento, Paulo Reis Mourão realça que "são poucas as equipas a compensar o insucesso nas provas nacionais com sucesso nas provas internacionais".

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