Depois de três empates consecutivos para o campeonato, o Sporting retomou o caminho das vitórias na I Liga e venceu na passada segunda-feira na receção ao Estoril, por 3-1. Esta foi, de resto, a primeira vez que Rui Borges somou dois triunfos consecutivos desde que assumiu o comando técnico leonino.
Além dos dois golos de Gyokeres, um deles ao cair do pano, um dos principais destaque da partida foi Zeno Debast. Reconvertido a médio mais defensivo dada a ausência por lesão do capitão Hjulmand, o belga, de 21 anos, tem dado conta do recado num setor que não lhe é nada desconhecido - fez parte da formação como trinco nas camadas jovens do Anderlecht.
Mas nem tudo correu bem recentemente aos verde e branco. Rui Borges chegou a Alvalade proveniente do Vitória SC em finais de dezembro e trouxe consigo o esquema 4x2x3x1, que é seu predileto. Ainda assim, os resultados não estavam a surgir e a consistência defensiva preconizada pelo Sporting de Amorim estava a desaparecer.
Atento a isto, o treinador natural de Mirandela deixou em pausa as suas preferências e fez regressar o sistema tático 3x4x3, com o qual os jogadores estavam mais rotinados desde os tempos de Ruben Amorim em Alvalade. E as melhorias estão à vista.
Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, Tonel, que conta com uma longa ligação ao Sporting, analisou o recente momento de forma dos campeões nacionais e classificou como positiva a aposta de Rui Borges em colocar Debast no meio-campo, mas também a recuperação do esquema tático 3x4x3.
"Rui Borges foi inteligente em recuperar esse sistema porque os resultados demonstram isso. O barómetro do trabalho de um treinador não se resume aos resultados, mas é muito dos resultados. Voltando ao 3x4x3, a equipa melhorou em termos de rendimento e de resultados. Todos os resultados deram-lhe razão", começou por referir o antigo defesa-central, comentando o que têm sido as adaptações feitas pelo técnico para colmatar as demais ausências.
"O Fresneda já jogou a central pela direita, o Ricardo Esgaio fê-lo no último jogo e o Eduardo Quarema também passou por esta posição. Nesta fase, o Rui Borges tem andado com pinças a gerir o plantel e tem jogado com os jogadores nos lugares em função do atletas que tem disponíveis para jogo. Um dos grandes méritos dele é saber que não tem muitas soluções, pegar nos disponíveis e trabalhá-los da melhor forma para que depois possam constituir um bom onze", prosseguiu Tonel.
Nas últimas semanas muito se falou sobre a não contratação de um médio centro no mês de janeiro, quando o mercado de transferências estava em aberto, para colmatar as muitas ausências neste setor do terreno. Tonel considerou que esta foi uma aposta acertada dado que não travou o surgimento de jovens da formação como João Simões, que entretanto se lesionou com gravidade, Alexandre Brito e mais recentemente Eduardo Felicíssimo.
"Nesta fase agora é possível percebermos que se calhar podiam ter contratado um médio, mas na altura, e com todos os jogadores para esse setor disponíveis, via-se um excesso de médios. Infelizmente para o Sporting este setor foi muito afetado por lesões. Nesta altura até se pode dizer que o João Simões faz muita falta quando há três meses ele não fazia parte do plantel principal. É um setor que está mais debilitado, mas há um jogador que tem sido essencial neste meio-campo, que é o Debast. É um central, mas tem vindo a ajudar e muito o Sporting e adaptou-se muito bem nesta posição", vincou.
Vitória contra o Estoril valeu liderança isolada da I Liga, ainda que à condição© Getty Images
Debast tem, assim, sido um dos nomes em destaque nos últimos jogos do Sporting. Para além de ter marcado o golo do triunfo no jogo da Taça de Portugal diante do Gil Vicente, o belga fez duas assistências na vitória diante do Estoril. Apesar do camisola 6 ter vindo a dar conta do recado, Tonel afiança que o clube de Alvalade não pode avançar para a nova época sem uma outra opção para médio defensivo, sobretudo se se confirmar a saída de Hjulmand.
"A opção de avançar Debast foi muito bem pensada por parte de Rui Borges. O rendimento dele tem sido muito bom. Quem não souber que o Debast é central e o vê a jogar no meio-campo, não pensa que ele é um central adaptado por aquilo que está a render. Pensa e joga como um médio. Face às dificuldades que o Sporting tem sentido neste setor, ele tem-se revelado fundamental", asseverou Tonel.
"Não acredito que o Sporting olhe para Debast como um médio no futuro. Uma equipa grande como o Sporting tem de ter jogadores preparados e que possam render. O Debast é um recurso e tem-se adaptado muito bem. Se o Hjulmand sair, ele que é o médio mais defensivo e desequilibrador do plantel, não vejo o Sporting estar a preparar uma época com o Debast como opção para médio centro defensivo. Vejo o Debast como um recurso face às dificuldades que há, mas não como primeiro médio defensivo. Partir para uma época a pensar que o Debast vai ser o trinco da equipa, acho que não o vai fazer", garantiu.
Já sem as competições europeias e com apenas a Taça de Portugal e o campeonato no horizonte, Tonel acredita que estas duas vitórias consecutivas (Gil Vicente e Estoril) podem ser um bom tónico, numa altura em que o Sporting se debate com uma onda de lesões.
"Ajuda sempre a dar mais confiança, ainda para mais numa fase de dificuldades e com muitos jogadores lesionados. Ganhar num clube grande como o Sporting é normal. O que não é normal é estar há algum tempo sem ganhar dois jogos consecutivos. Ganhou dois jogos, mas no fim de semana há uma deslocação dificílima ao Casa Pia. É mais um teste de fogo que vai colocar um Sporting debilitado à prova", finalizou o antigo jogador que vestiu a camisola dos leões por 178 ocasiões.
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