Segundo a HRW, se a FIFA atribuir a organização do Mundial de futebol de 2034 à candidata única Arábia Saudita, num anúncio previsto para 11 de dezemrbo, terá decidido ignorar estes abusos.
"A FIFA fecha os olhos", lamenta o vice-diretor da HRW para o Médio Oriente, Michael Page.
A construção das infraestruturas necessárias ao Mundial de 2034, incluindo cerca de dez novos estádios e centenas de milhares de quartos de hotel, corre o risco de agravar as violações já documentadas, afirma a organização não-governamental.
Na sua última avaliação, a FIFA descreve a candidatura saudita como "sólida e de risco médio" e sublinha que os compromissos da Arábia Saudita em matéria de direitos humanos exigirão "um esforço significativo de tempo e energia" antes do Mundial de 2034.
Num relatório intitulado "Morre primeiro, pago-te depois", a HRW detalha condições por vezes semelhantes a trabalhos forçados, especialmente nos locais do plano de reforma liderado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
Taxas de recrutamento exorbitantes impostas aos candidatos a emprego, salários não pagos, exposição ao calor extremo e restrições à mobilidade profissional estão entre os abusos identificados durante 155 entrevistas realizadas pela organização.
A pressão para cumprir prazos irrealistas agrava os riscos e "todos os dias, um ou dois trabalhadores desmaiam", disse à HRW um funcionário do projeto Neom, uma megalópole futurista que será construída entre a areia do deserto e a água salgada do mar Vermelho.
Tal como outros países do Golfo, a Arábia Saudita tem milhões de trabalhadores indianos, paquistaneses e filipinos, que ocupam empregos manuais com baixos salários, em grande parte evitados pelos nacionais.
Apesar das reformas da legislação laboral introduzidas em 2021, os trabalhadores dizem que continuam a depender dos seus empregadores para mudar de emprego ou abandonar o país, um sistema a que a HRW chama explorador.
Entre janeiro e julho de 2024, 884 trabalhadores do Bangladesh morreram na Arábia Saudita, segundo informações obtidas pela organização, incluindo 80% por "causas naturais" não investigadas.
Segundo a HRW, estas mortes inexplicáveis, mas atribuídas a causas naturais em trabalhadores saudáveis, deixam muitas vezes as famílias sem compensação ou apoio financeiro.
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