De acordo com um dos coordenadores da rede, Jorge Leandro Rosa, o PIB "mede a produção de bens e serviços", mas "não toma em conta a natureza desses bens nem desses serviços" e "não a articula nem com o contexto da sociedade nem com o pensamento do bem-estar dos cidadãos".
"O PIB tem vindo a ser cada vez mais um indicador abstrato, e, de alguma forma, submete as sociedades a esta ideia abstrata de um aumento contínuo da produção de bens e serviços", disse Jorge Leandro Rosa à Lusa.
Um dos responsáveis pela Rede para o Decrescimento em Portugal considerou também, referindo-se à "espécie de automatismo em que a nossa sociedade caiu de que é necessário crescer a todo o custo", que "a cegueira do próprio sistema que tudo absorve" lhe parece "extremamente perigosa".
"E ela é tanto mais perigosa hoje quando nós estamos numa situação, como todo o cidadão sabe, de emergência ambiental, em que o meio ambiente é esmagado por este aumento constante de produtividade, que envolve outras dimensões, como por exemplo as da extração de matérias primas", afirmou o responsável.
Jorge Leandro Rosa referiu à Lusa que o "extrativismo, a produtividade e o consumo" fazem parte de um "ciclo constante (...) cada vez mais desligado de uma perspetiva de bem-estar e justiça, para estar cada vez mais a funcionar em círculo fechado".
Para o membro da Rede para o Decrescimento, "há muitos exemplos de como o índice de topo do PIB não corresponde muitas vezes a sociedades mais justas e mais igualitárias", dando o exemplo dos Estados Unidos, "um caso gritante".
Contudo, Jorge Leandro Rosa não deixa de referir que "é preciso um certo nível de riqueza" nas sociedades, "mas esse nível de riqueza deve ser não o máximo possível mas o suficiente, o bastante".
Quando o nível de riqueza é o suficiente, as próprias sociedades "se reorganizam", afirmou, orientando "as suas prioridades para a redistribuição" e "para formas de aproveitamento de recursos", como a reciclagem, de acordo com o responsável.
Para Jorge Leandro Rosa, a preponderância do PIB na sociedade está ligada aos recursos energéticos e à vulgarização do seu acesso, proveniente das revoluções industriais sustentadas em fontes como "o carvão, no século XIX, e o petróleo, sobretudo, no século XX".
"Estes ciclos [energéticos] obviamente que fizeram disparar os indicadores económicos, mas eles têm uma base concreta, uma base material, que é essa disponibilidade energética extremamente abundante e extremamente barata (...), que hoje já não o é tanto", considerou.
Jorge Leandro Rosa afirmou que no início do século se atingiu "o pico do petróleo", que "as sociedades não estão a pensar nessa questão", e que se fazem "abordagens simplistas" de uma passagem imediata do uso do petróleo para energias renováveis.
"Não se pensa é que as energias renováveis não servem para o mesmo tipo de sociedade. Eu acho que não servem para uma sociedade de crescimento infinito", afirmou.