A notícia pode ter surpreendido os que desconheciam a situação financeira da Thomas Cook, mas a verdade é que as dificuldades já eram visíveis, motivo pelo qual a empresa agendou uma reunião de emergência para domingo, dia 22 de setembro. O objetivo? Garantir um resgate financeiro. Se conseguiu? A resposta é não.
E, em traços gerais, foi por não ter conseguido um 200 milhões de libras (cerca de 227 milhões de euros) em fundos adicionais que a operadora turística abriu falência. Este montante era reivindicado por bancos, como o RBS ou o Lloyds.
A Thomas Cook, fundada em 1841 no condado inglês de Leicestershire, tinha previsto assinar esta semana um pacote de resgate com o seu maior acionista, o grupo chinês Fosun, estimado em 900 milhões de libras (1.023 milhões de euros), mas tal foi adiado pela exigência dos bancos de que o grupo tivesse novas reservas para o inverno.
Como não aconteceu, a Thomas Cook anunciou falência por não ter conseguido os fundos necessários para garantir a sua sobrevivência. E os efeitos foram imediatos. "Desta forma, o Conselho de Administração concluiu que não tinha escolha, a não ser tomar medidas para entrar em liquidação com efeito imediato", apontou o operador turístico britânico em comunicado.
Foi também de imediato que se fizeram sentir os efeitos junto dos turistas que estavam em viagem. Aliás, vários cidadãos que estavam de férias na Tunísia disseram no domingo à BBC que foram impedidos de sair dos hotéis.
Mas há mais. As autoridades terão agora que organizar um repatriamento de cerca de 600.000 turistas em todo o mundo, incluindo 150.000 para o Reino Unido. Esta operação já começou e vai prolongar-se até ao dia 6 de outubro. Existem 51 destinos afetados em cerca de 16 países onde o grupo operava.
O Guardian escreve esta terça-feira que os antigos responsáveis da Thomas Cook estão na mira por salários excessivos. Ao que tudo indica, os CEO receberam mais de 35 milhões de libras (39,6 milhões de euros) em 12 anos, mesmo numa altura em que a empresa já se deparava com problemas financeiros.
Em Portugal, qual é o impacto?
A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) não prevê problemas de repatriamento de turistas portugueses, mas antecipa que a preocupação neste momento está relacionada com as dívidas da Thomas Cook aos hotéis algarvios.
"Mas não me parece que Portugal esteja no olho do furacão", afirmou Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, explicando que, comparando com outros destinos mundiais, não será em Portugal que os efeitos serão mais relevantes.
Por outro lado, o presidente e fundador da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, fala num impacto "terrível" e assegura que os prejuízos podem "ascender a milhões de euros, no caso do Algarve", apontou, em declarações à TSF.
Também Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), que acredita que a falência da Thomas Cook "irá trazer danos à atividade turística em Portugal", sobretudo na Madeira.
Seja como for, o Governo já assegurou que está a acompanhar a situação, adiantando que existem cerca de 500 pessoas afetadas no Algarve, segundo dados da embaixada britânica. Em relação aos turistas portugueses que tenham adquirido pacotes de férias da Thomas Cook, a secretaria de Estado do Turismo refere que "foram já acionados os mecanismos de informação e apoio ao consumidor".
Falência? Deve-se ao "sucesso" das plataformas digitais
O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, pronunciou-se sobre o assunto e justificou a falência da Thomas Cook com o "sucesso" das plataformas digitais de marcação de voos, hotéis e carros de aluguer.
"A falência da Thomas Cook é a demonstração do sucesso do 'booking' [plataforma digital] e de todas as outras plataformas que ocuparam o espaço que, anteriormente, era ocupado por eles [agências de viagens]. Hoje, quem trabalha com agências é, basicamente, o setor do 'corporate'", disse Carlos Costa.
Carlos Costa explicou que as agências de viagens viviam da prestação de serviços que assentavam na dificuldade do cliente em aceder à informação e em marcar um hotel, um voo ou um carro, acrescentando que essa dificuldade dava lugar a um mercado que hoje desapareceu. "Ninguém vai hoje a uma agência de viagens a não ser que tenha um serviço adicional", referiu.