Ex-PM finlandês diz que iria "com tudo" demonstrar solidariedade na UE
O antigo primeiro-ministro finlandês Alexander Stubb disse hoje, numa teleconferência organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que se estivesse no Governo iria "com tudo" demonstrar solidariedade europeia no combate à pandemia de covid-19.
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Economia Covid-19
"É fácil para mim dizer, agora que já não estou no Governo, mas acho que iria com tudo ['the full monty']. Noutras palavras, usaria a linguagem de maior solidariedade que já se ouviu num ministro das Finanças finlandês em muito, muito tempo", disse Alexander Stubb, primeiro-ministro finlandês entre 2014 e 2015 e posteriormente ministro das Finanças (2015-2016).
Falando a partir do seu país natal, o antigo governante de centro-direita argumentou que a crise atual, proveniente dos efeitos da pandemia de covid-19, "é tão diferente da crise financeira", dado que anteriormente "justamente ou não, havia a possibilidade de dizer [aos países] 'não fizeram aquilo de forma correta', em termos de política económica".
"Podia sempre usar-se esse argumento, especialmente quando se tinha de 'vender' essa ideia aos contribuintes domésticos. Não se esqueçam que eu estava no governo com o Partido dos Verdadeiros Finlandeses [populista, de extrema-direita] quando era ministro das Finanças", tendo um mandato negocial estreito, lembrou o também antigo vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI).
Alexander Stubb disse que se fosse hoje governante iria "surpreender toda a gente" e dizer, como ministro das Finanças, que "a Finlândia está convosco [países da UE]", e que ajudaria "custasse o que custasse".
O antigo governante finlandês antecipou que na reunião do Eurogrupo (grupo informal de ministros das Finanças da zona euro), "qualquer governo vai ter de simplesmente fazer isso".
A Finlândia, juntamente com a Áustria, Alemanha e Holanda, tem sido dos países que se tem oposto à mutualização da emissão de dívida à escala da zona euro, através de títulos conhecidos como 'coronabonds', para financiar as despesas com a crise económica causada pela pandemia de covid-19.
Na mesma teleconferência, o economista português Ricardo Reis afirmou que é necessário desmistificar "o mito de que desde que Christine Lagarde [presidente do Banco Central Europeu] faça o mesmo que Mario Draghi [seu antecessor], todos os problemas estarão resolvidos".
O professor da London School of Economics (LSE) considerou ainda que, com a restrição ao pagamento de dividendos dos bancos, o BCE "esteve à frente" da Reserva Federal dos Estados Unidos, mas alertou que o uso de liquidez e o pagamento de moratórias "coloca uma pressão enorme no setor bancário".
Ricardo Reis considerou ainda ser "muito fácil adivinhar que o rácio da dívida pública face ao PIB vai aumentar, no final do ano, algo como de 10% a 25%" na maior parte dos países europeus.
O também economista Ricardo Alexandre propôs um mecanismo de monitorização da cadeia de produção baseado em dados, algo que reconhece ser "um pouco intrusivo, e implicar muita coordenação".
"Temos que assegurar que o abastecimento de certos produtos não é interrompido", referiu, considerando também que tal sistema poderia ser importante "para lidar com a recuperação".
Por outro lado, o professor David Levine, do Instituto Universitário Europeu, defendeu que "as cadeias de produção nunca foram organizadas pelo Estado", pelo que não devem ter essa interferência, e considerou que as indústrias do turismo e da hospitalidade "não vão recuperar muito rapidamente".
"Vai demorar algum tempo, inclusivamente para as companhias aéreas na Europa. O mercado de trabalho é muito rígido, vai demorar", considerou.
Já a professora da Nova SBE Susana Peralta concentrou a sua análise nas medidas implementadas em Portugal para combater a crise económica, considerando-as "muito longe do modelo" que defende.
Susana Peralta afirmou que "a Segurança Social tende a ser lenta" na disponibilização das ajudas, e referiu que o programa português "não é ambicioso o suficiente", penalizando, por exemplo, os trabalhadores independentes, que se não tiverem filhos só recebem apoio caso haja uma quebra total de atividade.
"E não há nada para os trabalhadores informais. Há muita informalidade, e não há como chegar a estes trabalhadores. Há muitos buracos", considerou a economista.
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