"Tenho de lhe dizer com a maior franqueza que não encontrei, não vislumbrei qualquer tipo de nexo causal", referindo-se à aprovação de financiamento, por parte de administradores da CGD, a uma das partes da 'guerra' de poder do BCP e sua posterior mudança para o banco, respondeu Pedro Duarte Neves ao deputado do PCP Paulo Sá, no parlamento.
Durante a sua segunda audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD, Pedro Duarte Neves considerou que "foi designada uma administração do BCP que traria condições normais ao banco".
"Nesse contexto, só fatores supervenientes que se vieram a revelar posteriormente é que levaram àquelas reuniões de dezembro [de 2007]", referiu o anterior responsável pela supervisão no Banco de Portugal, numa menção às denúncias sobre as 'offshore' do BCP.
Sobre esse assunto, e perante a pergunta de Paulo Sá sobre se foram feitas pelo empresário José Berardo, e depois de perguntar ao presidente da comissão se podia "falar sobre denúncias não anónimas", Pedro Duarte Neves disse que na sua "memória" e "apontamentos", foram "duas denúncias de alguém que já falámos várias vezes nesta comissão".
De acordo com Pedro Duarte Neves, as denúncias foram remetidas nos dias "28 de novembro e 11 de dezembro de 2007", mas o ex-vice-governador disse também saber de "denúncias anteriores ligadas a outros aspetos", que ocorreram "algures no verão".
As denúncias "eram enviadas ao Banco de Portugal e apareciam na comunicação social pouco tempo depois".
Pedro Duarte Neves disse que a primeira denúncia não foi "conclusiva", e que apenas a segunda "leva a concluir pelas infrações graves no BCP que tinham decorrido, a propósito, na primeira metade da década".
As denúncias levaram às reuniões de acionistas com o Banco de Portugal em 20 e 21 de dezembro, mencionadas na audição de hoje pelo ex-governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio.
Constâncio referiu que "vários acionistas queriam saber se as notícias eram verdade e queriam saber o que poderia acontecer ao banco".
"Para não prejudicar ninguém decidimos - não fui eu - que era melhor convocar um grupo de acionistas, de acordo com a percentagem de capital", afirmou.
Vítor Constâncio disse ainda aos acionistas, na reunião, "que se confirmavam coisas graves no BCP", "que não poderia dizer nada sobre os processos enquanto eles estivessem a decorrer", e ainda que os acionistas deveriam "estabilizar o banco".