Eduardo Catroga tem uma vida preenchida. Gestor por paixão e político por missão, é uma figura conhecida dos portugueses. Foi ministro das Finanças entre 1993 e 1995, a convite do então primeiro-ministro Cavaco Silva. Este foi, aliás, o único dos vários convites que recebeu para integrar governos que aceitou.
O grupo CUF foi o primeiro amor de Catroga, que depois seguiu o seu rumo no ramo empresarial, tendo passado pela Sapec e pela EDP, onde se mantém, atualmente, como membro do Conselho Geral e de Supervisão.
Há muito a dizer sobre Catroga, mas Catroga também tem muito para nos contar. Apesar de ter uma visão crítica sobre a atual qualidade da consolidação orçamental, não deixa, porém, de reconhecer mérito a Mário Centeno na gestão da Geringonça.
O Notícias ao Minuto conversou com Eduardo Catroga a propósito do lançamento do seu mais recente livro 'Gestão, Política e Economia', com prefácio de Aníbal Cavaco Silva e o posfácio de António Mexia e Paulo Teixeira Pinto. Esta foi uma conversa que terminou conforme começou: a falar dos seus netosDedico-lhes o livro para que conheçam melhor as vivências do 'avozão' - que é assim que eles me tratam - e o seu pensamentoComeça por dedicar este livro, sobre as suas ‘Vivências e Reflexões’, aos seus quatro netos. Qual é a imagem que gostaria que tivessem do avô?
Tenho quatro netos e sou um avô babado. Fui avô muito jovem, ainda tinha 48 anos quando nasceu o meu primeiro neto e, portanto, tenho netos com idades entre os 20 e os 27 anos Sou um avô relativamente jovem. Os meus netos já são homens e mulheres. Dedico-lhes o livro para que conheçam melhor as vivências do 'avozã' - que é assim que eles me tratam - e o seu pensamento.
Isto é, no fundo, o livro trata de temas de gestão, de política e de economia, a propósito do meu trajeto de vida. É um livro sobre os principais projetos empresariais a que estive e a que tenho estado ligado, e projetos na área da política e da economia do país. A imagem que quero transmitir aos meus netos é a de que, na minha geração, o trabalho desenvolvido na consolidação da democracia portuguesa foi desenvolvido para um lado em que existe também o desafio permanente de melhorar os níveis de bem-estar económico e social das pessoas, e que eu, na minha esfera de responsabilidades, procurei ter sempre isso em mente. E [também] que cada geração deve, efetivamente, lutar pela sua formação intelectual e deve lutar pela concretização dos objetivos, no sentido de tornar Portugal num país cada vez melhor. Esta é a mensagem principal das minhas vivências e reflexões.
Não é um livro voltado para o passado, até é para o futuro, na medida em que o futuro constrói-se levando a cabo desafios políticos e económicos no quadro da globalização, para que Portugal consiga ser o vencedor da economia global - porque sem isso não conseguimos criar condições de sustentabilidade do nível de vida dos portugueses.
'Gestão, Política e Economia' é o mais recente livro de Eduardo Catroga, lançado este mês © DR
A certa altura, diz que o seu pai era comerciante do setor da cortiça…
O meu pai começou comerciante e depois transformou-se em industrial. Isto é, foi proprietário de uma unidade de produção de cortiça, na primeira fase do processo produtivo, e portanto estava num determinado segmento da cadeia de valor da cortiça. Tinha uma veia empreendedora e teve sucesso nessa função. Era um homem de carácter, que transmitia valores que eu procurei incorporar em toda a minha vida. Ele lá andou a investigar, lá se informou e, depois, ao fim de uma semana ou duas de análise e investigação lá me disse: "Ok, podes inscrever-te na escola, como tu queres, porque isso dá para o curso do Salazar, de Finanças"Diz no livro que o seu pai "tinha olho para o negócio". Foi também ele que o fez seguir Finanças?
No ano em que ia para o ensino secundário era também o ano de criação da Escola Industrial e Comercial de Abrantes, em 1953, - dentro de dias comemoraremos o 65.º aniversário da fundação da Escola - e, realmente, foi uma unidade de ensino com grande impacto social e na formação das pessoas do concelho, porque até aí poucas pessoas iam estudar, porque não existiam liceus e [as pessoas] tinham de ir para colégios privados caros.
Felizmente, na altura, o meu pai já tinha a situação material para me colocar num colégio privado, simplesmente eu, tal como uma dúzia de colegas que acabavam a quarta classe na época, também queria ir para a Escola Industrial e Comercial de Abrantes.
E o meu pai, com a sua visão, disse-me: "Eu tenho de ver para o que é que isso dá", porque era um estabelecimento de ensino novo. Ele lá andou a investigar, lá se informou e, depois, ao fim de uma semana ou duas de análise e investigação lá me disse: "Ok, podes inscrever-te na escola, como tu queres, porque isso dá para o curso do Salazar, de Finanças". Na altura, estávamos no ano letivo 1952/53, pensava-se que o Salazar era formado em Finanças, quando o Salazar era professor de Finanças Públicas na Universidade de Coimbra, no curso de Direito. Na altura, Direito também tinha formação em Economia e em Finanças, mas existiam poucas escolas especializadas em Economia e Finanças. Por isso, o meu pai viu que tinha futuro e deu luz verde à minha inscrição porque viu que eu podia chegar à universidade. A visão estratégica do meu pai via-me com potencial de vir a ser 'doutor', a chegar à universidade. E, nesse campo, teve toda a razão. E foi isso [risos].
Fui convidado seis ou sete vezes para participar em diferentes governos e aceitei um
No livro destaca, em particular, cinco “missões políticas”. Qual considera que tenha sido a mais importante ou desafiante?
Claro. Repare, começo, aliás, a minha carreira essencialmente na área da gestão e só depois entrei na área da política e economia, como aí [no livro] aparece caracterizado. Fui convidado seis ou sete vezes para participar em diferentes governos e aceitei um. Aceitei, depois, três outras missões políticas, isto é, pedidas pelo setor político, missões cívicas e de interesse para o país. Portanto, todas as missões cívicas que eu caracterizo neste livro [são]: a missão como ministro das Finanças, a missão do chamado "Comité de Sábios da Galp", a missão para a viabilização do Orçamento do Estado para 2011 e a missão do programa eleitoral/programa do Governo do PSD aquando da intervenção da troika.
De todas estas missões, a mais estimulante e desafiante foi a de ser ministro das Finanças, no contexto entre 1993 e 1995, onde era importante criar condições para a retoma da economia, o que aconteceu: em 93 estávamos em recessão, em 94 a economia começa a crescer, em 95 já cresce bem e, depois, deixámos como legado ao Partido Socialista (PS), ao governo de António Guterres, um ciclo de crescimento em expansão que durou até 2000/2001.
Portanto, a criação de condições para a retoma da economia, a retoma da consciência dos empresários e do discurso da política económica e financeira do governo e a criação de condições para a melhoria da produtividade foram tarefas muito estimulantes. [Isto] combinando a política orçamental, com a política monetária, cambial e as políticas estruturais, no sentido de aumentar a prazo a taxa potencial de crescimento da economia portuguesa. Por isso, a tarefa de ministro das Finanças foi a mais estimulante. Quem colheu a totalidade dos frutos já foi o governo socialista de António Guterres que, aliás, desperdiçou o legado e quando saiu deixou o país num pântanoDizia, há pouco, que chegou a rejeitar entre seis a sete convites. No livro, diz que nunca teve vocação, nem vontade de ser político. O que é que o fez aceitar o convite do então primeiro-ministro Cavaco Silva em 1993?
Repare, foi à terceira tentativa dele. Já tinha recusado para o governo do Nobre da Costa, já tinha recusado para o I Governo Constitucional de Mário Soares... Portanto, quando ele [Cavaco Silva], em 1992, me fez um convite anterior, eu disse-lhe: "Da próxima vez que precisares de mim, mas no governo, desde que a função seja estimulante, eu aceito". E, portanto, pus essa ressalva. Estávamos em 92 quando eu assumi esse compromisso para com ele, que concretizou o convite em 93, um ano depois do meu pré-compromisso com uma condição: desde que a função fosse motivante. Ele anteriormente já me tinha sondado para outras pastas e não foi por não serem motivantes, mas sim por condicionalismos vários, que eu não aceitei. E, depois, pensei que estava com 51 anos e era altura de vestir a camisola nacional, isto é, era altura de aceitar uma missão importante para o país. E foi isso que me motivou.
Cavaco Silva escreveu o prefácio do livro de Eduardo Catroga © DR
Nessa altura, assumiu funções como ministro das Finanças e a economia estava em recessão.
A economia já vinha em recessão, com abrandamento desde 1992/93 a nível europeu e internacional e, portanto, em 1993 a grande preocupação era criar condições para uma retoma económica sustentada, com um perfil saudável, isto é, uma retoma impulsionada pelas exportações, pelo investimento e simultaneamente fazer uma reestruturação da qualidade da despesa pública, do sistema de incentivos, no sentido de melhorar a produtividade e a competitividade da economia portuguesa.
Os resultados começaram a aparecer progressivamente e, depois, quem colheu a totalidade dos frutos já foi o governo seguinte, o governo Socialista de António Guterres que, aliás, desperdiçou o legado e quando saiu deixou o país num pântano. Mas o legado foi desperdiçado, como eu caracterizo no livro.
Exportações, investimento e consumo foram os ingredientes para essa "retoma", um termo que aliás marca a sua primeira intervenção como ministro.
Sim, numa economia aberta ao exterior, como é a economia portuguesa, uma retoma saudável, uma retoma que não provoca desequilíbrios externos, isto é, que não tenha impacto negativo no equilíbrio externo, na balança de pagamentos, na balança de transações correntes, deve ser impulsionada pelas exportações, depois pelo investimento e, por fim, pelo consumo. Foi [com] este perfil saudável que deixámos e que fizemos o processo de consolidação da retoma económica e que depois tivemos o ciclo de expansão até 2000/2001. Isto depois foi desperdiçado por uma política orçamental ultra-expansionista pró-cíclica e com uma inação estrutural total do governo que veio a seguir.
A certa altura diz que rejeitou o convite para assumir a pasta dos assuntos sociais porque não era especialista na matéria e "ainda tinha a visão de que era preciso ser-se especialista da área para ser ministro" e mais tarde percebeu que não era assim. Porquê?
Pois [risos] Isso foi no governo do Nobre da Costa, ele convidou-me para ser ministro dos Assuntos Sociais, que na altura tinha duas componentes: a Saúde e a Segurança Social. Eu na altura fiquei muito surpreendido e disse ao Nobre da Costa: "Não tenho vocação para entrar na área da política e o senhor está a convidar-me para uma pasta que eu não percebo nada desses assuntos", ao que ele me respondeu "aí é que o senhor se engana, aquilo é um problema de gestão e o senhor está habituado a gerir grandes organizações", a tentar convencer-me por essa via. Essa era a visão que eu tinha na época. Atingi aos 31 anos o topo da carreira no principal grupo económico e financeiro português, maior até no quadro da península ibérica Mas por que é que agora já não tem essa visão?
Repare, a minha visão é que um titular de uma pasta pode não ser super-especialista nessa área, portanto, tem de ter uma boa formação, que se for aliada uma formação política a uma formação técnica é ótimo. Só a formação técnica pode ser uma condição necessária, mas não é suficiente.
Com o tempo aprendi que um titular [de uma pasta] exerce essencialmente uma função política e, se conseguir aliar alguma sensibilidade política com formação técnica [é] ótimo.
CUF, Sapec e EDP são alguns dos projetos empresariais em que esteve envolvido. Do ponto de vista pessoal, qual é que destacaria?
A minha primeira grande paixão empresarial foi a CUF. Aos 31 anos, ainda antes do 25 de Abril, era ‘chief financial officer’ (CFO) da CUF. Atingi aos 31 anos o topo da carreira no principal grupo económico e financeiro português, maior até no quadro da península ibérica. Depois fui nacionalizado e fui para a SAPEC, quando já tinha 38 anos. O projeto Sapec foi um projeto de média dimensão que me deu muito gozo porque, realmente, foi um projeto no qual tive de fazer a renovação económica e financeira da empresa.
Na fase em que entrei na política, deixei de ser chefe executivo e passei a ter funções não-executivas em part-time em vários projetos empresariais.
Em 2007, aceitei ser membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP e fui ‘chairman’, isto é, presidente do Conselho-Geral e de Supervisão entre 2012 e 2017. Na EDP não tive funções executivas, tive funções de acompanhamento, de ‘coaching’, de supervisão estratégica e operacional. E digamos que é um projeto bastante atrativo. Todos estes projetos empresariais, assim como as missões cívicas, vivi-os com grande intensidade.
Como é que foi acompanhar a EDP num momento em que a empresa se reestruturava após ter perdido o vínculo com o Estado?
A EDP desde 2007, nos últimos 12 anos, sofreu uma grande transformação estratégica que, aliás, eu caracterizo no livro. É um processo de avaliação contínua, a evolução do meio envolvente, tecnológica, política e social. Eu diria que hoje em dia, todas as empresas estão em permanente renovação estratégica. Todas as empresas grandes que temos, ou que tivemos, com núcleo duro acionista português, a pouco a pouco foram caindoHá poucos dias, disse numa entrevista que não gostaria que a EDP se transformasse numa "PT’zinha". Podemos estabelecer alguma relação entre isto e a OPA que a China Three Gorges está a lançar sobre a EDP?
Repare, eu costumo dizer que temos de olhar para os exemplos estratégicos negativos de outras grandes empresas na economia portuguesa. A economia portuguesa tem um ponto fraco estrutural que radica no facto de ter sido destruído o capital nacional em 1974/75 e não termos conseguido níveis de acumulação de capital e de poupança capazes de formar uma base de capital, para que um capital de origem portuguesa possa controlar as grandes empresas nacionais.
Portanto, todas as empresas grandes que temos, ou que tivemos, com núcleo duro acionista português, a pouco a pouco foram caindo. Houve uma transformação da estrutura acionista, que acabou por confinar essas empresas a operações puramente domésticas ou a operações neste cantinho à beira mar plantado, neste retângulo, com abandono das suas atividades internacionais. Foi assim na PT, foi assim na Cimpor, foi assim no Banco Totta, foi assim no Banco BPI… No setor elétrico também temos o exemplo espanhol negativo da Endesa, que foi integrada no grupo italiano Enel e no qual ficou confinada a operações domésticas ou internas.
O que eu costumo dizer é o seguinte: 93% do capital da EDP é capital estrangeiro e, portanto, aqui a questão, no fundo, [é que] são os acionistas que mandam nos movimentos estratégicos. Não é, por isso, possível dizer teoricamente que o modelo tem de ser o A, B ou C. Eu, como português, como economista, o que sugeria era que a EDP tivesse uma estrutura acionista que lhe permitisse a continuação do seu projeto de internacionalização e a sua expansão internacional e, portanto, que não se transformasse numa PT’zinha ou num caso Cimpor.
Quanto mais depressa caminharmos para excedentes orçamentais, mais depressa conseguimos reduzir o stock da dívida pública, que é o fardo, a mochila que está à costa dos portuguesesNuma altura em que decorre o debate na generalidade do Orçamento do Estado, é viável e importante que Centeno cumpra a meta de 0,2% do défice?
O problema não é o défice, o problema é o stock da dívida acumulada. Estamos numa situação de dívida pública excessiva em consequência de défices públicos excessivos durante 20 anos. Quando saí do governo, em 1995, a dívida pública era de 58% do PIB, atualmente é de mais de 120% do PIB depois de termos vendido os anéis e os dedos, depois de termos tido 20 a 30 pontos das privatizações e de outras receitas extraordinárias. Sem essas receitas extraordinárias, a dívida pública não seria de 125%, seria de 155%.
Há um problema de dívida pública excessiva e a dívida pública excessiva é uma acumulação de défices públicos excessivos anuais durante muitos anos. Por isso, não é um problema de défice público anual, o problema é o stock da dívida pública. Quanto mais depressa caminharmos para excedentes orçamentais, mais depressa conseguimos reduzir o stock da dívida pública, que é o fardo, a mochila que está às costa dos portugueses. Estamos na zona vermelha da dívida pública. Temos aqui um processo que vai demorar 15 a 20 anos até regressarmos novamente à zona verde. Centeno tem o mérito de ter gerido a geringonça e ter controlado os apetites despesistas do Bloco de Esquerda e de certos segmentos dentro do PS
E considera que essa meta definida por Mário Centeno é viável?
Então não é? Todas as metas são viáveis, tudo depende das escolhas políticas. Temos de caminhar numa situação de dívida pública excessiva, numa situação de carga fiscal excessiva, numa situação de despesa pública excessiva, temos de caminhar para uma situação em que as receitas normais do Estado sejam suficientes para cobrir a despesa do Estado. Portanto, temos de ajudar a despesa à receita normal. É esse processo que está em curso.
Em 2010, o governo de Pedro Passos Coelho herdou um défice público na casa dos 11% do PIB, deixou 3% do PIB em 2015 e agora tem de se passar de 3% para 0%… É esse processo que está em curso. Foi possível passar de 11% para 3%, agora tem de ser possível passar de 3% para 0%. É evidente que não se conseguiria passar de 3% para 0% se não se tivesse passado de 11% para 3%.
Nesse sentido e no sentido do processo de sustentabilidade das contas públicas, qual é a avaliação que faz do trabalho do atual ministro das Finanças?
Centeno tem o mérito de ter gerido a Geringonça e ter controlado os apetites despesistas do Bloco de Esquerda e de certos segmentos dentro do PS. Ter controlado esses apetites e ter mostrado a disciplina do cumprimento das regras europeias e dos compromissos orçamentais do país, face aos mercados e face à União Europeia, foi um aspeto positivo.
A sensação que dá é que podíamos ter aproveitado este tempo de vacas gordas a nível internacional para crescer mais, mas estamos a crescer na cauda da EuropaAgora, se me pergunta se a qualidade da consolidação orçamental foi a melhor, não foi. Porque isso foi conseguido à custa de a despesa pública ter continuado a aumentar em termos reais, isto é, acima da taxa de inflação, o que é mau nesta situação de excesso de endividamento, excesso de despesa pública e excesso de carga fiscal. No entanto, no fundo, foi uma consolidação orçamental e o ministro não olhou a meios para atingir o fim, isto é, não teve pejo em fazer cativações, não teve pejo em recorrer a receitas extraordinárias, em ser um capitalista em que o Estado acionista se transformou num capitalista com maximização de dividendos do Banco de Portugal. Não teve qualquer pejo em utilizar todos os instrumentos à sua disposição dentro de uma meta que quer cumprir, isto é positivo, e cumpriu. Mas tem cumprido com má qualidade, aliás, o Conselho de Finanças Públicas, a UE, a UTAO têm feito críticas técnicas perfeitamente pertinentes. Mas foi positivo ter incorporado que tinha de cumprir.
A sensação que dá é que podíamos ter aproveitado este tempo de vacas gordas a nível internacional para crescer mais, mas estamos a crescer na cauda da Europa. Isto é, todos os países que estão no nosso campeonato estão a crescer mais do que nós. Nós poderíamos ter feito mais se a Geringonça não tivesse parceiros anti-globalização, anti-economia de mercado, anti-euro, etc. São custos políticos que tivemos de suportar, mas apesar de tudo temos capacidades para crescer mais e melhor nos próximos anos.
Considera, por isso, que a economia portuguesa precisa de melhorar o modelo de crescimento?
Com certeza. A economia portuguesa precisa de ser vencedora. Felizmente as nossas exportações passaram dos 28% para mais de 40% e tal do PIB com maior valor acrescentado. Portanto, nos últimos 15 a 20 anos houve uma renovação do tecido produtivo português que cria esperanças. Precisamos de criar condições para aumentar o número de casos de sucesso das empresas portuguesas em todos os setores da economia. Essa é a função dos governos: têm de criar condições para que as empresas aumentem o valor acrescentado nacional e para que aumentem os índices de produtividade e de competitividade. As empresas são a célula base da atividade económica e sem crescimento das empresas não há crescimento da economia. A gestão sempre foi a minha grande paixão. A política e a economia do país vieram depois, em determinado momento, e transformaram-se noutra paixãoSe tivesse de escolher entre gestão e política, o que é que a sua experiência lhe recomendaria?
Optei sempre pela gestão [risos]. Não é por acaso que o meu livro diz 'Gestão, Política e Economia'. Essencialmente tenho sido um economista, um gestor, que aceitei missões na área da política, porque pensei, naqueles momentos históricos, que eram missões em que eu podia trazer valor acrescentado e ser útil ao meu país. A gestão sempre foi a minha grande paixão. A política e a economia do país vieram depois, em determinado momento, e transformaram-se noutra paixão. Tenho paixão pelo meu país e como as empresas são a célula base da atividade económica, eu sou a gestão das empresas. E a gestão das políticas públicas, já agora, para que os meus netos e bisnetos, eu, as pessoas e todos os seus netos e bisnetos, no geral, possam viver melhor, com índices crescentes de bem-estar social no nosso país.
Seja a gestão das empresas, seja a gestão das políticas públicas [a gestão] é um elemento fundamental no sentido de termos qualidade nas estratégias do país, qualidade nas estratégias das organizações e eficiência em levar a estratégia à prática. Esta, no fundo, é a minha grande paixão.
Eduardo Catroga é atualmente membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP © DR