Pestana quer reforçar 'lá fora': Da relação com CR7 à sustentabilidade

Numa altura em que o turismo vive um bom momento em Portugal, o Notícias ao Minuto falou com José Roquette, administrador do Grupo Pestana.

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Beatriz Vasconcelos
04/07/2019 08:50 ‧ 04/07/2019 por Beatriz Vasconcelos

Economia

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As últimas unidades do Pestana Tróia Eco Resort estão a ser concluídas, sendo que as previsões apontam para que o empreendimento turístico, que se situa na Península de Tróia, seja terminado no próximo ano. E começamos por aqui porque este não é um projeto qualquer: a sustentabilidade foi palavra de ordem desde o arranque dos trabalhos. 

Esta ideia faz do Pestana Tróia Eco Resort "inovador" para Portugal e mesmo para o próprio Grupo Pestana, uma empresa hoteleira nascida na Ilha da Madeira há cerca de 50 anos, e que quer transformar os compromissos sustentáveis num 'Padrão Pestana' - e ser um exemplo. 

Coincidência ou não, quis o destino que o Pestana se juntasse a outro madeirense, mas do mundo da bola: Cristiano Ronaldo. A relação é feliz, como explicou José Roquette, administrador do Grupo Pestana, ao Notícias ao Minuto, numa conversa onde ainda houve espaço para falar sobre as possíveis ameaças ao turismo em Portugal. 

O Pestana Tróia Eco Resort tem uma gestão diferente das restantes unidades do grupo. Qual é a mais-valia que este produto traz? 

É diferente, obviamente, na medida em que o Grupo Pestana é maioritariamente um grupo hoteleiro, trata-se de um empreendimento que é um resort com dois aldeamentos e um 'aparthotel'. É uma coisa com uma dimensão muito maior. Sobretudo, teve como preocupação desde a sua génese, já há mais de 10 anos, desenvolver um conceito absolutamente inovador em Portugal, porque não existe nenhum eco resort concebido como tal desde a sua raiz. E ter um foco muito sério na sustentabilidade, em todos os aspetos, desde o próprio 'masterplan' até à escolha dos arquitetos, à forma de fazer as infraestruturas, estamos a falar de energia solar e aproveitamento das águas, o próprio paisagismo de modo a que seja minimizador da utilização da água.

Todas as vertentes foram pensadas no sentido de ir ao encontro daquelas que são as melhores práticas mundiais de sustentabilidade. Nesse sentido é absolutamente inovador, nós nunca tínhamos feito nada assim e em Portugal não existe nada igual. E mesmo na Europa é um exemplo. 

As unidades turísticas já estão todas vendidas?

Diria que o projeto neste momento está 90% vendido. Concluímos parcialmente as últimas 48 unidades, que serão entregues em junho do ano que vem, ou seja, daqui por um ano. Portanto, até ao fim do ano que vem o projeto fica concluído.

Quem é que são os investidores?

Eu diria que 80% são portugueses. Depois temos alguns franceses e belgas, alguns espanhóis, de outras nacionalidades, mas fundamentalmente são portugueses. 

Há pouco o José falava na sustentabilidade, que é um tema cada vez mais atual, e suponho que seja também uma das preocupações do Grupo, no seu todo. 

Sim, sim, claro. À medida que se vai inovando, vai-se aprendendo. E esta experiência do Grupo Pestana tem tido e está a ter em Tróia tem servido de lição para o próprio Grupo, no sentido de experimentar e descobrir todas estas boas práticas, que são coisas novas para nós e obviamente que vamos tornar muitas delas 'standard' daqui para a frente: padrões Pestana. Isto é uma aprendizagem também nossa, não é apenas uma coisa inovadora em Portugal, é também para o Grupo Pestana. 

É um casamento de dois madeirenses que faz com que se consiga atingir os objetivos de cada uma das partes

Faz agora quatro anos que aconteceu a primeira abertura em parceria com o Cristiano Ronaldo. Qual é o balanço que faz desta relação?

O balanço é muito positivo. Essa parceria junta, fundamentalmente, duas coisas. O Grupo Pestana tinha como objetivo criar uma marca para um tipo de hotéis diferente do que tinha, uma marca para hotéis de lifestyle, que é como se chama este segmento no mercado - são hotéis mais modernos, em que a tecnologia tem uma presença bastante forte, em que existe uma informalidade muito maior na relação entre o staff e o cliente - e nós tínhamos o objetivo de criar essa linha de produto.

Da parte do Cristiano Ronaldo havia uma vontade de investir neste setor do turismo, com um parceiro em que confiasse absolutamente e que achasse ser sólido e credível. Além dessa vontade, ele [o Ronaldo] também trazia uma notoriedade global gigantesca. Em termos mundiais, o Cristiano é quem tem mais seguidores, somando as redes sociais todas. Juntando esses esforços, obviamente que o Cristiano não vai acrescentar mais-valias ao nível da escola hoteleira, porque essa é a nossa responsabilidade, mas acrescenta ao nível da visibilidade global. É um casamento de dois madeirenses que faz com que se consiga atingir os objetivos que citei há pouco de cada uma das partes. 

Aproveitamos sempre o bom momento do turismo português, mas o nosso foco em termos de estratégia de desenvolvimento continua a ser internacionalizarTem sido um casamento feliz. Infelizmente não conseguimos andar mais depressa, porque o ritmo dos projetos é lento, mas enfim... O hotel de Madrid vai abrir daqui a menos de um ano, o de Nova Iorque abrirá praticamente a seguir e com esse ficaremos com quatro. Anunciámos também há pouco o projeto de Marraquexe, mais tarde em 2023 teremos o de Paris… Portanto, é um projeto que tem muita consistência e julgo que rapidamente chegaremos às 10 unidades. 

O Grupo Pestana é português, nasceu na Madeira, mas cedo saiu de fronteiras. Esta parceria com o Cristiano Ronaldo também veio ajudar à internacionalização. Os planos para os próximos anos prevêem um reforço desta presença internacional?

Sim, sim, sem dúvida. Embora o Grupo Pestana tenha aproveitado nos últimos anos este 'boom' do turismo em Portugal, e aproveitamos com a abertura de novos hotéis, com um reforço muito grande no Porto, esta nova abertura no Algarve também muito recente, novos hotéis que faremos também em Lisboa… Aproveitamos sempre o bom momento do turismo português, mas o nosso foco em termos de estratégia de desenvolvimento continua a ser internacionalizar, diversificando a presença do grupo.

Hoje estamos em 15 países, mas rapidamente vamos chegar a 20 e, em termos de investimento, sem dúvida que isso vai ser um enorme consumidor de recursos. São projetos de longo prazo, [por exemplo] o projeto de Paris foi assinado há pouco mais de um ano e só vai ficar pronto em 2023. São coisas muitas vezes lentas, e pode parecer um pouco frustrante, mas é o nosso caminho, o grupo tem 50 anos e esta visão de longo prazo. Acreditamos que a solidez que hoje temos decorre exatamente de irmos tomando as decisões certas, com esta visão de longo prazo. Mas sem dúvida de que a internacionalização vai ser a característica fundamental da nossa estratégia de desenvolvimento. 

 Alojamento local? Portugal era até há pouco tempo, como a gente costuma dizer, ‘bar aberto’. Hoje caminha-se para uma situação mais equilibrada, mas ainda assim somos brandosNos últimos meses temos assistido a um crescimento das plataformas de alojamento local, isto é um desafio para as grandes unidades hoteleiras? 

Sim, claro. O alojamento local até há bem pouco tempo tinha em Portugal o país onde era mais ‘à solta’. Somos favoráveis à regulamentação. Se os hotéis para se desenvolverem, para ser aprovado um projeto hoteleiro, tem de ultrapassar uma série de barreiras e é um projeto consumidor de muito capital e dá emprego, paga IVA, etc., não podemos ter ao lado, seja qual for a tipologia.

Um concorrente que passa ao lado das dificuldades do licenciamento, escapou durante muito tempo à fiscalidade e torna-se numa concorrência desleal. É um desafio grande, julgo que Portugal era até há pouco tempo o país mais liberal quanto a isso, não havia regras, basicamente era, como a gente costuma dizer, ‘bar aberto’. Hoje caminha-se para uma situação mais equilibrada, mas ainda assim se formos comparar com outros países da Europa, como a Alemanha ou França, ainda somos muito brandos. Na Alemanha, por exemplo, o conceito de ‘homesharing’ significa que o proprietário da casa tem de estar na casa quando arrenda um quarto, não é eu agora comprar um apartamento em Alfama e arrendá-lo à semana. 

Ainda assim, continuamos a ser bastante leves no que toca à regulamentação, quando comparando com os outros países europeus que estão muito à frente nisto e onde o alojamento local já se desenvolveu mais ainda. 

Só para terminar, quais são as perspetivas para este verão?

As expectativas são boas. Acho importante termos a noção de que estamos num ciclo muito positivo, e há dois fatores que constituem limitações ou ameaças, digamos assim, ao turismo em Portugal: o primeiro tem a ver com a nossa concorrência. 

 Uma coisa é certa: vem daí, novamente, um impacto grande ao nível da concorrência internacional. Lisboa é um destino que tem imenso potencial e que agora vai enfrentar uma estabilizaçãoDurante os últimos anos, os países que foram afetadas pela Primavera Árabe criaram um contexto muito positivo para Portugal, Espanha e outros países. No entanto, esse fenómeno foi estabilizando e a concorrência que nós tínhamos da Tunísia, Turquia e Egito agora volta a fazer-se sentir com mais intensidade e é uma concorrência feroz, fora da zona euro, com competitividade muito mais forte, com custos mais baixos de operação. Uma coisa é certa: vem daí, novamente, um impacto grande ao nível da concorrência internacional. 

Depois, [ao nível de] fatores internos, a maior limitação que sentimos hoje é o aeroporto de Lisboa. Somos favoráveis ao ‘Portela + 1’, achamos que o Montijo foi a opção certa, só que entre o dia em que se tomou a opção certa e o dia em que se está a implementar essa opção certa está a passar muito tempo. E Lisboa e Portugal vão perder com isso. 

O turismo perde com esse 'atraso'?

Claro. Lisboa é um destino que tem imenso potencial e que agora vai enfrentar aqui uma estabilização. Paralelamente a isso, como teve muito potencial, aumentou a oferta. Como aumentou a oferta, a procura tem um fator limitativo que decorre das restrições que o atual aeroporto enfrenta.

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