Está a ser um ano complicado de levar a uva ao lagar no Douro
Pequenos e médios viticultores do Douro queixam-se de um ano muito difícil na vinha devido às trovoadas, granizo e, principalmente, às doenças que estão a afetar as videiras e as uvas, obrigando a elevadas despesas em tratamentos.
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Economia Despesa
"Este ano está a ser complicado conseguir levar as uvas ao lagar", afirmou à agência Lusa Gabriel Carvalhinha, viticultor de Porrais, concelho de Murça.
Em Vilarinho dos Freires, no Peso da Régua, o viticultor José Moreira lamentou o "ano muito, muito mau". "Está quase tudo perdido", desabafou.
Este viticultor descreveu vinhas com as "folhas queimadas e cachos de uvas pretas". "Não se sabe bem se é míldio ou o que é, mas é uma queima que deu às vinhas. É moléstia mas não sei que moléstia é aquela", salientou.
A situação não é igual em todo o Douro. No entanto, um pouco por toda a região há registo de vinhas afetadas pelas trovoadas e granizo e de doenças, com destaque para o míldio, mas também alguma podridão e oídio.
É um problema que está relacionado com a instabilidade do clima, a humidade, as chuvas fora de tempo e as temperaturas oscilantes entre o mais fresco e o calor.
"O granizo massacrou a uva, partiu varas e fez cair a folha. Em alguns sítios a videira ficou completamente destruída. Depois, por causa das doenças, chegamos a fazer tratamentos de oito em oito dias", acrescentou Gabriel Carvalhinha.
Em Vilarinho dos Freires, José Moreira contabilizou já cinco tratamentos nas vinhas até meados de julho e "despesas enormes". Em todo o ano passado fez apenas três tratamentos.
Em média, segundo os produtores, cada tratamento pode custar entre os 400 a 500 euros, sem contabilizar com as despesas em mão de obra ou o combustível com os tratores.
"As contas não são boas de fazer", sublinhou José Moreira, que colhe uma média de 60 pipas de vinho.
Aníbal Lopes, também viticultor de Vilarinho dos Freires, disse que "já deitou sulfate seis ou sete vezes" mas que "não adiantou de nada".
"Há aqui lavradores que já disseram nem vão fazer as vindimas porque têm que fazer uma escolha muito grande na uva e não dá para a apanha", salientou.
Em Gouvães, Sabrosa, António Pereira disse que "uma parte da produção foi destruída com a trovoada" e que, agora, o "míldio está a acabar com o resto".
"Nem sabemos que produto aplicar, parece que nada faz efeito", referiu.
Em 2017, gastou cerca de 1.500 euros em tratamentos na vinha e este ano já ultrapassou os 3.000. "E, depois, quando se chega à vindima os preços que nos pagam são os mesmos", lamentou.
Em Sobreira, concelho de Murça, Manuel Ribeiro disse que a "situação é complicada e difícil de gerir" e queixou-se de falta de informação e de apoio por parte do Ministério da Agricultura e das associações do setor.
"Em 15 dias houve duas trovoadas que fizeram estragos que ainda hoje estão à vista. A seguir foi o míldio e a podridão negra. Mas isto é o que nós pensamos, porque certeza daquilo que andamos a fazer eu não tenho e ponho dúvidas de que alguém tenha. Estamos lançados à nossa sorte", afirmou.
O produtor disse à Lusa que já gastou o "dobro dos produtos" que gastaria num ano normal e que ficará contente se conseguir chegar "à vindima com 50% da produção". "Porque daqui até lá estas doenças continuam a evoluir", sublinhou.
A pressão do míldio tem sido, segundo descrevem os lavradores, "galopante", pelo que é difícil aplicar os fitofármacos a tempo. O míldio é um fungo que pode infetar todos os órgãos verdes da planta -- folhas, cachos e pâmpanos.
António Ribeiro, também de Sobreira, já perdeu a conta aos tratamentos que aplicou na vinha onde "a doença continua a progredir".
"É míldio, podridão negra, e a doença não para. A folha está a ficar toda a amarela na parte superior, os cachos estão a começar a ficar pretos, sobretudo na parte de trás dos bardos, onde não chega tanto o sulfate e acho que está a ficar incontrolável. Não sabemos o que fazer à vida, estamos numa situação mesmo complicada", lamentou.
Segundo dados da Associação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), a região demarcada deverá produzir à volta de 230 mil pipas de vinho nesta vindima, um valor inferior ao inicialmente estimado e que se justifica pela pressão das doenças na vinha.
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