Entre sonoras buzinadelas e bandeiras pretas, e debaixo de guarda-chuvas devido ao mau tempo que se faz sentir hoje em Portugal, António Silva, um dos representantes do grupo de lesados do BES/Novo Banco, acusou o primeiro-ministro de não cumprir a promessa de "desbloquear as poupanças" dos clientes do BES lesados.
"Temos um primeiro-ministro que prometeu que se fossem para o Governo que desbloqueavam as nossas poupanças. Não compreendemos, porque é que ele já lá esteve durante uma legislatura, vai agora para a segunda, e o que ele está a promover é a continuação do confisco das nossas poupanças", afirmou António Silva, prometendo mais manifestações do grupo de lesados já no início de 2020 na cidade do Porto.
O grupo de lesados do BES lamentou que o primeiro-ministro, António Costa, tenha "acordado agora" e que esteja "admirado por ninguém ter sido julgado no caso BES".
"Admirados estamos nós, os clientes roubados", dizem, questionando o primeiro-ministro sobre o que foi feito com a provisão do Novo Banco que se destinava a devolver as poupanças dos clientes de retalho (pequenos clientes) e que foi para pagar aos "grandes clientes" e aos "clientes institucionais".
Para o grupo de lesados, o primeiro-ministro "envergonha um país inteiro" e "virou as costas a famílias inteiras roubadas por delinquentes da banca que violaram" a confiança e a boa fé.
"O primeiro-ministro garantiu, em Champigny, perto de Paris, a 11 de junho de 2016, o empenho do Governo para ajudar a resolver o problema dos lesados do BES, vamos entrar em 2020, e a justiça que é devida do primeiro-ministro, António Costa, é continuar a confiscar as poupanças que estavam garantidas com provisões, e meter os 3,9 mil milhões num banco que enganou milhares de portugueses", refere, por seu turno, o comunicado divulgado hoje pelo grupo de lesados do BES.
Questionado pela Lusa sobre o facto de no Relatório da proposta de Orçamento do Estado (OE2020) o Governo estimar uma recapitalização do Novo Banco pelo Fundo de Resolução de 600 milhões de euros em 2020, António Silva classifica a medida de "disparate", porque, justifica, que se está a a "financiar um banco que podia estar ao serviço dos portugueses" e que podia ter sido "nacionalizado".
"Nós achamos isso, sinceramente, um disparate. (...) Quando fizeram a intervenção disseram que o banco ficou limpinho e sem problemas nenhuns. Agora acabam por, no fundo estar a dar o banco a uma instituição que só vem ao nosso país para ganhar dinheiro com este negócio", acrescentou.
Pelo 6.º Natal e ano consecutivo, os lesados do BES afirmam-se como o "símbolo da maior injustiça que o Estado português fez nos últimos anos aos seus cidadãos".
"Isso não é apenas uma fraude, é um desprezo do Estado pelas leis e seu povo", referem.
O BES, tal como era conhecido, acabou em agosto de 2014, deixando milhares de pessoas lesadas devido a investimentos feitos no banco ou em empresas do Grupo Espírito Santo.
O Banco de Portugal, através de uma medida de resolução, tomou conta da instituição fundada pela família Espírito Santo e anunciou a sua separação, ficando os ativos e passivos de qualidade num 'banco bom', denominado Novo Banco, e os passivos e ativos tóxicos no BES, o 'banco mau' ('bad bank'), sem licença bancária.
No âmbito da venda de 75% do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star, em 2017, o Estado fez um acordo que prevê a recapitalização do banco pelo Fundo de Resolução (entidade da esfera do Estado e que é financiado pelos bancos que operam em Portugal, apesar de consolidar nas contas públicas), para cobrir falhas no capital geradas pelos ativos tóxicos com que o Novo Banco ficou do BES (crédito malparado ou imóveis).
No total, segundo esse acordo, o Fundo de Resolução bancário pode injetar 3,89 mil milhões de euros no Novo Banco até 2026. Referentes a 2017 e 2018, o Novo Banco já recebeu 1.941 milhões de euros.