Uma semana depois de terem iniciado as negociações para a saída do antigo adjunto de Sérgio Conceição, primeira aposta técnica da direção de André Villas-Boas e substituído interinamente pelo diretor da formação do clube, José Tavares, os 'dragões' persuadiram o até agora treinador do Cruz Azul a assinar por duas épocas e meia, até junho de 2027.
A mudança foi tumultuosa, pois Anselmi garantiu ter um acordo com o FC Porto antes de deixar o México na sexta-feira, versão negada pelos 'cementeros', que não autorizaram ninguém da equipa técnica a viajar, advertindo-a para eventuais sanções, e tiveram um entendimento diferente sobre a cláusula de rescisão a ser exercida pelo clube português.
Com ou sem diferendo jurídico pendente na FIFA, os 'azuis e brancos' avançaram para o primeiro estrangeiro no banco desde o espanhol Julen Lopetegui (2014-2016), que imita os passos dos compatriotas e já falecidos Eladio Vaschetto (1947/48 e 1951/52), Alejandro Scopelli (1948/49), Francisco Reboredo (1950, 1960, 1961 e 1962) e Lino Taioli (1952).
Aos 39 anos, Martín Rodrigo Anselmi chegou ao quarto clube da carreira a nível sénior e vai estrear-se no futebol europeu, após ter acelerado etapas de evolução no continente americano com um estilo ofensivo, congregador dentro do balneário e chamativo no discurso.
Nascido em 11 de julho de 1985, em Rosario, a cidade-natal de Lionel Messi, oito vezes Bola de Ouro, jogou na formação do Ferro Carril Oeste e formou-se em jornalismo, mas nunca exerceu a profissão, vendo a família a ampará-lo no sonho antigo de ser treinador.
Os escalões jovens do Excursionistas serviram de rampa de lançamento nessa ambição em 2015, então com 29 anos, seguindo-se a formação do CAI (2016) e as reservas da Universidade Católica do Equador (2018) e dos peruanos do Deportivo Garcilaso (2019).
Foi ainda analista de vídeo do Independiente (2016) e adjunto no Atlanta (2017-2018), no Independiente del Valle (2019-2020) - vencendo uma Taça sul-americana logo a abrir, no primeiro troféu internacional dos equatorianos - e nos brasileiros do Internacional (2021).
A afirmação definitiva na liderança de equipas técnicas sucedeu a partir de 2022, ano no qual ingressou no Unión La Calera, mas nem sequer durou cinco meses, deixando-o no 16.º e último posto do escalão principal chileno, com apenas uma vitória em 11 jornadas.
O regresso ao Independiente del Valle projetaria Martín Anselmi, que colmatou a saída do português Renato Paiva para os mexicanos dos Club León e acumulou quatro conquistas em menos de meio ano: Taça sul-americana (2022), ao bater os brasileiros do São Paulo (2-0), Taça do Equador (2022), Supertaça equatoriana (2023) e Supertaça sul-americana (2023), no desempate por penáltis com os também brasileiros do Flamengo, de Vítor Pereira.
Derrotado pela Liga de Quito através do desempate da marca dos 11 metros na decisão do título equatoriano de 2023, o argentino rumaria ao Cruz Azul perto do fim de 2024, elevando o nível competitivo do quarto clube mais titulado no escalão principal mexicano.
Numa competição repartida a cada temporada entre dois torneios, cujos vencedores são definidos em play-offs, os 'cementeros' perderam a final da 'Clausura' de 2023/24 face ao Club América (1-2 nas duas mãos), desfecho replicado nas 'meias' do 'Apertura' de 2024/25 (3-4) - de novo logrado pelas 'águilas' -, apesar do recorde de pontos (42 em 51 possíveis) e do primeiro lugar na fase regular, à frente do 'vice' Toluca, de Renato Paiva e Paulinho.
O Cruz Azul, do antigo lateral direito portista Jorge Sánchez, não arrebatou títulos nesse período, mas revitalizou-se através de uma estrutura tática dinâmica em '3-4-3', baseada no controlo do jogo através da posse de bola, com frequente recurso ao jogo de pés do guarda-redes, constante pressão alta e pensamento em chegar rápido à baliza contrária.
Referenciado por outros emblemas, Martín Anselmi aportará um perfil jovem, estratega, com fama de disciplinador e na vanguarda sul-americana ao FC Porto, que iniciou o ano civil com a primeira série de cinco jogos sem vencer em todas as provas desde 2016/17.
Além de assumir a meio da época uma equipa habitualmente organizada em '4-2-3-1', a inexperiência na Europa ou o desconhecimento do futebol luso poderão ser entraves na adaptação deste entusiasta de Marcelo Bielsa, que deixou dirigentes e adeptos do Cruz Azul agastados pela sua repentina saída ao fim de um empate e uma derrota no arranque da 'Clausura'.
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