"Mentirosos, ataque, invenção". A defesa compulsiva de Isabel dos Santos

Isabel dos Santos é o centro de uma investigação financeira espoletada pelos Luanda Leaks, onde a filha do ex-presidente de Angola é acusada de enriquecer à custa do erário público angolano.

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© Getty Images

Anabela Sousa Dantas
20/01/2020 12:51 ‧ 20/01/2020 por Anabela Sousa Dantas

Economia

Isabel dos Santos

A empresária angolana Isabel dos Santos reagiu à investigação noticiada este fim de semana pelo consórcio de jornalistas através do seu perfil de Twitter, onde levantou dúvidas tanto sobre a veracidade dos ficheiros que deram origem aos Luanda Leaks como sobre as motivações para a investigação, que definiu como um "ataque político concertado" e uma "campanha bem montada e grosseira".

Sublinhe-se que o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), que integra também os meios portugueses SIC e Expresso, revelou este domingo as primeiras conclusões de uma investigação aos mais de 715 mil ficheiros que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo.

A filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos é acusada de ter recorrido a esquemas de corrupção para benefício próprio durante a presidência do pai, uma exploração que agudizou depois de ter sido nomeada para liderar a petrolífera estatal, a Sonangol. Estes 356 gigabytes de dados relativos aos negócios de Isabel dos Santos terão ajudado a reconstruir o caminho que a levou a tornar-se a mulher mais rica de África.

A empresária, porém, não se tem mantido à margem das suspeitas que são lançadas sobre si, recorrendo às redes sociais, mas também a entrevistas à comunicação social, para se defender. Este domingo, por exemplo, fez várias publicações no Twitter.

"A reportagem do ICIJ é baseada em muitos documentos falsos e informação falsa, é um ataque político concertado e coordenado com o Governo angolano. 715 mil documentos lidos? Quem acredita nisso?", questionou, levantando dúvidas sobre a autenticidade dos documentos. "Os leaks são documentos autênticos? Quem sabe? Ninguém... estranho mesmo é ver a PGR de Angola a dar entrevista à SIC-Expresso. Ataque político".

A empresária prossegue, depois, com acusações várias à idoneidade dos dois meios de comunicação portugueses que fazem parte do consórcio - a SIC e Expresso. "Se houvesse interesse na verdade e não no assassínio de caráter, a SIC-Expresso teria entrevistado o atual PCA da Sonangol", afirmou. "Como é um ataque político comandado e orquestrado só entrevistam o PGR".

O jornalista que assina o trabalho feito pelo semanário Expresso é visado pessoalmente. "Micael Pereira é um mentiroso", alega, falando numa "campanha bem montada e grosseira" e alargando depois a acusação, uns 'tweets' à frente: "SIC-Expresso, ICIJ são mentirosos".

"É preciso 715 mil documentos para provar um esquema? Exagero! Pura invencionice [sic]", escreveu.

Consultoras que receberam milhões afastam-se

Pouco depois de surgirem as notícias sobre as transações suspeitas e esquemas alegadamente fraudulentos, a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) deu indicação de ter cessado os contratos de serviços a empresas controladas pela empresária angolana.

Conforme explica o Guardian, outros dos meios que fazem parte do consórcio, os principais bancos deixaram de querer negociar com Isabel do Santos à medida que os seus investimentos iam sendo catalogados como de possíveis riscos de corrupção. O marido, Dokolo, chegou a dizer que não conseguia abrir conta em seu nome em bancos de Londres e Paris desde 2001.

As consultoras PwC e Boston Consulting Group (BCG), diz o Guardian, receberam milhões em troca de serviços de consultoria de gestão e auditoria. A PwC, por exemplo, tratava dos negócios de Dokolo em Malta, na Suíça e nos Países Baixos.

"Nós esforçamo-nos para manter os mais altos padrões profissionais na PwC e estabelecemos expetativas de comportamento ético consistente por todas as empresas da PwC na nossa rede global. Em resposta às alegações muito sérias e preocupantes levantadas, iniciámos imediatamente uma investigação", comentou, num comunicado enviado à agência Lusa.

Ana Gomes aponta o dedo a conivências. Isabel dos Santos agradece

A ex-eurodeputada Ana Gomes, que chegou a ser alvo de um processo por parte de Isabel dos Santos, acusou este domingo o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e a Procuradoria-Geral da República de serem "coniventes" com os esquemas alegadamente fraudulentos da empresária.

Ana Gomes, num comentário feito na antena da SIC Notícias, apontou o dedo à "cumplicidade" das autoridades portuguesas para com uma "roubalheira organizada da cleptocracia que espolia o povo angolano".

Para a ex-eurodeputada, as autoridades portuguesas "decidiram não agir porque isto era sancionado pelo Estado e pelos governos portugueses". "É completamente imoral, a título pessoal ou no quadro de empresas, que portugueses colaborem" na transformação de Portugal numa "lavandaria da criminalidade que rouba Angola", acrescentou.

Este comentário, onde Ana Gomes falou sobre o financiamento por parte de bancos portugueses, mereceu, desta vez, um agradecimento por parte da filha do ex-presidente angolano.

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