"Estamos a agir perante a crise como quem joga sem ter lido as regras"

O ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo fez, esta segunda-feira, em entrevista na TVI, uma análise sobre o impacto da pandemia Covid-19 na economia, em Portugal e na Europa.

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Sérgio Abrantes
13/04/2020 21:28 ‧ 13/04/2020 por Sérgio Abrantes

Economia

Mário Centeno

Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, em entrevista à TVI, no 'Jornal das 8', abordou o período económico vivido pela Europa e por Portugal durante a presente pandemia de novo coronavírus.

Numa conversa com os jornalistas da estação de Queluz, Centeno acedeu que foi preciso conciliar posições divergentes, nomeadamente da Holanda, assumindo que muitos dos políticos a nível europeu trabalham para o seu eleitorado interno, não em prol da Europa.

"Jornais holandeses a dizer vitória? Tenho a ideia de que somos todos vencedores deste projeto europeu e que a decisão que tomámos a semana passada foi um dos momentos em que acumulámos mais capital em prol desse projeto europeu", começou por referir, a propósito do pacote de 500 mil milhões de euros aprovado a passada semana pelo Eurogrupo.

"Quando terminei a reunião, no início das conclusões, falando para os meus 26 colegas, comecei com a seguinte frase: 'Este não é o fim da linha, temos mais para fazer pela Europa e vamos fazer mais pela Europa'", revelou Mário Centeno, alertando para o facto de a Europa ser um conjunto de "democracias maduras" em que as decisões "interagem muitas vezes com política interna e poucas vezes com política europeia".

Estamos a agir perante esta crise como quem joga um jogo sem ter lido as regras. Tudo isto é novo (Mário Centeno)Ainda assim, afirmou, "foi uma vitória da Europa". Lembrando que a política europeia é muito dominada pelas questões nacionais, e comparando mesmo a situação com a crise de 2008, o ministro português não teve dúvidas em dizer que se "em 2008 levamos muito tempo para reagir e as primeiras e segundas respostas não foram as melhores" e, sublinhou, "essa crise foi pré-anunciada". Mas, "desta vez, em apenas 10 dias, conseguimos um quadro financeiro de liquidez". 

Contemplando depois, em concreto, sobre o que foi aprovado pelo Eurogrupo, Centeno explicou que esta é uma espécie de "rede de segurança" que visa proteger os Estados de uma hecatombe financeira imediata causada pelo novo coronavírus e o seu impacto nas economias nacionais. 

"Estamos a falar de redes segurança, ou seja: quando eu compro um seguro, eu posso ter alguma expetativa de o usar ou não. O que estamos aqui a criar, são garantias para que os países europeus possam, no imediato, porque é disso que estamos a falar, dar respostas a esta crise. Estamos a agir perante esta crise como quem joga um jogo sem ter lido as regras. Tudo isto é novo. Não há nenhum texto, análise, ao longo dos séculos, que nos diga como devemos reagir. Esta resposta foi muito corajosa para responder ao hoje, para que não haja fragmentação", defendeu, comentando depois a postura do ministro das Finanças holandês, defendendo que não se deve particularizar esta questão.

Estamos a sofrer um choque de escala absolutamente inimaginável (Mário Centeno)"Estamos a fulanizar demasiado esta discussão. Na verdade, a Holanda, nesta negociação, foi o último país a juntar-se a estas três medidas. Foi o mais reticente. Mas não gostaria de fulanizar, porque estamos a discutir temas da política interna holandesa. Em grande medida é disso que se trata. A parte que devemos lamentar é que isso tenha tradução europeia", continuou a explicar, lembrando que a reunião não poderia ser adiada para lá do dia em que foi terminada.

"Estamos numa situação de emergência, numa situação em que as velhas lutas entre aqueles de quem preservam o risco moral de quem se possa ter desviado de um trajeto de crescimento sustentável se possa aplicar, nada disso se aplica hoje em dia", reiterou Centeno.

"Vamos ver os gráficos daqui a três, quatro ou cinco meses, quando soubermos a estimativa do Produto Interno Bruto para o segundo trimestre e percebermos que nada disto tem comparação com qualquer coisa que tenhamos vivido. A economia está quase parada", reconheceu o ministro das Finanças português. 

Falando depois sobre o pagamento das dívidas agora contraídas, Mário Centeno exemplificou que muitas das questões económicas de futuro podem não ser equacionáveis no curto prazo. "Vamos ter de continuar a tratar de várias questões que podem não se colocar no curto prazo. Neste momento, o que tínhamos de garantir era que todos os países tinham capacidade financeira para responder de forma igual aos desafios que se nos colocam. É o que este pacote visa concretizar, com muito dinheiro à escala europeia", insistiu o ministro. 

"Sabemos qual é a posição do Governo português [sobre quem pagará esta dívida]. (...) A questão da dívida é absolutamente crucial, como é evidente", admite, assumindo vivemos "uma emergência e os ministros das finanças simplesmente pararem", assegurando que os valores máximos postos em cima da mesa, para este pacote, foram aprovados.

[Notícia atualizada às 21h28]

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