"Não importa qual nome ou o tipo de instrumento -- seja os 'coronabonds' ou outro semelhante --, mas precisamos de criar um mecanismo para a mutualização da dívida a nível europeu, essa é a escolha certa a fazer", declarou o presidente da assembleia europeia.
Falando aos jornalistas por videoconferência, após ter participado no Conselho Europeu que se realiza esta tarde (também por esta via) para discutir respostas à pandemia, David Sassoli rejeitou que as medidas adotadas tenham em conta "situações antigas".
"O cenário é novo e todos os países serão afetados porque todos vão ter de injetar bastante dinheiro para proteger os seus cidadãos", salientou.
E insistiu: "A única resposta que podemos dar é uma resposta europeia".
Para David Sassoli, "quem acha que pode sair desta crise por si só não está a fazer uma escolha inteligente".
A pandemia de covid-19 colocou inesperadamente na agenda europeia a questão da mutualização da dívida, sendo cada vez mais as vozes a defender a emissão de obrigações pan-europeias, ou 'coronabonds', para amortecer o brutal impacto socioeconómico do novo coronavírus.
Porém, países como a Alemanha e Áustria já vieram rejeitar a ideia.
Atualmente, cada país da zona euro emite títulos de dívida nos mercados de obrigações, com garantias nacionais. Os 'coronabonds' seriam emitidos em nome da União Europeia, o que significa que seriam emissões de dívida partilhadas pelo conjunto dos Estados-membros, protegendo assim os mais frágeis de especulações de mercado e taxas de juro altíssimas.
"São tempos extraordinários, que requerem medidas extraordinárias", argumentou David Sassoli, adiantando que "os instrumentos já existentes são insuficientes" para enfrentar a crise.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro português, António Costa, e oito outros líderes europeus subscreveram uma carta dirigida ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a reclamar a implementação de um instrumento europeu comum de emissão de dívida para enfrentar a crise provocada pela covid-19.
Na carta enviada a Charles Michel, os chefes de Estado e de Governo de Portugal, França, Itália, Espanha, Bélgica, Luxemburgo, Irlanda, Grécia e Eslovénia defendem que, face à gravidade da situação, além das medidas já tomadas, é necessário avançar para "um instrumento comum de dívida, emitida por uma instituição europeia, para angariar fundos no mercado na mesma base e em benefício de todos os Estados-membros".
De acordo com os oito líderes europeus, tal instrumento asseguraria "um financiamento a longo prazo estável para as políticas necessárias para fazer face aos danos causados por esta pandemia", nas mesmas condições para todos os Estados-membros.
No entanto, na reunião do Eurogrupo celebrada na terça-feira à noite, por videoconferência, os ministros das Finanças europeus, sem excluírem a eventual mutualização da dívida, privilegiaram a possibilidade de ativar uma linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).
A ideia, entretanto também transmitida na carta a Charles Michel, passaria por o MEE, o fundo de resgate permanente da zona euro, disponibilizar uma linha de crédito específica para todos os Estados-membros, que poderiam receber imediatamente fundos num montante equivalente a 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para medidas de combate ao novo coronavírus.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou perto de 480 mil pessoas em 182 países e territórios, das quais mais de 22.000 morreram.