"No que toca às previsões económicas, esperamos uma recessão severa este ano em todos os Estados-membros da União Europeia [UE], e a magnitude dessa recessão está em linha com as recentes previsões do Fundo Monetário Internacional [FMI], que apontam para 7,5%" na zona euro, disse em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o vice-presidente do executivo comunitário responsável pela pasta de "Uma Economia ao Serviço das Pessoas", Valdis Dombrovskis.
Numa alusão às estimativas divulgadas em meados de abril pelo FMI, que apontam para uma recessão de 7,5% na zona euro e de 7,1% no conjunto da UE, o responsável reforçou que a Comissão Europeia prevê "uma recessão severa este ano, seguida por uma substancial recuperação no próximo ano", estimativas que estarão refletidas nas previsões económicas da primavera de Bruxelas, a serem publicadas na próxima quinta-feira.
"Claro que isso depende de certos cenários [...] porque a retoma económica vai mesmo depender de como as medidas de confinamento forem levantadas", ressalvou Valdis Dombrovskis, frisando que, "assim que haja uma contenção a nível epidemiológico e as medidas começarem a ser retiradas, é de esperar uma recuperação europeia bastante forte".
Apesar de argumentar que "há que ter em conta diferentes possibilidades sobre como é que a situação epidemiológica vai evoluir", o vice-presidente do executivo comunitário notou que existe um "cenário de referência" sobre o impacto da covid-19 nas contas dos Estados-membros.
"Assistimos a um choque económico acentuado, mas é relativamente simétrico", destacou.
Já questionado pela Lusa sobre as consequências da pandemia no desemprego, Valdis Dombrovskis admitiu "um aumento substancial" desta taxa em 2020, após ter atingido níveis mínimos na zona euro e na UE.
"Esta é uma situação sem precedentes e há medidas restritivas em toda a UE e em todo o mundo, pelo que o pico no desemprego é já uma realidade", referiu o vice-presidente da Comissão Europeia.
Valdis Dombrovskis defendeu, por isso, ser "necessário minimizar" esta subida no desemprego, recordando as medidas já adotadas pela Comissão Europeia para esse fim, como o programa «Sure» (que visa salvaguardar postos de trabalho através de esquemas de desemprego temporário), bem como as operações de emergência para garantir liquidez aplicadas pelo Banco Central Europeu (BCE).
Segundo os números divulgados pelo FMI em meados de abril, depois de um crescimento de 1,1% em 2019, o PIB da zona euro, composto pelos 19 países da UE que usam a moeda única, deverá recuar 7,5% em 2020, crescendo 4,7% em 2021.
Com os efeitos económicos da pandemia de covid-19, o desemprego na área do euro deverá subir para os 10,4%, de acordo com as projeções do FMI, acima dos 7,6% registados no ano passado.
No seu todo, a economia UE (composta por 27 países), deverá contrair-se em 7,1% em 2020, depois de um crescimento de 1,7% em 2019.
Dias depois da divulgação destas previsões, a presidente do BCE, Christine Lagarde, advertiu os chefes de Estado e de Governo da UE, reunidos em cimeira, que a recessão na zona euro pode ser ainda pior, atingindo no pior cenário o dobro do valor antecipado pelo FMI, ou seja, 15%, designadamente se a resposta europeia não for apropriada.