“Infelizmente a reunião termina sem acordo. A ANTRAM [Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias] apresentou aqui uma proposta que entendia ser responsável [70%] (…) É importante dizer que os sindicatos propunham 25% quando a anterior greve tinha 40% dos serviços mínimos”, disse André Matias de Almeida em declarações aos jornalistas à saída da reunião na DGERT.
“A ANTRAM achou que não era responsável para os portugueses (…) e portanto a proposta que o sindicato no fim de várias horas de nos deixar à espera na sala foi dizer que não concordava com essas mesmas propostas”, fez saber o responsável.
André Matias de Almeida deu conta que as negociações com o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) prosseguiram durante a tarde no sentido de pedir que os sindicatos revissem os serviços mínimos, “para que os portugueses pudessem fazer uma vida com menos impacto do que aquela que teve a última greve”. E a resposta “foi de que não só mantinham os serviços mínimos como não fariam qualquer tipo de trabalho suplementar”, contou.
O porta-voz adiantou ainda aos jornalistas que os motoristas não farão descargas de mercadorias, apenas vão conduzir os veículos, situação que a ANTRAM lamenta, apontando intransigência nas negociações.
"Mais uma vez não houve nenhum tipo de abertura. Uma postura muito arrogante e a pessoalizarem todos os dirigentes da ANTRAM, todos os problemas que a ANTRAM se propõe a resolver com um aumento de 300 euros para o próximo ano" (...). Chegámos ao ponto de ouvir deste sindicato expressões como 'vão rolar a cabeças'". É lamentável que isto assim seja", sublinhou ainda.
Aos jornalistas, o mesmo responsável disse considerar que a postura "socialmente irresponsável" dos sindicatos dos motoristas justifica "requisição civil preventiva". "Se isto não é caso para uma requisição civil preventiva, então não sei o que é", defendeu André Almeida, classificando a postura dos sindicatos de "socialmente irresponsável".
No pré-aviso de greve entregue pelos sindicatos, eram propostos serviços mínimos de 25% em todo o país.
Por sua vez, as empresas propunham 70% de serviços mínimos garantidos.
Perante este impasse nas negociações entre motoristas e patrões, será o Governo a definir os serviços mínimos. A Lusa tentou contactar o SIMM e o SNMMP, mas até ao momento não foi possível obter os seus comentários ao resultado da reunião de hoje.
O ministro Pedro Nuno Santos, recorde-se, aconselhou hoje os portugueses a começarem a abastecer as suas viaturas, de modo a se precaverem, no caso de haver greve dos motoristas.
"Temos todos de nos preparar. O Governo está a fazer o seu trabalho [para evitar a greve], mas todos podíamos começar a precaver-nos, em vez de esperarmos pelo dia 12, que não sabemos se vai acontecer [a paralisação]. Era sensato podermo-nos abastecer para enfrentar com maior segurança o que vier a acontecer", disse Pedro Nuno Santos.
Leia Também: Ministro aconselha portugueses a abastecerem viaturas antes da greve
Na greve iniciada em 15 de abril, o Governo estipulou a garantia dos serviços mínimos com 40% dos trabalhadores em funções, mas apenas para Lisboa e Porto.
Posteriormente, o Governo acabou por decretar uma requisição civil e, depois, convidar as partes a sentarem-se à mesa de negociações.
A elevada adesão àquela greve de três dias surpreendeu todos, incluindo o próprio sindicato, e deixou sem combustível grande parte dos postos de abastecimento do país.
Na segunda-feira, o SIMM ameaçou consequências mais graves para a greve que começa em 12 de agosto do que as sentidas em abril, através de uma carta aberta enviada às redações.
O sindicato avisou que, além dos combustíveis, a próxima greve vai afetar também o abastecimento às grandes superfícies, à indústria e aos serviços, podendo "faltar alimentos e outros bens nos supermercados".
A indústria, alertou o SIMM, "vai sofrer graves perdas e grandes exportadoras como a Autoeuropa correm o risco de parar a laboração".
O que reivindicam os motoristas?
Os representantes dos motoristas pretendem um acordo para aumentos graduais no salário-base até 2022: 700 euros em janeiro de 2020, 800 euros em janeiro de 2021 e 900 euros em janeiro de 2022, o que, com os prémios suplementares que estão indexados ao salário-base, daria 1.400 euros em janeiro de 2020, 1.550 euros em janeiro de 2021 e 1.715 euros em janeiro de 2022.
Estes sindicatos acusam a ANTRAM de já ter aceitado este acordo e de agora estar a voltar atrás na decisão, o que a associação desmente.
Segundo fonte sindical, existem em Portugal cerca de 50.000 motoristas de veículos pesados de mercadorias, 900 dos quais a transportar mercadorias perigosas.