Ginásios reinventam-se perante a pandemia mas antecipam falências

O estado de emergência decretado pelo Governo obrigou os ginásios a fechar portas, mas a maioria mantém-se ativa 'online', onde disponibilizam vídeos, aulas virtuais, planos de treino e procuram fidelizar os sócios retidos em casa.

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Lusa
24/03/2020 12:40 ‧ 24/03/2020 por Lusa

Economia

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Nádia Antunes, diretora do Fitness Hut de Oeiras, diz em entrevista à agência Lusa que, apesar de as instalações da cadeia estarem fechadas, o trabalho tem sido muito, tudo para "manter os sócios ativos".

"Para já, o nosso objetivo é manter os sócios ativos. Essa é a nossa missão, através de vídeos 'online', aulas em direto, planos de treino, tudo o que podem fazer em casa para se manter ativos", resume Nádia Antunes, que explica que todos os 44 clubes da empresa em Portugal dispõem de um plano de treino no Facebook e que vários instrutores fazem 'lives' das aulas.

"Além disso, como temos parceria com a marca LesMills, os sócios conseguem também aceder às aulas tal e qual como faziam quando estavam no ginásio", acrescenta.

Apesar da distância, a responsável afirma que está surpreendida com o 'feedback' dos clientes, que tem sido "muito positivo" e que as pessoas estão até "mais próximas".

"Os sócios têm participado muito e é curioso que no meio desta calamidade sentimos que estamos mais próximos dos sócios e eles mais próximos de nós, pois vamos ter com eles a casa. É um contacto à distância, mas ainda assim muito mais humano", considera.

Com uma grande quota de mercado em Portugal e mais de cem mil sócios ativos de norte a sul, o Fitness Hut decidiu suspender as mensalidades mal encerrou os seus clubes. A crise económica que se pode seguir à crise sanitária preocupa, mas Juan Del Río, CEO do Grupo VivaGym, que detém a cadeia Fitness Hut, promete "não deixar os sócios para trás".

Nádia Antunes, que espera em breve poder voltar a trabalhar nas instalações de um ginásio, acredita que este cenário imprevisto "pode abrir uma janela de oportunidade", lembrando que se estão a encontrar novas formas de trabalhar ao usar a tecnologia para chegar às pessoas.

A mesma estratégia teve Tiago Lousa, proprietário de uma das maiores boxes de crossfit em Portugal, a Alphaden, em Sintra, que, mal percebeu que o encerramento era inevitável, meteu mãos à obra para encontrar soluções para "manter o espírito de comunidade" que se vive no estabelecimento.

"Temos muita gente que além do treino físico tem necessidade de integração e partilhar este sentimento de comunidade. Costumo dizer por brincadeira que vir aqui treinar é a melhor hora do dia para muita gente, não só pelo lado físico, mas pela saúde emocional e psicológica. Por isso, percebemos que era importante lançar os treinos 'online', mas também que as pessoas continuassem a sentir que fazem parte de uma comunidade", explica.

A Alphaden tem cerca de 300 sócios e Tiago Lousa revela que todos os dias cerca de metade dos clientes segue e faz os treinos propostos pelos 'coaches' em aulas virtuais e treinos em vídeo disponibilizados no Facebook e Instagram, onde também há 'lives'.

"É sensivelmente o mesmo número de pessoas que tínhamos diariamente na box, sendo que aqui não estou a contabilizar aqueles que podem estar a fazer, mas não nos deixam 'feedback', nem os familiares e amigos dos nossos sócios que também estão a fazer os treinos", explica Tiago Lousa, que acrescenta que a adesão tem sido tão grande que teve de aumentar a oferta.

"Temos os treinos normais, mas lançámos há poucos dias treinos para pais e filhos, três vezes por semana, porque reparámos que muitos pais estavam a fazer treinos com os filhos e quisemos fazer algo mais apropriado. Além disso há treinadores exclusivamente em teletrabalho a dar 'feedback' e explicações aos nossos atletas, a fazer avaliação dos vídeos, sempre procurando manter a interação", afirma o dono da Alphaden.

Apesar do sucesso deste conceito, Tiago Lousa não esconde a preocupação que a paragem poderá significar para o mercado do 'fitness' em Portugal e, sobre as boxes de 'crossfit', prevendo que as falências são "inevitáveis".

"Em Portugal, a maioria das boxes são microempresas, muitas delas familiares, mal estruturadas e que quanto muito garantem a subsistência do dono e pouco lucro têm. Perante isto, é muito difícil para uma box de 'crossfit' sobreviver ao segundo mês sem mensalidades", lamentou.

O mesmo há de acontecer nos ginásios, acrescentou e, "perante isto, teremos falências, sem dúvida, não há volta a dar. Ou as pessoas têm uma capacidade forte de se reinventar e têm uma comunidade forte que possibilita manter o projeto vivo, ou muitas vão desaparecer".

Na Alphaden, Tiago Lousa garante que está preparado para o impacto e vê mesmo uma oportunidade nesta crise, que pode fazer uma "seleção natural dos melhores".

"A crise gera oportunidade de sobrevivência dos mais fortes. Quem for mais forte vai manter-se. Muitos sítios vão fechar e os melhores vão ter um 'boom' no verão. No entanto, por agora o foco é sobreviver e arranjar novas maneiras de subsistir", resume, revelando ainda que para minimizar as perdas outra oportunidade que está a lançar aos sócios da Alphaden é a de alugarem o material da box para terem em suas casas e poderem continuar a treinar.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 360 mil pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 17.000 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 6.077 mortos em 63.927 casos. Segundo as autoridades italianas, 7.024 dos infetados já estão curados.

Em Portugal, há 23 mortes e 2.060 infeções confirmadas, segundo o balanço feito segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde.

Dos infetados, 201 estão internados, 47 dos quais em unidades de cuidados intensivos.

Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.

Além disso, o Governo declarou dia 17 o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.

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