"Alguma coisa afetou aqueles jogadores, não pelo fator trabalho, mas a nível psicológico. Julgo que o Rui Borges saberá por onde pode pegar nestes jogadores. Tem um grande plantel à disposição, mas, neste momento, será preciso juntar todas as peças para que o coletivo se faça ver, supere todas as dificuldades e possa soltar as individualidades, algo que acontecia com Ruben Amorim", frisou à agência Lusa o ex-defesa direito dos 'leões' (1997-2001), campeão nacional em 1999/00, após 18 anos de interregno 'verde e branco'.
O Sporting, segundo classificado, com os mesmos 37 pontos do FC Porto, recebe o líder Benfica, com 38, no domingo, às 20:30, no Estádio José Alvalade, no dérbi lisboeta da 16.ª jornada da I Liga, que marca a estreia de Rui Borges, recém-contratado ao Vitória de Guimarães, como sucessor de João Pereira no comando técnico do campeão nacional.
"Há sempre aquele ar fresco que os jogadores poderão respirar depois de um momento conturbado, com resultados que não estavam a ser os melhores. Independentemente dos poucos dias de preparação para este dérbi, os atletas têm de encarar as coisas de outra forma com a chegada do Rui Borges, porque o Sporting não vai estar constantemente a mudar de treinador. É preciso alguma cumplicidade da sua parte. Eles têm de arregaçar as mangas, ser responsabilizados e perceber que a qualidade não se perdeu", observou.
Rui Borges foi anunciado na quinta-feira como o terceiro treinador da época do Sporting, sucedendo ao demitido João Pereira, que, 45 dias antes, tinha abandonado a equipa B 'leonina', da Liga 3, para colmatar a saída rumo aos ingleses do Manchester United de Ruben Amorim, campeão em 2020/21 e 2023/24.
"O trabalho dele fala por si. É um técnico que tem subido a pulso na carreira, com muito trabalho, dedicação, profissionalismo e querer. As oportunidades só passam uma vez e o Rui aproveitou bem esta. Agora, é uma questão de lhe darem tempo para que as coisas comecem a correr da melhor forma. Nesta fase, com jogos seguidos e muito difíceis, não podemos nem sequer desconfiar dele", apelou Quim Berto, ciente de que a nova equipa técnica vai dar seguimento à estrutura tática de '3-4-3' enraizada na era Ruben Amorim.
Desde a primeira troca técnica em 2024/25, o Sporting somou uma vitória, um empate e duas derrotas na I Liga e perdeu as vantagens de cinco e seis pontos para Benfica e FC Porto, respetivamente, tendo mesmo sido ultrapassado pelas 'águias' na última jornada.
Além de intercalarem duas derrotas na fase de liga da Liga dos Campeões com outros tantos triunfos até aos quartos de final da Taça de Portugal, os 'leões' falharam o recorde de 12 vitórias na abertura de uma edição do campeonato com a entrada de João Pereira, tornando-se "uma sombra do seu passado recente" na luta pelo primeiro 'bi' em 70 anos.
"Ninguém estava à espera de que o Ruben Amorim saísse numa fase em que o Sporting estava muito forte. Talvez os atletas não estivessem preparados para essa mudança e tenham tido alguma dificuldade em assimilá-la. Independentemente de quem entrasse, seria sempre muito difícil fazer melhor do que aquilo que vinha a ser feito", analisou o ex-lateral, de 53 anos, que assinou pelo Benfica em 2001/02, sem nunca ter jogado na Luz.
Recordando o "infortúnio" de João Pereira "não ter podido utilizar a excelência" de Pedro Gonçalves e Nuno Santos, aos quais se juntaram Gonçalo Inácio, Hidemasa Morita e Daniel Bragança no boletim clínico, Quim Berto lamentou o 'apagão' de Viktor Gyökeres.
O avançado sueco é o melhor marcador da I Liga, com 18 golos, e do ano civil de 2024 a nível mundial, fruto de 62 tentos em outros tantos jogos entre clube e seleção, mas teve apenas pelos três remates certeiros em oito encontros com o antecessor de Rui Borges.
"Até à saída do Amorim, ele estava a fazer a diferença. Nota-se que quer [dar a volta por cima], continua a ser um jogador de excelência e é só o melhor ponta de lança da prova, mas as coisas não têm saído bem. Acima de tudo, tem a ver com o coletivo, que faz com que as bolas não estejam a chegar aos seus pés na melhor perfeição. Quando o Pedro Gonçalves estava disponível, as coisas funcionavam de outra forma no ataque", ilustrou.