"Os bancos não devem temer a concorrência", afirmou em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o presidente executivo da Federação Europeia de Bancos (EBF, sigla em inglês), Wim Mijs.
Em causa está a nova diretiva dos pagamentos da União Europeia (UE), que entra em vigor na sua totalidade no dia 14 de setembro, trazendo uma mudança significativa para os bancos, que passam a ser obrigados a partilhar os dados dos clientes com empresas como as 'fintech' (tecnológicas de serviços financeiros).
A nova diretiva europeia vem, assim, permitir a entrada de novos operadores nos serviços de pagamentos, como é o caso dos prestadores de serviços que agregam a informação financeira, criando um mercado único neste tipo de transações.
Com a devida autorização dos clientes, os bancos serão obrigados a ceder a sua informação financeira a outras entidades, perdendo assim uma vantagem competitiva que detinham até agora.
Confrontado com a preocupação manifestada pelos bancos portugueses sobre esta nova lei, Wim Mijs considerou que as instituições bancárias devem, antes, "preocupar-se com a segurança".
"A integridade de um sistema de pagamentos é essencial, por isso é preciso garanti-la, [...] e isso é mais fácil se decidirmos quem pertence ao 'clube'. Se abrirmos [o mercado] a mais inovação e a mais concorrência, que é o que as autoridades europeias e a Comissão querem fazer, claro que isso pode funcionar, mas também pode levar a riscos", notou o responsável.
Segundo Wim Mijs, "os bancos estão preocupados com a integridade do sistema", mas também estão "frustrados" por terem de assumir as responsabilidades com as questões de segurança, mesmo tratando-se de serviços prestados por terceiros como as 'fintech'.
"O que nos deixa frustrados é que nós providenciamos toda a infraestrutura de combate à lavagem de dinheiro e garantimos a [proteção da] identidade dos clientes e eles só têm de o usar", referiu.
Por isso, para a EBF, "a concorrência é bem-vinda", mas os novos operadores "deviam ter responsabilidades" nestas questões, apontou.
Ainda assim, Wim Mijs reconheceu "ideias incríveis" vindas destas tecnológicas financeiras, como é o caso da inglesa Revolut, que criou um cartão pré-pago que sem taxas em operações como pagamento de compras, transferências nacionais ou internacionais nem taxas de câmbio, ou da norte-americana Paypal, que funciona como intermediária nas compras e vendas realizadas pela internet, possibilitando ainda o envio e receção de dinheiro.
"Para mim, daqui a cinco anos, teremos um setor bancário diferente, e a Revolut e a Paypal são exemplos de boas ideias de serviços que os bancos vão começar a prestar", nota Wim Mijs em entrevista à Lusa.
O responsável destacou que, hoje em dia, os utilizadores querem ter a possibilidade de "fazer pagamentos imediatos", nomeadamente sem ter de usar o cartão físico.
"Não são as 'fintech' que vão substituir as instituições bancárias. As pessoas vão querer um serviço e esperam que os seus bancos os forneçam. As pessoas não vão mudar para a Revolut se os seus bancos tiverem esse tipo de serviços", adiantou.
Os serviços de pagamentos são dos principais negócios dos bancos e dos mais lucrativos, pelo que a entrada em vigor desta legislação significará uma grande alteração para o sistema bancário tradicional.
A EBF agrega 32 associações bancárias nacionais na Europa -- entre as quais a Associação Portuguesa de Bancos -- que, ao todo, representam cerca de 3.500 bancos europeus, num total de quase dois milhões de funcionários.