"O mundo hoje produz mais riqueza, mais dinheiro. O problema é que essa riqueza continua a ser injustamente distribuída e é daí que resultam as desigualdades, mas simultaneamente também é daí que resultam as potencialidades para que a luta tenha maior afirmação e envolva cada vez mais trabalhadores", disse Arménio Carlos em entrevista à agência Lusa.
De acordo com o sindicalista, atualmente há um sentimento de injustiça no país, em termos globais.
Referiu, a propósito, que continuam a ser transferidas "elevadas quantias de dinheiro da receita do Estado para o setor privado financeiro", quando o Governo resiste a melhorar os serviços públicos e a garantir uma maior coesão social, económica e territorial do país.
Arménio Carlos salientou que o descontentamento dos portugueses está já a fazer sentir-se no início do ano, com as greves e manifestações que estão marcadas para o final do mês de janeiro.
"Ou o Governo e o patronato alteram o seu posicionamento, ou não restará aos trabalhadores outra resposta que não seja afirmar nos locais de trabalho e na rua as suas reivindicações e pela luta procurar atingir os seus objetivos", disse.
Arménio Carlos vai deixar em fevereiro a liderança da CGTP, por motivos de idade, mas assegurou que, independentemente de quem vá estar à frente da central sindical, esta não irá abdicar de defender os trabalhadores e as reivindicações com vista à melhoria das condições de vida e de trabalho e ao desenvolvimento do país.
O aumento generalizado dos salários, o emprego estável e com direitos, a par do combate à precariedade, a redução e a regulação dos horários de trabalho são, segundo Arménio Carlos, as grandes reivindicações que vão marcar a estratégia da CGTP e que vão ser discutidas no seu XIV congresso, que se realiza em 14 e 15 de fevereiro, no Seixal.
O líder da Inter considerou, no entanto, que estas reivindicações só se poderão concretizar se a contratação coletiva for desbloqueada e se o princípio constitucional da liberdade sindical for devidamente respeitado, mas para tal é necessária a intervenção do Governo.
Estes serão "os grandes desafios do movimento sindical, em geral, e da CGTP, em particular, no médio prazo", considerou.
Arménio Carlos defendeu o reforço da CGTP, ao nível da sindicalização e da eleição de delegados sindicais e representantes nas comissões de saúde e segurança no trabalho, para melhor enfrentar os desafios futuros.
"Não há nenhuma organização que se afirme na sociedade se porventura não tiver uma ligação muito forte às raízes", disse, considerando que os trabalhadores é que são os protagonistas do projeto sindical da CGTP.
O sindicalista lembrou que a Intersindical completa este ano 50 anos de existência, durante os quais lutou pela liberdade e pela democracia e pela afirmação dos direitos dos trabalhadores, nomeadamente o direito à greve, à liberdade sindical e à contratação coletiva.