A empresária angolana Isabel dos Santos reagiu à investigação noticiada este fim de semana pelo consórcio de jornalistas através do seu perfil de Twitter, onde levantou dúvidas tanto sobre a veracidade dos ficheiros que deram origem aos Luanda Leaks como sobre as motivações para a investigação, que definiu como um "ataque político concertado" e uma "campanha bem montada e grosseira".
Sublinhe-se que o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), que integra também os meios portugueses SIC e Expresso, revelou este domingo as primeiras conclusões de uma investigação aos mais de 715 mil ficheiros que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo.
A filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos é acusada de ter recorrido a esquemas de corrupção para benefício próprio durante a presidência do pai, uma exploração que agudizou depois de ter sido nomeada para liderar a petrolífera estatal, a Sonangol. Estes 356 gigabytes de dados relativos aos negócios de Isabel dos Santos terão ajudado a reconstruir o caminho que a levou a tornar-se a mulher mais rica de África.
A empresária, porém, não se tem mantido à margem das suspeitas que são lançadas sobre si, recorrendo às redes sociais, mas também a entrevistas à comunicação social, para se defender. Este domingo, por exemplo, fez várias publicações no Twitter.
"A reportagem do ICIJ é baseada em muitos documentos falsos e informação falsa, é um ataque político concertado e coordenado com o Governo angolano. 715 mil documentos lidos? Quem acredita nisso?", questionou, levantando dúvidas sobre a autenticidade dos documentos. "Os leaks são documentos autênticos? Quem sabe? Ninguém... estranho mesmo é ver a PGR de Angola a dar entrevista à SIC-Expresso. Ataque político".
A empresária prossegue, depois, com acusações várias à idoneidade dos dois meios de comunicação portugueses que fazem parte do consórcio - a SIC e Expresso. "Se houvesse interesse na verdade e não no assassínio de caráter, a SIC-Expresso teria entrevistado o atual PCA da Sonangol", afirmou. "Como é um ataque político comandado e orquestrado só entrevistam o PGR".
Não fiz desaparecer 115 milhões da Sonangol. Isso é mentira! A SIC e o Expresso estão a mentir. Sabem muito bem que houve um contrato de consultoria do projeto de reestruturação da Sonangol que foi feito o trabalho. @SICNoticias Querem a força mentir #persiguição
— Isabel Dos Santos (@isabelaangola) January 19, 2020
O jornalista que assina o trabalho feito pelo semanário Expresso é visado pessoalmente. "Micael Pereira é um mentiroso", alega, falando numa "campanha bem montada e grosseira" e alargando depois a acusação, uns 'tweets' à frente: "SIC-Expresso, ICIJ são mentirosos".
"É preciso 715 mil documentos para provar um esquema? Exagero! Pura invencionice [sic]", escreveu.
30 órgão de comunicação mundiais alguma vez investigaram uma só pessoa?Campanha concertada @SICNoticias sic televisão nunca me convidou . Parem de mentir
— Isabel Dos Santos (@isabelaangola) January 19, 2020
Consultoras que receberam milhões afastam-se
Pouco depois de surgirem as notícias sobre as transações suspeitas e esquemas alegadamente fraudulentos, a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) deu indicação de ter cessado os contratos de serviços a empresas controladas pela empresária angolana.
Conforme explica o Guardian, outros dos meios que fazem parte do consórcio, os principais bancos deixaram de querer negociar com Isabel do Santos à medida que os seus investimentos iam sendo catalogados como de possíveis riscos de corrupção. O marido, Dokolo, chegou a dizer que não conseguia abrir conta em seu nome em bancos de Londres e Paris desde 2001.
As consultoras PwC e Boston Consulting Group (BCG), diz o Guardian, receberam milhões em troca de serviços de consultoria de gestão e auditoria. A PwC, por exemplo, tratava dos negócios de Dokolo em Malta, na Suíça e nos Países Baixos.
"Nós esforçamo-nos para manter os mais altos padrões profissionais na PwC e estabelecemos expetativas de comportamento ético consistente por todas as empresas da PwC na nossa rede global. Em resposta às alegações muito sérias e preocupantes levantadas, iniciámos imediatamente uma investigação", comentou, num comunicado enviado à agência Lusa.
Ana Gomes aponta o dedo a conivências. Isabel dos Santos agradece
A ex-eurodeputada Ana Gomes, que chegou a ser alvo de um processo por parte de Isabel dos Santos, acusou este domingo o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e a Procuradoria-Geral da República de serem "coniventes" com os esquemas alegadamente fraudulentos da empresária.
Ana Gomes, num comentário feito na antena da SIC Notícias, apontou o dedo à "cumplicidade" das autoridades portuguesas para com uma "roubalheira organizada da cleptocracia que espolia o povo angolano".
Para a ex-eurodeputada, as autoridades portuguesas "decidiram não agir porque isto era sancionado pelo Estado e pelos governos portugueses". "É completamente imoral, a título pessoal ou no quadro de empresas, que portugueses colaborem" na transformação de Portugal numa "lavandaria da criminalidade que rouba Angola", acrescentou.
Este comentário, onde Ana Gomes falou sobre o financiamento por parte de bancos portugueses, mereceu, desta vez, um agradecimento por parte da filha do ex-presidente angolano.
Ana Gomes admite que o investimento na Effacec, feito por isabel dos santos foi finaciamento dos bancos comerciais portugueses , e não foi erário público angolano. Obrigada Ana Gomes por esclarecer e finalmente admitires a verdade.
— Isabel Dos Santos (@isabelaangola) January 19, 2020
Ana Gomes acaba de admitir que os problemas do Eurobic veio do BPN - obrigada finalmente por esclarecer!
— Isabel Dos Santos (@isabelaangola) January 19, 2020