Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares alerta para a situação de "instabilidade e indefinição" que está a ser causada nos doentes, sobretudo os mais graves, beneficiários da ADSE e com tratamentos em curso nos privados.
"A grande questão aqui é para os doentes, que não sabem como que podem contar. Sobretudo os doentes mais graves, como os oncológicos, que podem ver ameaçada a continuidade dos seus tratamentos", avisa Alexandre Lourenço.
O representante dos administradores hospitalares entende que a ministra da Saúde, Marta Temido, tem de chamar os prestadores privados e o conselho diretivo da ADSE para ultrapassar o diferendo e também para "que trabalhem numa nova proposta de relacionamento", diferente da que existe hoje.
Alexandre Lourenço considera que a ADSE tem tabelas com preços baixos e que as "modalidade de pagamento são anacrónicas", permitindo, por exemplo, cobrar diferentes valores pelo mesmo procedimento ou pela mesma medicação.
"Sugiro que se trabalhe em novas formas de relacionamento e a ministra de Saúde tem um papel de tutela da ADSE. Tem obrigação de o fazer [de chamar privados e conselho diretivo], mas não pode tomar partido, até porque a ADSE tem o seu caminho de autonomia", argumenta.
Quanto a cenários decorrentes de uma crise entre prestadores privados e ADSE, o responsável lembra que o "maior impacto" seria novamente para os doentes, com restrições de acesso, numa altura em que o setor público da saúde apresenta problemas de acessibilidade.
Alexandre Lourenço pensa que um eventual esvaziamento da ADSE teria sobretudo impacto, dentro do SNS, nas consultas externas nos hospitais e também nos centros de saúde.
Ainda assim, entende que poderia não ser "uma hecatombe" e socorre-se do volume de consultas para sustentar esta afirmação.
Segundo dados de 2016, o SNS realizou um total de mais de 40 milhões de consultas, enquanto os privados fizeram cerca de 2,9 milhões de consultas ao abrigo de convenções com a ADSE.
O presidente da Associação dos Administradores Hospitalares considera também que um esvaziamento da ADSE faria com que "alguns atuais beneficiários" optassem por seguros de saúde privados.