"Merecia uma oportunidade maior no Benfica. Mas é o clube do meu coração"

André Carvalhas juntou-se ao lote de jogadores portugueses que rumaram ao estrangeiro à procura da sorte. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o médio de 28 anos revela o que faltou para vingar no Benfica e garante que o Portimonense tem tudo para ficar na I Liga.

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Francisco Amaral Santos c/ Carlos Pereira Fernandes
04/08/2017 08:14 ‧ 04/08/2017 por Francisco Amaral Santos c/ Carlos Pereira Fernandes

Desporto

André Carvalhas

André Carvalhas é mais um português que deixou Portugal para tentar a sua sorte no estrangeiro. O jogador de 28 anos foi contratado, neste verão, pelo Zaria Balti, clube que alinha no principal escalão da Moldávia. O desafio é tão aliciante quanto arriscado, mas o médio acredita que "precisava de dar um novo rumo à carreira" ao mesmo tempo que lamenta não ter chegado à I Liga lusa.

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o jogador que já passou por emblemas como Cova da Piedade, Portimonenese, Fátima, Rio Ave ou Tondela revela o que o fez mudar-se para Moldávia e confessa ainda que "faltaram oportunidades" no Benfica, clube que admite ocupar-lhe "o coração". 

Como surgiu o convite do Zaria Balti?

Foi através das pessoas, dos agentes, que estavam a trabalhar na minha vida em Portugal. Conseguiram arranjar-me este clube que jogou a pré-eliminatória da Liga Europa este ano. O ano passado não foi campeão porque, a quatro jornadas do fim, empatou dois jogos consecutivos, depois começaram a cair e acabaram em quatro lugar. Estiveram em primeiro lugar até quatro jornadas do fim, estiveram quase para ser campeões, esperemos que este ano consigam melhor do que o ano passado.

"Em Portugal, as coisas para jogar na primeira divisão estavam bastante complicadas, nunca percebi bem porquê"

Então foi o projeto em si que o fez aceitar a proposta?

Sim, foi o projeto e uma opção pessoal, porque estava há muito tempo em Portugal e penso que a minha carreira estava a precisar de outro rumo. Em Portugal, as coisas para jogar na primeira divisão estavam bastante complicadas. Nunca percebi bem porquê, mas é o futebol que temos. Como tal, e desde muito cedo, tomei a iniciativa de que era este ano o ponto de viragem. Que era este o momento em que iria arriscar numa aventura no estrangeiro e felizmente, graças a Deus, surgiu uma oportunidade e aceitei.

Depois de uma carreira feita por vários clubes portugueses sentia falta de dar o salto para o estrangeiro?

Já tive duas ou três situações concretas na minha carreira em que poderia ter ido para o estrangeiro. Por uma ou outra situação, isso não aconteceu. Mas é o futebol. Umas vezes foi por parte de terceiros, outras por mim e sempre enverguei por um clube em Portugal. Foi essa sempre a minha opção. Ficava sempre na expectativa que, após fazer uma boa temporada, iria parar à I Liga. Anos após ano, isso não acontecia e este ano tomei a decisão de ir para o estrangeiro. Porque acho que precisava. Achei que me iria fazer bem, enquanto jogador e enquanto homem. Espero sair daqui muito mais jogador do que entrei.

Qual foi a reação da sua família ao saber da decisão?

Deram-me apoio. Saí de casa muito cedo, com 19 anos, para ir para o Rio Ave. Já vivi no norte, no Algarve… Já vivi em quase todos os pontos de Portugal. A minha família habitou-se muito a que eu estivesse longe. Mas, em Portugal, nunca sentiram na pele eu estar longe no estrangeiro. Ou, pelo menos, durante vários meses. Obviamente que para eles foi um choque e eu sei que certamente ficaram tristes. Mas sabem que será o melhor caminho para mim e é tudo uma questão de hábito. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Daqui a uma ou duas três semanas… Vão ficar habituados ao facto de eu estar no estrangeiro. Porque o subconsciente deles sabe que isto é o melhor para mim.

Quais foram as primeiras impressões assim que chegou Moldávia?

Quando cheguei, encontrei um país muito pobre. Mas, quando cheguei à cidade onde estou inserido, gostei bastante. É uma cidade muito acolhedora. Uma cidade pequena mas onde não falta nada. Estou a gostar muito, em particular onde estou, que é Balti. O clube é organizado, trataram-me bem à chegada, não têm deixado que me falte nada… Infelizmente, o único senão aqui, é a tradução porque eles não falam inglês. Pouca gente fala inglês aqui. E quando falam é muito pouco. Falam russo e um português chegar à Moldávia e começar a ouvir palavras em russo… nem os números eu percebo (risos). Felizmente, tenho aqui um argentino que fala russo, que joga no leste há muitos anos, e tem sido a minha ajuda na tradução. Tem sido o meu tradutor porque realmente não consigo perceber nada daquilo que o treinador e os jogadores dizem. Tem sido complicado É o único senão e para mim, neste momento, é um grande handicap. Apesar da linguagem futebolística ser universal, há sempre coisas que temos de saber e precisamos de comunicar. Até mesmo nos próprios exercícios de treino, mas pronto, tenho aqui um argentino que me tem ajudado e felizmente tenho estado a adaptar-me o mais rapidamente possível.

E está a pensar em aprender russo?

Eu gostava muito de aprender russo mas acho que é uma missão quase impossível. Por aquilo que eu já tive oportunidade de ver, é muito complicado falar russo. Muito mesmo. Mas vamos ver…

Passando para os objetivos da temporada. Por exemplo, já estipulou alguma meta de golos?

Não… Nunca fixei uma meta de golos, tenho simplesmente um objetivo: ajudar a equipa em fazer o melhor possível. Ou seja, fazer melhor do que o ano passado. Eu estou aqui e sou mais um para ajudar. E quero jogar o maior número de jogos possível para me valorizar também.

"Existem clubes na I Liga que não têm a estrutura do Portimonense"

Recuando um pouco atrás na sua carreira, passou por vários clubes portugueses: Tondela, Rio Ave, Cova da Piedade, Portimonense… Algum deles deixou uma memória especial?

Houve vários clubes que me marcaram… A minha primeira experiência fora de casa foi no Rio Ave, era muito novo. Foi um clube que me marcou bastante. Pelo carinho que as pessoas dão aos jogadores naquela cidade [Vila do Conde] e naquele clube. Gostei muito da forma como fui tratado. É uma cidade espetacular.

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Em Tondela tive aquela situação do golo… Gostei muito de lá estar também. E em Portimão foi a cereja no topo do bolo. É um clube espetacular, uma cidade fantástica, pessoas muito boas no Algarve e um clube super organizado. Um clube que já deveria estar na I Liga há muitos anos.

Infelizmente, só o conseguiu este ano mas já há dois ou três anos merecia estar lá. No meu ano, não subimos por um golo, relativamente à diferença de golos com o Feirense. É um clube que não deixa falhar nada aos jogadores, tanto a nível de roupa, de apartamento… de vencimento ao final do mês. Não falha, o que é importante porque já se vê pouco. Começam alguns clubes a falhar… Foi um clube que me marcou imenso. Fiz lá 40 jogos e apontei seis golos, fui o melhor marcador da Taça da Liga. Fica sempre aquele carinho especial.

Pegando no Portimonense. Acha que o clube tem condições para ficar na I Liga?

Sim, sem dúvida. A estrutura do clube é muito boa e há poucos clubes assim. Existem clubes na I Liga que não têm a estrutura do Portimonense. O Portimonense tem equipa de I Liga desde há três ou quatro anos e mantiveram a base que é muito boa. Com um treinador experiente e fantástico. Não é por acaso que Vítor Oliveira já subiu dez vezes. Não é sorte, é trabalho. É muita sabedoria e como tal têm por trás um investidor da SAD que não deixa faltar nada. Tenho a certeza que se vai manter, sem sofrer. 

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Por outro lado também está ligado ao Tondela. Como descreve a sensação de marcar aquele golo histórico no clube?

Foi uma sensação fantástica. Não sei explicar por palavras… só mesmo sentindo. Lembro-me como se fosse hoje: aos 93 minutos, uma falta à entrada da área sofrida pelo Rúben Saldanha que mal se levantou, pegou na bola e veio entregar-me à mão e disse: ‘És tu que bates’. Senti confiança nesse lance porque os meus colegas sabiam que eu batia bem as bolas paradas e ele achou naquele momento que iria fazer golo. Motivou-me, deu-me confiança… a sensação que eu sinto ao fazer o golo é inexplicável. Não há palavras, só mesmo passando pela situação.

"Não há magoa, a vida continua e estamos aí para a luta"

Entretanto a sua formação foi feita no Benfica. Na altura era apontado como um dos jogadores mais promissores… Acha que lhe faltou uma oportunidade?

Faltaram muitas coisas… Faltou oportunidade - não quando fui sénior, sim quando fui júnior. Quando era júnior já jogava com os seniores, já treinava com os seniores, já viajava com os seniores. Lembro-me que iria jogar um jogo a titular na Madeira, e quem ficou na bancada foi o Dí Maria e o Mantorras, e eu fui para o banco nesse jogo. Era para ser titular mas a estrutura do Benfica assim não o entendeu, porque o clube não atravessava uma boa fase e se me corresse bem, tudo bem, se me corresse mal, tendo em conta a fase do clube, iriam questionar o porquê de meterem um miúdo. Daí a falta de oportunidade. Assim como a minha passagem para sénior… Queixo-me eu disso e muitos mais jovens, obviamente. Mas falo do meu caso, acho que merecia ter tido um apoio maior e uma oportunidade maior no Benfica. Mas é um clube que me marcou. É o clube do meu coração, amo o Benfica. Adoro as pessoas que lá estão, deixei lá muitas amizades. Ainda estão lá muitas pessoas com quem mantenho contacto.

Agora existe outra exposição... 

Faltou também haver equipa B. Obviamente que, com esta equipa B, os jovens têm a vida um pouco mais facilitada. Mas, na minha altura, houve pouca aposta nisso. Não havia BTV, que dá muita visibilidade aos jogadores. Lembro-me que, há pouco tempo, estavam a passar um jogo das escolinhas. Desde muito cedo passam na televisão, o que lhe dás uma visibilidade tremenda e na minha altura não existia nada disso. São esses os pontos cruciais que explicam o porquê de agora não estar noutro patamar. Mas pronto, aceito o que tenho feito, aceito a carreira boa que tenho construído e ainda tenho muitos mais anos pela frente para provar isso mesmo.

Acha que se fosse hoje o seu trajeto teria sido diferente?

Sim, possivelmente sim. No futebol nada é linear, mas acredito que teria sido diferente. Na altura não se apostava muito na formação devido a várias circunstâncias. O Benfica precisava urgentemente de títulos…. Agora é diferente, ganhou alguma margem, venceu o campeonato quatro vezes consecutivas e com a entrada do Rui Vitória - com quem tive a oportunidade de trabalhar no Fátima, um treinador fantástico, um homem excecional - obviamente que teria sido diferente mas isso não possível. Não há mágoa, a vida continua e estamos aí para a luta.

A criação de uma II Liga com equipas B favorece o crescimento dos jovens?

Sem dúvida que sim. Eu lembro-me que na minha altura haviam muitos treinos de seniores contra juniores. Obviamente que um júnior está habituado a um campeonato diferente. A diferença que existe entre juniores e seniores é enorme. Agora, com um ano de equipa B, os jovens têm um traquejo muito maior. Quando vão treinar à equipa principal ou fazer uma pré-época não há tanta diferença como antigamente. A II Liga é o campeonato mais competitivo que temos em Portugal e com uma época de II Liga os jogadores ganham um maior traquejo do que acontecia connosco antigamente, nós que íamos dos juniores diretamente para os seniores. A probabilidade de vingarem numa equipa principal é muito maior.

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Tem 28 anos. Que objetivos faltam alcançar?

Eu quero ser cada dia melhor. É o único objetivo que tenho neste momento. Não traço metas de clubes, não traço metas de nada… Simplesmente, todos os dias quero ser melhor. Quero provar que sou capaz de ser melhor e provar às pessoas que não estavam enganadas quando me contrataram. É fantástica a sensação de dever cumprido. É fantástica a sensação de que as pessoas gostam de nós e eu sei que em Portugal gostam de mim mas necessitava que esse sentimento existisse no estrangeiro. É para isso que aqui estou.

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