"A trajetória do crescimento mundial traduz um forte declínio, seguido do regresso a níveis mais próximos dos históricos, num grupo de economias de mercados emergentes e em vias de desenvolvimento com um desempenho deficiente e que atravessam momentos de tensão, incluindo o Brasil, Índia, México, Rússia e Turquia", refere o FMI na atualização que hoje fez ao seu 'World Economic Outlook' (WEO).
Segundo refere, o perfil de crescimento hoje traçado baseia-se também na presunção de que "as economias de mercados emergentes relativamente saudáveis manterão um desempenho sólido, mesmo que as economias desenvolvidas e a China continuem a desacelerar gradualmente as respetivas taxas de crescimento potencial".
O FMI alerta ainda que a concretização destas projeções depende, "em grande parte, do evitar quer de uma nova escalada das tensões comerciais entre os EUA e a China, quer de um 'Brexit' sem acordo e da contenção das ramificações económicas resultantes da instabilidade social e das tensões geopolíticas".
O FMI baixou hoje as suas estimativas e projeções para a economia mundial, prevendo que tenha crescido 2,9% em 2019 e que progrida 3,3% em 2020 e 3,4% em 2021, sobretudo penalizadas pelo desempenho de algumas economias emergentes.
As novas estimativas representam uma revisão em baixa de 0,1 pontos percentuais para 2019 e 2020 e de 0,2 pontos percentuais para 2021 face às anteriores previsões de outubro do ano passado.
No relatório hoje divulgado, o FMI antecipa que os efeitos da "substancial distensão monetária" nas economias desenvolvidas e mercados emergentes em 2019 "se continuem a propagar na economia mundial em 2020", sendo que, "sem este estímulo monetário, a estimativa de crescimento mundial para 2019 e a projeção para 2020 teriam sido 0,5 pontos percentuais mais baixas em cada ano".
A instituição liderada por Kristalina Georgieva projeta que a recuperação mundial seja acompanhada de uma retoma do crescimento do comércio (embora mais modesto do que prognosticado na última projeção de outubro passado), refletindo sobretudo uma recuperação da procura interna e do investimento, assim como a dissipação de algumas resistências nos setores automóvel e tecnológico.
Neste contexto, o FMI projeta que o crescimento nas economias desenvolvidas estabilize nos 1,6% em 2020-2021 (menos 0,1 pontos percentuais face às previsões do relatório de outubro), sobretudo devido às revisões em baixa nos EUA, zona euro e Reino Unido e a diminuições noutras economias desenvolvidas na Ásia, nomeadamente Hong Kong.
Nos EUA, o crescimento deverá abrandar de 2,3% em 2019 para 2,0% em 2020 e 1,7% em 2021 (0,1 pontos percentuais menos em 2020 face ao WEO de outubro), "refletindo o regresso a uma orientação fiscal neutral e ao cada vez menor impulso resultante de uma crescente flexibilização das condições financeiras".
Já na zona euro, o crescimento deverá acelerar de 1,2% em 2019 para 1,3% em 2020 (numa revisão em baixa de 0,1 pontos percentuais) e 1,4% em 2021, tendo em conta as melhorias projetadas para a procura externa.
Quanto ao Japão, é projetado um abrandamento da taxa de crescimento de 1,0% estimado para 2019 para 0,7% em 2020 (0,1 e 0,2 pontos percentuais acima da previsões do relatório de outubro), sendo a revisão em alta para 2019 resultado de "um saudável consumo privado" e a melhoria do prognóstico para 2020 assente no impulso previsto das medidas de estímulo adotadas em dezembro passado.
Para 2021, o FMI prevê que o crescimento da economia nipónica diminua para 0,5% (um nível próximo do potencial), "à medida que se dissipa o impacto do estímulo fiscal".
Quanto ao grupo das economias de mercados emergentes e em vias de desenvolvimento, o FMI antecipa que o crescimento aumente para 4,4% em 2020 e 4,6% em 2021 (menos 0,2 pontos percentuais do que o previsto em outubro para ambos os anos), tendo por base um nível estimado de crescimento de 3,7% em 2019.
"O perfil de crescimento para este grupo reflete uma combinação das recuperações projetadas após profundas desacelerações nas economias de mercados emergentes que viveram tensões e tiveram desempenhos deficientes e a desaceleração estrutural que está a ocorrer na China", lê-se no relatório do FMI.
Para as economias emergentes e em desenvolvimento da Ásia, o FMI prognostica "leves aumentos do crescimento" - de 5,6% em 2019 para 5,8% em 2020 e 5,9% em 2021 (0,2 e 0,3 pontos percentuais menos em 2019 e 2010 face às últimas projeções) -- sobretudo devido a uma revisão em baixa da projeção para a Índia, onde a procura interna desacelerou mais marcadamente do que o previsto, devido a tensões no setor financeiro não bancário e a um menor crescimento do crédito.
Neste país, o crescimento em 2019 deverá situar-se nos 4,8%, melhorando para os 5,8% em 2020 e para os 6,5% em 2021 (1,2 e 0,9 pontos percentuais abaixo do previsto no relatório de outubro), "graças ao estímulo fiscal e monetário e ao nível moderado dos preços do petróleo".
Já na China, o FMI projeta que o crescimento diminua ligeiramente dos 6,1% estimados para 2019 para 6,0% em 2020 e 5,8% em 2021, considerando que "as controvérsias não resolvidas em torno das relações económicas com os EUA e o necessário fortalecimento das regulações financeiras internas continuem a entorpecer a atividade" económica.
No que respeita às economias emergentes e em desenvolvimento da Europa, o crescimento previsto é de 1,8% em 2019 e de cerca de 2,5% em 2020 e 2021, numa revisão em alta de 0,1 pontos percentuais para 2020 face às previsões de outubro.
A melhoria deve-se ao "contínuo e sólido crescimento na Europa central e oriental", a uma "retoma da atividade na Rússia" e à "recuperação em curso na Turquia, à medida que as condições financeiras se tornam menos restritivas".
Na América Latina, o Fundo Monetário Internacional projeta que o crescimento recupere dos 0,1% estimados em 2019 para 1,6% em 2020 e 2,3% em 2021 (0,2 e 0,1 pontos percentuais menos do que o previsto em outubro), penalizado por cortes nas previsões para o México e Chile, parcialmente compensados por uma revisão em alta do prognóstico para 2020 no Brasil.
Quanto ao Médio Oriente e à região da Ásia central, deverão registar um crescimento de 2,8% em 2020 (menos 0,1% do que o anteriormente previsto) e acelerar para 3,2% em 2021, enquanto na África subsaariana se prevê que a economia acelere para uma evolução de 3,5% em 2020-2021 face aos 3,3% de 2019 (menos 0,1 pontos percentuais em 2020 e menos 0,2 pontos percentuais em 2021 do que o projetado em outubro).