A informação do presidente da câmara de Ovar surgiu um dia depois de situar em 150 milhões de euros o valor das mercadorias que as firmas vareiras estavam impedidas de remeter para os seus clientes, uma vez que o controlo fronteiriço imposto ao território só permite a entrada e saída de bens de primeira necessidade.
"Tivemos oportunidade de reunir com as empresas e decidimos, em articulação com a Autoridade Local de Saúde, permitir que as nossas indústrias possam escoar os seus 'stocks'", declara Salvador Malheiro na sua mensagem vídeo à população.
O autarca reconhece que isso "já permite mitigar um pouco os prejuízos" das empresas locais, mas realça: "As indústrias vão ter que continuar a estar encerradas e esta expedição de produto final será feita com critérios muito, muito elevados de sanidade".
Os procedimentos de segurança no transporte dessas mercadorias estão a ser articulados de forma "minuciosamente detalhada" entre empresas e profissionais de Saúde Pública, pelo que o presidente da Câmara acredita que, na circulação desses bens, "a probabilidade de contágio vai ser reduzida a zero".
Pesados os riscos e as vantagens, Salvador Malheiro acredita que a abertura excecional do cerco imposto ao concelho terá um efeito positivo: "Irá permitir que as empresas possam retirar dos seus armazéns cerca de 150 milhões de euros que serão fundamentais depois, quando precisarmos de reerguer a nossa economia".
Quanto à situação de contágio por covid-19 no território, o autarca contabiliza 137 casos de infeção, dois óbitos e cinco recuperações entre uma população na ordem dos 55.400 habitantes, distribuídos por cerca de 148 quilómetros quadrados.
Outro aspeto positivo é que chegaram reforços para o trabalho em curso nos diversos equipamentos de saúde locais e nas novas instalações criadas especificamente para combate à doença (como é o caso de um centro de rastreio, uma unidade de internamento intermédio no Hospital de Ovar e outra para casos ligeiros na Pousada da Juventude de Ovar).
Em causa está, por um lado, o envio de 1.000 zaragatoas para o Hospital de Ovar, o que permitirá "aumentar bastante o ritmo de testes" para deteção da Covid-19, e, por outro, o compromisso do Instituto Ricardo Jorge de realizar 90 exames de diagnóstico por dia, em paralelo ao trabalho desenvolvido por outros laboratórios, como os da rede Unilabs.
O novo coronavírus responsável pela pandemia de Covid-19 foi detetado em dezembro na China e já infetou mais de 505.000 pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 23.000 morreram.
O continente europeu é atualmente o que regista maior número de novos casos, 275.000, sendo Itália o país com mais vítimas mortais em todo o mundo. Contabiliza 8.165 mortos em 80.539 diagnósticos positivos.
Os países mais afetados depois de Itália e China são: Espanha, com 4.089 óbitos em 56.188 infeções; Irão, com 2.234 mortes entre 29.406 casos; França, com 1.696 vítimas mortais em 29.155 diagnosticados; e os Estados Unidos, com 1.178 mortes em 81.321 infetados.
O continente africano já regista 87 mortes por Covid-19, ultrapassando os 3.200 infetados em 46 países.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde indicou hoje que o surto de Covid-19 já provocou 60 mortes e 3.544 infetados. Nesse universo de doentes, 191 estão internados, 61 dos quais em cuidados intensivos. Há ainda 43 cidadãos que já recuperaram da doença.
Dada a evolução da pandemia, a 17 de março o Governo declarou o estado de calamidade pública em Ovar, concelho de 148 quilómetros quadrados com cerca de 55.400 habitantes.
Desde as 00h00 do dia 19, todo o país se encontra em estado de emergência, o que vigorará até às 23h59 do dia 2 de abril.