"Os bancos têm falta de informação sobre o clima", disse Virginie Marcheal numa exposição sobre "o sistema financeiro e os desafios climáticos", durante a conferência "Roteiro Nacional para a Neutralidade Carbónica 2050 - O papel do financiamento sustentável", que decorre hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
A responsável da OCDE para políticas ambientais considerou que "o desafio" para colmatar essa falta de informação, por parte dos bancos, é "medir o risco das alterações climáticas nos ativos que estão a financiar", bem como a "divulgação" de informação sobre ativos mais suscetíveis de risco climático e posteriormente "mitigação" desses riscos.
"Não queremos outra bolha", afirmou Virginie Marchal, referindo-se a uma potencial bolha climática, concluindo que "a estabilidade do sistema financeiro não está garantida" se "a sustentabilidade ambiental não é tida em conta".
Já Theresa Lober, do Banco de Inglaterra, deu o exemplo concreto de riscos de inundação graças ao aquecimento global, que podem "duplicar ou mais do que duplicar o risco médio anual de perdas em hipotecas" no Reino Unido.
A diretora do banco central britânico para as alterações climáticas sugeriu que os bancos poderiam "avaliar, por exemplo, como é que a sua carteira de hipotecas está exposta a riscos de inundação".
A responsável britânica lembrou que os "bancos que concedem crédito podem encontrar perdas inesperadas" como resultado das alterações climáticas, lembrando que as áreas do "imobiliário, agricultura e infraestruturas" podem ser as principais afetadas pelo fenómeno.
"As seguradoras têm pensado sobre riscos materiais desde há muito tempo, os bancos não", já que "dizem que não precisam [de avaliar riscos] porque estão seguradas", mas Theresa Lober preconiza que se está a caminhar "para um mundo não segurável".
A responsável do Banco de Inglaterra concluiu a sua intervenção dizendo que "os bancos centrais e os supervisores não podem resolver as alterações climáticas", mas devem "apoiar as economias para chegar a um mundo de neutralidade carbónica".
Num outro painel, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Faria de Oliveira, considerou necessário haver regulamentação ou orientações a nível global para enquadrar a forma como os bancos avaliam o impacto ambiental nos projetos que financiam.
"Há que trazer para dentro da cultura da organização a sensibilidade para questões de natureza ambiental", afirmou, durante a mesa redonda "O sistema financeiro e os desafios climáticos".
O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) disse ainda que também não será fácil para pequenas empresas fornecerem esse tipo de indicadores, que avaliam a sustentabilidade do seu negócio.